Escritos
B. Piropo
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Volte de onde veio
27/09/1993

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Depois de tão longa e cansativa viagem através do pantanoso terreno das interrupções, nada melhor que algumas amenidades para aliviar a barra até eu engendrar outro assunto igualmente tenebroso para destrinchar. Então, vamos nessa.

Não sei se vocês sabem, mas sou engenheiro. E trabalho em um campo que nada tem a ver com informática. Porém, como todo profissional que enxerga mais de um palmo adiante do nariz, descobri que a informática pode ajudar, e muito, minhas atividades. Portanto, não é de admirar que a maior parte de meu trabalho seja feita em frente a um computador.

Pois numa noite destas estava eu posto em sossego diante de minha máquina quando tropeço em um problema: achar a equação de uma curva que se ajustasse a uma determinação de campo. Se você não é dado às lides matemáticas, não se assuste: a coisa é mais simples do que parece. Tanto que a maior parte das boas planilhas tem uma função para isso. Chama-se regressão e fornece a equação de uma reta que se ajusta aos pontos obtidos experimentalmente. Só que, no meu caso, os pontos não se ajustavam a uma reta.

Eu sei que poderia transformar os dados para ajustá-los a uma reta. Mas daria trabalho. E, afinal, estava diante de um computador, que serve justamente para poupar trabalho. Fatalmente, no meio de meus discos, haveria um programa para isso. E, lembrei-me, há muito tempo andei experimentando um shareware que fazia justamente o que eu precisava. Só faltava descobrir onde estava.

Depois de muito fuçar, achei o bichinho. Chamava-se Fit2. Carreguei e apareceu um menu, em inglês, com todas as funções necessárias. Entrei com os dados, pedi um ajustamento geométrico e voilá: a curva apareceu justamente como era de se esperar. Maravilha: agora era só imprimir. Comandei a impressão e a impressora laser cuspiu um monte de códigos ininteligíveis. Oh, deus, o programa era antigo, muito antes de se pensar em impressora laser...

A maior parte do problema estava resolvida. Tinha a curva e seus parâmetros. Mas eu precisava de uma impressão decente. Não haveria uma versão mais nova? Voltei ao menu em busca de informações. E tive uma gratíssima surpresa: apesar dos menus em inglês, o autor era brasileiro. Lá estava: nome, endereço e telefone. Liguei. Havia, sim, uma nova versão. Só que, infelizmente, não era mais shareware: o reduzidíssimo número de usuários que se dispuseram a pagar os míseros vinte e cinco dólares solicitados para o registro não valeu o esforço. Em compensação, a nova versão era melhor e mais completa. Poderia me mandar uma cópia?

Mandou. O nome do programa mudou para Forecaster. E as alterações não ficaram nisso: agora ele é fornecido em duas versões, uma para DOS e outra para Windows. Ambas excelentes, particularmente a de Windows. Permitem importar dados de planilhas ou banco de dados, entrar novos dados, editar antigos e gravá-los em disco. Depois, mostra os dados em um gráfico. Mas o melhor está no menu "Forecasting". Que ajusta os dados a nove curvas diferentes (inclusive polinomial, podendo-se escolher o grau do polinômio) e uma entrada adicional que ajusta a todas elas, mostra o gráfico das curvas ajustadas e os coeficientes de cada uma. Basta olhar para a tela e escolher a curva que melhor representa o fenômeno.

Se você eventualmente faz ajustamentos, o programa traz tudo o que é preciso para um trabalho bem apresentado. Se não, ao menos fica sabendo que há programadores brasileiros capazes de realizar pequenas maravilhas. Prestigie-os. O autor do Forecast chama-se Armando Oscar Cavanha Filho. Não conseguiu uma forma mais prática de comercializá-lo senão vendendo diretamente (olhaí, pessoal das distribuidoras). O telefone (voz e fax) é (021) 431-2109. E o Forecaster custa apenas vinte e cinco dólares. Uma pechincha...

Agora uma historinha: troquei de disco rígido. Estava mesmo precisando de aumentar a capacidade de armazenamento de minha máquina e Windows NT deu só o empurrão que faltava. A estratégia era simples: comprar um HD de 240 Mb que mais tarde funcionará como disco D, substituindo o antigo onde só cabem cem míseros mega. Durante a avaliação do NT, o novo ficaria como disco C. Tudo muito fácil portanto: substituir o disco C por outro de mesma capacidade, particioná-lo, formatá-lo e instalar nele Windows NT.

Acontece que, em meu gabinete, os HD estavam muito próximos. O ideal seria deixar um vazio entre eles para evitar problemas de aquecimento - o que eu vinha adiando há meses. Mas, já que iria mexer no micro, melhor desmontar e montar tudo de novo com os drives numa posição mais segura. Coisa de meia hora e olhe lá. E de fato, menos de uma hora depois a máquina já estava toda montadinha, cabos encaixados, tudo em cima. Foi só ligar o micro... para receber a mensagem de falha na controladora de discos.

Eu já tinha jurado que jamais faria isso novamente: montar tudo sem testar passo a passo. Mas desta vez achei que não haveria razão para tanto. Afinal, não havia mexido em um único jumper. O HD novo estaria bichado? Vamos ver: bota-se o velho no lugar e testa-se. E lá veio de novo a falha na controladora. E agora?

É em momentos assim que a gente entende como sofre o micreiro. Os meus amigos, pelo menos, têm um Piropo para amenizar essas horas sofridas: ligam e perguntam o que pode ter ocorrido. E qualquer piropo que se preze, de cabeça fresca e não envolvido com o problema, logo indagaria se um cabo não teria sido invertido durante a montagem. Que, é claro, foi justamente o que aconteceu.

Mas eu não tenho piropo algum à mão. E varei a noite montando e desmontando a máquina até descobrir o maldito cabo torto...

B. Piropo