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04/10/1993
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Eis-me aqui, revigorado, depois de uma semana em Natal com muita praia, piscina, paçoca, cerveja, galinha de cabidela, vôo de ultra-leve, água de côco e tudo o mais a que tinha direito. Inclusive assistir a um tecladista exímio, cantor de uma extensão de voz inacreditável e repertório irrepreensível. Chama-se Fernando Luna. Pintando por Natal, vale a pena descobrir onde o cabra está se apresentando e conferir. É verdade que no meio de tudo isto havia que participar de um congresso, mas afinal nada é perfeito. Seja como for, considero-me reciclado e pronto para o batente. Então vamos voltar a um tema que está se tornando recorrente: a pretensa disputa entre Windows NT e OS/2 no campo dos sistemas operacionais de 32 bits. Que, depois do lançamento de Windows NT, ocupa as manchetes de quase todas as publicações especializadas. E, a meu ver, de forma bastante equivocada. Pois acontece que estão comparando coisas diferentes. A própria Microsoft, por sinal, há muito vinha deixando isso claro. Só que, ao que parece, ninguém entendeu. Ou, no afã de se preparar para assistir à batalha da década, não quis entender. Mas as pistas eram evidentes: bastaria ler com atenção os releases e publicações da própria MS sobre Windows NT. Em março deste ano, poucos meses antes do lançamento, já dizia a MS: "No topo da família de soluções Windows, situa-se o sistema operacional Microsoft Windows NT que foi concebido como a mais poderosa plataforma de sistema operacional para computação tipo cliente-servidor". É bem verdade que, logo adiante, ela admite que serve "também" para estações de trabalho e "powerful high-end standalone PC", ou seja, PC poderosos e situados no topo da linha de hardware. Mas, segundo a própria MS, Windows NT não foi concebido para isso. Ele foi desenvolvido para ser um sistema operacional de rede. E zé fini. E os desktops, os micros menos poderosos pousados sobre a mesa de trabalho dos mortais comuns, os micreiros como nós? Bem, para estes a Microsoft aconselha Windows 3.1 para micros isolados e Windows for Workgroups, se ligados em rede. Ambos rodando sob DOS. Já o OS/2 foi concebido, desde a versão 1.0, como um sistema operacional multitarefa para desktops. Desde o tempo do AT, com sua CPU 286 de dezesseis bits, era capaz de rodar no modo protegido e garantir uma multitarefa estável. Se naquela época não foi bem sucedido devido a erros de estratégia da IBM e da própria MS, então em rósea união, são outros quinhentos. Mas sua evolução para as versões 2.0 e a atual 2.1 foi um mero desdobramento: afinal, as CPU de 32 bits estavam aí e usar suas potencialidades foi uma evolução natural. E a interface gráfica já estava incorporada desde a versão 1.2. Chamava-se "presentation manager" e não era orientada para objetos como a nova workplace shell, mas era uma interface gráfica, sim senhor. E o OS/2 já era um sistema operacional multitarefa para micros isolados desde os anos 80. A versão OS/2 2.x, de 32 bits, já existe há ano e meio. Mas todos esperavam pelo Windows NT. A imprensa americana, curiosamente, dava mais espaço a um sistema que ainda não havia sido lançado que a um já disponível. As softhouses, escaldadas pelo insucesso das versões 1.x, recearam investir pesado no desenvolvimento de aplicativos para um sistema que poderia não "vingar". Os usuários, por sua vez, também esperaram. E, ao meu ver, em vão. Por que em vão? Windows NT não é um bom sistema operacional? Mas claro que sim. Me pareceu excelente, aliás. Mas para o fim que foi concebido: micros em rede. Em máquinas isoladas perde muito de sua funcionalidade. Com uma notável exceção: máquinas compartilhadas por mais de um usuário. Para esta situação, a facilidade de criar ambientes distintos que vedam a um usuário o acesso a arquivos e recursos "pertencentes" a outro é um verdadeiro achado. Mas para o micro individual, a máquina do micreiro solitário, as funções de gerenciamento de rede indissoluvelmente ligadas ao sistema são um estorvo. E uma complicação desnecessária. No fim das contas, parece que o lançamento de Windows NT veio por ordem na casa. Findo o suspense e conhecidas as características de cada um, ficou mais fácil escolher um sistema operacional de 32 bits com interface gráfica: se para rede, Windows NT. Se para micros isolados, OS/2 2.1. E temos conversado. Sinais disso já se fazem notar. Nos EUA as revistas especializadas começaram, afinal, a descobrir o OS/2. E as softhouses também: a Lotus e a Computer Associates migraram seus aplicativos, o Word Perfect está sendo esperado para qualquer momento, o stacker já está rodando, além de diversos utilitários como o Norton Commander e programas de backup e Fax, como o excelente FaxWorks. Hoje, quem desejar pode perfeitamente usar o micro de forma produtiva rodando apenas programas OS/2 2.x. E dos bons. Por paradoxal que possa parecer, o lançamento do NT representou um impulso para o OS/2. Não por ser um melhor ou pior que o outro, mas simplesmente por tornar claro que não são animais de mesma espécie e cada um pode, tranquilamente, ocupar seu nicho no mercado. Pois é isso. Ao fim e ao cabo, a tão esperada batalha dos sistemas operacionais parece que deu chabú. Pelo menos por enquanto. Por que por enquanto? Bem, é que já vazaram informações sobre o projeto Chicago da Microsoft. Aliás, não sei se "vazar" seria o termo certo, uma vez que o próprio Bill Gates já o mencionou em sua palestra na COMDEX de Atlanta. E o que é o projeto Chicago? Bem, parece que é a nova versão de Windows. Talvez venha a se chamar Windows 4.0. Um Windows que já não precisa do DOS, pois será ele mesmo um sistema operacional. Este sim, um sistema operacional de 32 bits com interface gráfica para micros isolados. O verdadeiro concorrente do OS/2 2.1. Quem quiser, pode continuar esperando... |