Escritos
B. Piropo
Anteriores:
< Trilha Zero >
Volte de onde veio
10/01/94

< Pode,Não Pode >


Hoje, ao deixar D. Eulina em casa após o almoço comemorativo de seu aniversário, o sol na banca de revista, além de me encher de alegria a vista, chamou-me a atenção para uma capa multicolorida. Revista de moda, creio eu. Lá estava, em destaque: "Dos and Don'ts". Coisas que se pode e que não se pode fazer. Regras de conduta. Sobre o que não me perguntem, que não sei: de longe, não deu pra ler. Porém, sem dúvida, regras de conduta. Então, pensei, já que o ano ainda é uma criança, por que não estabelecer "Dos and Don'ts" para nós, micreiros? Nada de muito rigoroso, que micreiro é por definição raça rebelde. Regras gerais, elásticas, que todo micreiro de bom tom deve procurar cumprir. Então vamos nessa, na base do "Pode" ou "Não pode", que esse negócio de "Dos and Don'ts" não é conosco. Quando se tem um problema bem cabeludo, que nem manual dá jeito e que se precisa resolver para manter a máquina funcionando e a sanidade mental preservada, telefonar para aquele amigo "que entende de micro" depois que se tentou tudo que estava a nosso alcance em busca de uma solução e expor a dificuldade de forma sucinta, sem entrar em detalhes que nada têm a ver com o problema, restringindo-se apenas ao essencial, pode. Mas ligar para o cara às três da manhã para perguntar como é mesmo que se formata um disquete de baixa em um drive de alta, não pode. Em festas ou reuniões sociais não freqüentadas exclusivamente por micreiros irremediavelmente viciados, comentar que o micro não somente é uma instigante e poderosa ferramenta de trabalho como também abre nossos horizontes para um excitante e maravilhoso universo de lazer e tem possibilidades infinitas na área educacional sobretudo depois do advento da multimídia, mudando educadamente de assunto ao perceber que a atenção dos convivas se dispersou, pode. Mas monopolizar a conversa explicando em detalhes como e porque a multitarefa preemptiva do OS/2 é superior à multitarefa cooperativa de Windows enquanto todos em volta bocejam descaradamente, não pode. Em casa alheia, caso solicitado, examinar o Config.Sys e Autoexec.Bat do micro, sugerir modificações que possivelmente virão a melhorar o desempenho e, se instado a tal, depois de fazer cópias de segurança dos arquivos de configuração originais e verificar se existe à mão um disquete de boot funcional, implementá-las, pode. Mas examinar os arquivos sem ser solicitado, dizer "Cara, se um gato cheirar sua configuração, enterra", mudar tudo na marra e travar irremediavelmente a máquina do ex-amigo, não pode. Interferir em mensagens públicas de BBS dando opiniões não solicitadas, fazer brincadeiras sobre frases que podem ser interpretadas de forma não prevista pelo autor, entrar em discussões sem ser convidado, em suma, meter o bedelho onde não se é chamado, por incrível que possa parecer, não somente pode como também faz parte do próprio espírito dos BBS. Mas insistir em brincadeiras sem graça que não estão agradando e envergonhar os colegas corrigindo sua ortografia, não pode. Copiar aquele programinha novo que parece sensacional, levar para casa, instalar, experimentar pelo tempo necessário e suficiente para formar uma opinião sobre ele, desinstalar se não gostar ou comprar o programa caso se decida a continuar usando, pode. Mas mantê-lo em uso na máquina sem comprá-lo, particularmente se utilizado para fins profissionais, decididamente não pode. Discutir com amigos e conhecidos a superioridade de seu editor de textos predileto sobre o que eles usam, argumentando se possível de forma não passional, de preferência citando as funções e características mais úteis que o seu tem e o deles não, respeitando sua opinião caso não consiga convencê-los e procurando ajudá-los na difícil adaptação a um novo programa caso consiga, pode. Mas dizer "Cara, não sei como você consegue continuar usando uma porcaria dessas em pleno século vinte" e remover à força o diretório do programa da máquina da vítima, não pode. Incidentalmente: essa regra se aplica igualmente a planilhas, bancos de dados, programas de comunicação e, sobretudo e principalmente, Windows e OS/2. Defender a necessidade de fazer um upgrade para máquina mais poderosa, preferencialmente de 32 bits, usando como argumento o fato de que os modernos sistemas operacionais e interfaces gráficas foram desenvolvidos para elas e exigem seu uso e lembrando que tais sistemas e interfaces brevemente dominarão o mercado de tal forma que todos os novos programas serão feitos apenas para eles e quem se mantiver amarrado a uma máquina obsoleta estará fadado à estagnação e não poderá desfrutar dos progressos da tecnologia da informática pessoal, pode. Mas humilhar os amigos, fazendo-os se sentirem um lixo porque têm apenas um 286 e coagir um pobre coitado que só usa o micro para eventuais edições de texto a comprar um 486 DX2/66 com monitor SVGA em cores, CD-ROM, placa de som, fita streamer e scanner de mesa, não pode. Ao entrar em ambiente no qual um micro está sendo usado, sentar-se à distância adequada e de preferência em posição da qual não se possa ver o monitor, só examinar a tela caso solicitado, abster-se de desviar a atenção do usuário e esperar educadamente que ele interrompa seja lá o que estiver fazendo para nos dar atenção, pode. Mas espiar por cima do ombro do infeliz para ler o que está na tela e dar palpite sobre o que o pobre coitado está fazendo sem ser solicitado, não pode.

E, last but not least, criar o hábito agradável e salutar de ler semanalmente este Caderno de Informática, evidentemente, pode.

PS: Amanhã, dia onze, 19 hs, no Centro de Informática do Exército, na Praça Duque de Caxias (prédio do antigo ministério do Exército) será realizada a reunião de janeiro do Grupo de Usuários do OS/2. A reunião é aberta ao público e não é necessária inscrição prévia. Apareça.

B. Piropo