Escritos
B. Piropo
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11/10/1993

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Há pouco mais de três anos, quando a Cora mudou para melhor a vida deste pobre micreiro ao convidá-lo para conviver com vocês semanalmente, dúvidas povoaram meu espírito. Uma delas era onde encontrar assunto. Hoje sei que, em um campo como este, o que menos falta é assunto. E não me enganei: no que toca a assunto, o problema é excesso, jamais escassez. Tanto assim que o assunto desta coluna mudou no momento mesmo que me dispus a escrevê-la. E talvez seja interessante explicar porque.

Hoje iria escrever sobre CD-ROM, uma tecnologia relativamente nova e que se torna cada vez mais importante. Mas sempre que abordo um tema destes, pinta uma carta de leitor dizendo que isso é sonho primeiromundista. Que estamos no Brasil, onde mais da metade do parque instalado é de velhos XT com seus tristonhos monitores CGA. Que drives CD-ROM estão fora de nossa realidade. Então resolvi mudar de assunto. E fazer, do assunto, o assunto. Ou seja: discutir se estes temas cabem aqui.

Como em toda discussão, há dois pontos de vista em oposição. Um argumenta que discutindo novas tecnologia acabamos por fazer o supérfluo parecer essencial. O outro se apoia na inexorabilidade do progresso tecnológico para afirmar que é imprescindível usar sempre o que há de mais moderno sob pena de pilotar um dinossauro da era do byte lascado. Não pretendo aqui, evidentemente, deitar ares de dono da verdade e decretar o certo ou o errado. Ao contrário: recolho-me à minha devida insignificância e me restringirei apenas à minha opinião pessoal. Que, como sempre, pode ou não estar correta. Mas, ao menos, é baseada em longos anos de labuta diante de um micro. Vendo coisas acontecerem, novidades surgirem e passarem e, sobretudo, acompanhando atentamente as mudanças mais significativas no campo da informática.

O primeiro ponto de vista me parece um grave equívoco. Se nos mantivéssemos imunes à evolução meramente porque a tecnologia disponível é suficiente para as necessidades imediatas, estaríamos até hoje usando bonde puxado à burro. É verdade que não teríamos problemas de tração, posto que não faltaria burro para puxar bonde. Mas certamente não estaríamos usando um transporte eficaz.

O segundo, por sua vez, não está menos incorreto. Seria ótimo se todos pilotássemos máquinas Pentium com discos opto-magnéticos regraváveis de 100Mb e capazes de reconhecer comandos de voz. Tudo isso já está disponível no mercado e, talvez, dentro em breve venha a ser tão corriqueiro quanto um disco rígido - o sonho do micreiro há alguns anos. Mas a que custo? E com que garantia de sobrevivência? E obedecendo a que padrões?

Como sempre, a verdade está no meio. Creio que não devemos ser retrógrados a ponto de advogar a estagnação nem tão afoitos para mergulharmos em aventuras futuristas usando tecnologia ainda não solidamente estabelecida. E, sobretudo, não padronizada.

Meu objetivo ao selecionar temas é repassar para vocês os critérios que uso para escolher meu equipamento. Calcado na ordem do político experiente ao motorista, prestes cruzar com o carro o comício do adversário: siga depressa o bastante para não dar a impressão de provocação, mas não tão rápido que pareça covardia.

A coisa funciona assim: quando surge uma novidade, fico assuntando. Informo-me, leio sobre, procuro descobrir como funciona e que vantagens poderá me trazer. Se possível (e para mim, ultimamente, quase sempre tem sido), procuro ver funcionando e experimento. Se parece interessante, Ótimo. Mas continuo assuntando. Espero. De coisa nova, quando boa, sempre aparece mais de um fabricante. Cada um usando sua concepção particular de como deve ser implementada. E cada um com seu "padrão". O resultado inicial é uma chusma de dispositivos que não se comunicam. Uma babel.

Por vezes, dá certo. Por vezes não. E quando não, nem sempre porque a tecnologia não é boa. Que os digam os usuários dos barramentos MCA e EISA, ambos excelentes, mas que não "vingaram" por razões de mercado. Quando dá, surgem dois efeitos colaterais dos mais desejáveis: padronização e queda de preços. Essa é a hora.

De comprar? Nem sempre. Por exemplo: os scanners de mesa já estão pra lá de testados, estabelecidos e padronizados. Mas para que quero eu um bicho destes? Alguns itens, porém, me parecem úteis. Então começo a comparar custo com benefício. E, evidentemente, acresço o peso nada desprezível da síndrome da vontade do brinquedo novo. De sopesar prós e contras e da chorada consulta à conta bancária, nasce ou não a decisão de comprar. Mas tudo sempre começa com a busca de informações.

Onde recolho essas informações? Ora, nas publicações especializadas que leio. Nas feiras que freqüento. Nas coletivas, nos lançamentos de produtos, nas palestras e seminários a que sou convidado. Nas conversas com usuários mais afoitos - ou mais endinheirados - que já estão usando a coisa nova, seja lá qual for.

E vocês, onde recolhê-las? Bem, as fontes são essas mesmo. Mas nem todos têm acesso. Não vou ser desavergonhado a ponto de dizer que passo a vida me sacrificando na busca de informações exclusivamente em benefício de vocês. Faço isso porque sou maníaco, mesmo. Por puro prazer. Ou pela insopitável compulsão que carrego desde a mais tenra infância de saber como as coisas funcionam.

Mas, já que as tenho, por que não repassá-las? Afinal, se as informações foram úteis para balizar minha decisão, poderão ser igualmente para vocês. Comprar ou não, depende das condições e necessidades de cada um. Mas informação, nunca é demais. Daí...

PS: A reunião deste mês do Grupo de Usuários do OS/2 será quinta-feira, dia 14, no auditório do RDC da PUC, às 19 horas.

B. Piropo