Escritos
B. Piropo
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29/11/1993

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Lembram da coluna sobre backup de duas semanas atrás? Quando a terminei, achei que estava tudo ali. Mas faltou abordar um ponto importante, como logo notou mestre Mario Jorge Dourado, programador exímio e micreiro espertíssimo que me honra com sua amizade.

Em um mundo onde já não há cavalheiros como antigamente, Mário Dourado é um dos poucos que restaram. E, em assim sendo, ao invés de simplesmente comentar que havia uma lacuna, resolveu ajudar-me a preenchê-la. E mandou um texto, via CentroIn, com aquilo que achava que deveria ter sido dito e não foi: que backup é essencial, sim, mas não é nenhum bicho de sete cabeças. E que há formas alternativas e (quase) indolores de manter os dados em segurança sem precisar investir uma nota preta em equipamento ou perder horas enfiando disquetes no micro.

Acontece que mestre Dourado, além de saber das coisas, tem um texto leve e agradável. Assim sendo, porque reescrever o que já está dito com propriedade? Então aí vai ele para vocês, quase na íntegra:

"Não faz muito tempo, o mestre Piropo abordou o problema da falibilidade dos discos rígidos, lembrando que, ao contrário do que muita gente pensa, nossos dados ali gravados não estão tão seguros assim. É verdade. Eu próprio tive conhecimento de dois casos recentes: um executivo que perdeu todos os seus memorandos, planilhas e documentos do micro do escritório por falecimento do disco rígido e o dono de uma pequena editora que perdeu cerca de 3 meses de textos que sua equipe vinha digitando diariamente, impiedosamente apagados por um Michelangelo traiçoeiro que veio com um inocente joguinho pirata. Nos dois casos, não havia backup. Tudo perdido, a menos de uma ou outra planilha ou texto impresso para contar a história.

"Venho observando que as pessoas sabem da necessidade do backup, mas se assustam com o tempo e custo necessários. Fica a impressão que o backup é obrigatoriamente uma operação longa, que requer dezenas de disquetes. Ou que exige investimento em hardware, tipo fita streamer, para ser feito de forma menos dolorosa. Para estas pessoas, o backup parece uma operação muito especial, algo que admiram, sabem que é importante, mas se sentem condenados a correr os riscos de não fazê-lo por falta de tempo ou dinheiro.

"Negativo. É claro que para se fazer um backup realmente decente, que permita uma recuperação simples e rápida de todo o disco rígido, é necessário ou uma unidade de fita streamer ou a paciência e tempo para gravar dezenas e dezenas de disquetes. Mas a alternativa não é, absolutamente, ficar a descoberto. Do mesmo modo que existem várias modalidades de seguro, com prêmios diferenciados conforme a cobertura e abrangência, existem algumas alternativas rápidas e baratas ao backup completo. Alternativas que, se não evitam a dor de cabeça de reinstalar e reconfigurar os programas, pelo menos evitam a tragédia de perder dados importantes de uma hora para outra.

"Uma delas é usar as facilidades de seleção de arquivos e diretórios dos novos softwares de backup, como o Msbackup do DOS 6.0. Não disponho de uma estatística, mas calculo que pelo menos noventa porcento do espaço em disco de um usuário médio seja ocupado por arquivos que eu chamaria de "públicos", como os do DOS, Windows, utilitários, processador de textos, software de planilha e outros. Arquivos que são recuperáveis de alguma forma. Se o usuário adquiriu os programas, os disquetes originais estarão na prateleira, prontos para serem reinstalados. Se usa "clones de domínio público", pode conseguir novamente a cópia com os amigos - se não a tiver ele próprio. Reinstalar tomará algum tempo - como a franquia a ser paga em caso de acidente quando se opta por um seguro mais barato.

"Os arquivos de dados exclusivos de cada usuário, como planilhas, textos e demais documentos pessoais, em geral ocupam menos de dez porcento do disco rígido. E são os mais importantes, aqueles que uma vez perdidos, são irrecuperáveis. Normalmente são arquivos armazenados em diretórios facilmente localizáveis (a maioria dos bons programas permite gravar arquivos de dados em diretórios independentes), facilmente identificáveis pela extensão (como .Doc para os textos do Word, .Wk1 para as planilhas do Lotus e assim por diante) e em formatos que permitem taxas de compressão bastante altas. Ou seja, se o usuário configurar seu software de backup para copiar apenas estes arquivos, pode fazer um backup em poucos minutos usando dois ou três disquetes.

"É tudo muito simples. Requer um mínimo de conhecimento para encontrar os arquivos no disco rígido e editar a lista de inclusões e exclusões do software de backup - nada que quatro de cada cinco usuários não saibam fazer sozinhos, e o quinto não tenha um amigo que possa ajudar. Depois, uma rotina semanal de 10 minutos: chamar o programa de backup e inserir dois ou três disquetes.

"E pode ser a diferença entre a dor de cabeça de perder apenas um disco rígido e a tragédia de perder todos os textos, planilhas, trabalhos e demais arquivos pessoais construídos ao longo de meses ou anos.

Pois é isso aí. Como de hábito, mestre Dourado tem razão. Ninguém precisa se matar para fazer backup - embora muitos tenham sentido ganas de fazê-lo por não ter backup. O backup apenas dos arquivos de dados não é o ideal, mas poupa uma enorme quantidade de tempo, dinheiro e disquetes. E pode salvar a sanidade de muita gente. Afinal, depois do trauma de perder um disco rígido, reinstalar e reconfigurar o sistema operacional e todos os programas não é exatamente o sonho do usuário. Mas sempre é melhor fazê-lo sorrindo por saber que os arquivos pessoais estão em segurança que chorando a perda de dados irrecuperáveis.

Agradeço ao amigo Dourado pela gentileza de me lembrar disso. E pela maneira delicada de fazê-lo. Pois não é que o cara me manda um texto desses e, na mensagem que o acompanhava, ainda se desculpa pelo "abuso"?

B. Piropo