Escritos
B. Piropo
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06/12/1993

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Via HotLine, recebi uma mensagem do colega de BBS José Pedroza. A quem agradeço os elogios com que abre a mensagem, retribuo, pela equipe, as lembranças com que a fecha, e transcrevo o trecho:

"Na Trilha Zero você citou o fusquinha dos CD-ROM, o Mitsumi. Dê mais informações sobre ele. Preço, fabricante, onde comprar, se vem ou não com controladora, compatibilidade (o que pode ser rodado a partir dele. Uma enciclopédia, pode?), etc. Nem todos podem comprar um Toshiba 3401, e neste caso quanto mais informações tivermos sobre o Mitsumi, mais aumenta a nossa chance de podermos instalar um". Então, vamos lá.

Mas antes, algo que parece nada ter a ver com o assunto: a versão 3 do editor de textos CartaCerta é protegida contra cópia. O procedimento de instalação grava informações no disco rígido e o programa só é carregado após consultá-las. Estas informações podem ser apagadas ou corrompidas acidentalmente. Nesse caso, é um direito do usuário poder instalar novamente o programa. Pois bem: soube que a Convergente cobra o equivalente a US$30 para gravar novo direito de instalação. Note que não há custos. Nem o do disquete, já que a gravação é feita no disquete original, que tem que ser apresentado pelo usuário. Talvez - não tenho certeza essa prática seja legal. Porém tenho certeza que representa no mínimo uma falta de respeito com o usuário. Mas, enfim, cada empresa trata o freguês como acha que ele merece.

Agora, ao Mitsumi. É um bom drive. Não chega a ser um portento, mas alcança uma taxa de transferência de 150 Kb/s, suficiente para a maioria dos aplicativos. Até mesmo as animações são satisfatórias, se você não for exigente demais. E é somente nelas que se nota alguma diferença quando comparado, por exemplo, ao Toshiba 3401. No mais, tudo o que se percebe é demora (pouca) quando se transfere um arquivo demasiadamente grande. E o Mitsumi roda tudo que pode ser rodado em um Toshiba, exceto sessões múltiplas de foto-CD - o que, enfim, não é tão grave, já que isso ainda não é comum nem mesmo nos EUA e creio que ainda vai demorar até chegar por aqui. Eu mesmo o usei por mais de seis meses e nunca deixei de rodar aplicativo algum. Inclusive enciclopédias, naturalmente. Podia consultar o Bookshelf da Microsoft, por exemplo, mesmo dentro do Word for Windows rodando em uma sessão Windows sob OS/2.

Ele vem com uma controladora, sim. Uma placa proprietária que pode ser espetada em qualquer slot de oito bits e funciona muito bem. E pode ser ligado à uma placa de som através de um cabo que é fornecido com ele. Para ligá-lo à SoundBlaster, basta inverter as ligações, que não são padronizadas (as do Toshiba também tiveram que ser trocadas), e você pode até ouvir seus discos laser fonográficos através das caixas de som do micro.

Considerando-se tudo isso, o preço é uma pechincha: há seis meses, paguei exatos duzentos dólares por ele nos EUA, mas hoje já pode ser encontrado por menos. Aqui, não sei por quantas anda, mas não deve ser nenhuma fortuna. E, como cabe perfeitamente na cota, pode ser comprado lá e trazido para cá sem problemas.

Foi o que fiz. Quando o usava sob DOS e Windows, não tinha queixa alguma. Mas sob OS/2, a coisa complicava: nem a Mitsumi nem a IBM haviam ainda desenvolvido um driver para ele (hoje, segundo soube, o problema foi superado e consta que a IBM já o fez). Havia um driver shareware, mas com ele tudo ficava um pouco lento demais sob OS//2. Por isso - e somente por isso - decidi-me a trocá-lo pelo Toshiba. Se o novo driver já estivesse disponível há dois meses, provavelmente teria ficado com meu Mitsumi.

Mas não fiquei. Encomendei um Toshiba e repassei o bom Mitsumi para meu filho. Que perdeu a placa controladora (não me perguntem como, mas ele conseguiu). Placa essa que, sendo proprietária, só serve para controlar o Mitsumi - que por sua vez só funciona com ela. Então, não teve jeito: achei, no manual, o telefone do representante e liguei para encomendar outra placa.

O representante é a Point Group Corporation. Fica em 2480 Cleveland Ave., MN, 55113, o telefone é 628-0471 e o Fax 628-9863 (o DDD é o mesmo: 001-612). Liguei e fui atendido por um cavalheiro no sentido lato, Mr Terry Hammes. Expliquei a situação, disse que precisava de uma nova placa. Que mandaria em seguida um Fax detalhando o modelo de meu drive, data e local da compra e número da nota e registro. Perguntei quanto me custaria a placa e a remessa e se ele poderia debitar de meu cartão de crédito.

Não me identifiquei como colaborador deste caderno, e não tenho a ilusão de imaginar que B Piropo seja uma celebridade internacional. E, mesmo que fosse, Mr. Terry não poderia saber de quem se tratava, já que dei meu primeiro nome, aquele do "B". Portanto, Mr. Terry estava tratando com um consumidor qualquer de seu produto. E com o respeito que qualquer consumidor merece de sua empresa. Que, para quem vive num país onde é quase regra geral se aproveitar de uma situação como essa, beira o inacreditável.

Vejam lá: eu tinha o drive mas não tinha a placa. Sem placa, o drive nada vale. Se Mr. Terry tivesse me cobrado, digamos, oitenta por cento do preço do drive, pela placa ainda seria negócio. Mas não: disse-me ele que era desnecessário enviar o número de meu cartão de crédito pois a placa nada me custaria. E as despesas postais, Mr. Terry, poderia eu ao menos pagar por elas? Não era preciso: era uma cortesia para um consumidor brasileiro.

Dez dias depois chegou a placa. Via aérea internacional. De graça. Acompanhada de uma amabilíssima carta de Mr. Terry.

Como eu disse lá em cima: cada empresa trata o freguês como acha que ele merece.

B. Piropo