Escritos
B. Piropo
Anteriores:
< Trilha Zero >
Volte de onde veio
04/04/94

< Escolhendo Micros >
< Parte VII: Placas de Vídeo >


Agora vamos selecionar a placa controladora de vídeo adequada ao monitor. Isso porque placa e monitor são itens interdependentes, já que é a placa que gera a imagem que será exibida no monitor. De pouco adianta comprar um monitor capaz de altíssima resolução e ligá-lo a uma placa VGA simples, que não pode gerar imagens em resoluções superiores a 640x480. Assim, o primeiro cuidado ao escolher a placa é verificar se ela é capaz de gerar imagens na máxima resolução desejada para o monitor e se suporta a freqüência vertical na qual o monitor deve operar naquela resolução. Esses dados constam do manual da placa e são tão importantes que geralmente estão nas primeiras páginas. Portanto, não se contente em saber que a placa "é SVGA": verifique, no manual, as freqüências que ela é capaz de gerar e as resoluções que suporta e compare-as com as que o monitor exige para a resolução pretendida.

Em seguida, escolhe-se o tamanho e o tipo da memória de vídeo, que armazena as imagens exibidas na tela. O tipo tem a ver com a rapidez com que a imagem é gravada. A memória de vídeo se localiza na própria placa de vídeo e pode usar chips de dois tipos: DRAM, ou RAM dinâmica (essencialmente iguais aos que compõem a memória RAM de algumas máquinas) e VRAM, ou Video RAM. Deixando de lado os detalhes técnicos, a diferença básica é que os últimos são muito mais rápidos. E, portanto, muito mais caros. Se rapidez for essencial, escolha a memória VRAM. Mas só se for essencial mesmo: o custo pode não valer o benefício e há outras formas de acelerar vídeo, como veremos adiante.

O ponto crucial na seleção da placa de vídeo é o tamanho da memória de vídeo, pois dele dependem as características básicas do vídeo: máxima resolução e número de cores exibidas simultaneamente. É fácil entender porque: uma imagem VGA simples é formada por 480 linhas de 640 pontos, portanto por 307.200 pontos, o produto de 480 por 640. Para que possam assumir dezesseis cores diferentes, deve-se reservar quatro bits de memória de vídeo para cada ponto (o maior número que "cabe" em quatro bits é 15, logo, contando com o zero, podem armazenar dezesseis valores distintos). Uma tela VGA de 16 cores exige então 1.228.800 bits para ser armazenada, ou seja, 150K bytes, pois um byte contém oito bits. Já para exibir 256 cores simultaneamente precisa-se de um byte para cada pixel (o maior valor que "cabe" em um byte é 255). E são então necessários 300K para armazenar uma tela VGA de 256 cores.

Há placas de vídeo com 256K, 512K, 1Mb e 2Mb de memória de vídeo. Para selecioná-las, basta fazer um cálculo simples: determina-se a memória necessária multiplicando o número de pixels da tela na máxima resolução desejada pelo número de bytes necessários para armazenar o número de cores pretendido naquela resolução. Os padrões de resolução são 640x480, 800x600, 1024x768, 1280x1024 e 1600x1280 pixels. Para calcular o número de pixels da tela, basta multiplicar esses dois valores. Para armazenar as cores, necessita-se de 4 bits (ou "meio byte") por pixel para 16 cores, um byte para 256 cores, dois bytes para 65536 cores (ou 64K cores) e três bytes para 16,7 milhões de cores (ou 16M cores, nas caríssimas placas "true color", ou "placas de 24 bits"). Um exemplo: suponha que se deseja exibir 64K cores em uma resolução de 800x600 pixels. Na tela há 480.000 pixels e serão necessários dois bytes por pixel para armazenar as cores, o que resulta em 960.000 bytes, que não "cabem" em uma placa de 512K. Portanto precisa-se de uma placa com 1Mb de memória de vídeo. Nessa mesma placa, alterando a resolução para 1024x768, há que se contentar com 256 cores simultâneas (faça as contas). E em resoluções de 1280x1024, com uma placa de 1Mb somente pode-se contemplar dezesseis cores.

Resta um ponto a discutir: a rapidez com que a imagem é "desenhada" na tela. Que depende, como vimos, do tipo de memória de vídeo. Mas não somente. Como você lembra, a imagem é gravada na memória de vídeo pixel a pixel. O que pode ser feito de duas formas: pela própria CPU, conforme as instruções do programa (ou interface gráfica) que gera a tela, ou por um processador auxiliar.

No primeiro caso, após a CPU laboriosamente compor a imagem, ela é gravada na memória de vídeo. Que fica na placa de vídeo. Portanto, as informações são enviadas pixel a pixel da CPU para a placa através do barramento. Lembra-se de quando discutimos barramentos? Se a placa mãe usa o lento barramento ISA, por mais rápida que seja a CPU, as telas renovam-se com uma lentidão irritante, já que o barramento age como um "gargalo" atrasando o processo (para renovar uma tela SVGA de 800x600 em 256 cores, mais de 468K bytes trafegam pelo barramento). Logo, uma das formas de acelerar o vídeo é escolher uma placa mãe com pelo menos dois slots local bus, seja VESA ou PCI. Um deles é para a placa de vídeo. Que deve ser, ça va sens dire, compatível com o barramento.

Mas há outra forma de gerar a imagem: a CPU, ao invés de gravá-la pixel a pixel na memória de vídeo, manda apenas algumas informações básicas sobre formas e cores para um processador auxiliar, localizado na própria placa de vídeo, que se encarrega do trabalho braçal de compor a imagem. Essas informações são poucas e geradas muito rapidamente pela CPU. Por serem geradas rapidamente, a CPU é logo liberada para tarefas mais nobres. Por serem poucas, transitam rapidamente mesmo pelo lento barramento ISA. Como o processador auxiliar é especializado em "desenhar" imagens e se localiza na placa, junto à memória de vídeo, as imagens são processadas rapidamente e quase imediatamente gravadas na memória. O resultado são imagens quase instantâneas. Essas placas denominam-se "placas aceleradoras de vídeo". Quer ver a diferença? Carregue um texto longo em um editor de textos para Windows e tecle PgDn para renovar a tela. Faça isso em duas máquinas, uma com placa aceleradora de vídeo e outra não, e compare. A diferença é brutal. Estas placas podem acelerar a regeneração da tela mais de dez vezes. Evidentemente sempre se pode juntar o melhor dos dois mundos: placas aceleradoras de vídeo que usam barramento local. Mas nesse caso os ganhos, infelizmente, não se somam. Mas os custos sim. Por isso, recomendo um dos dois. Mas, se pretende usar uma interface gráfica como Windows ou OS/2, não prescinda de pelo menos um deles: ou placa aceleradora, ou barramento local.

Só mais um ponto: ao escolher a placa, principalmente se for aceleradora, verifique se ela vem com um disquete contendo os drivers para a interface e principais programas que você pretende usar. Nada mais frustrante que instalar uma cara placa aceleradora de alta resolução e ter que usá-la como VGA simples por falta de drivers...

B. Piropo