Escritos
B. Piropo
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02/08/1993

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Há algumas semanas, comentando carta de leitor, afirmei nesta coluna que uso o OS/2 porque, além de ser um excelente sistema operacional, é o único que existe para a linha PC capaz de explorar as potencialidades das CPU 386 ou 486. Mas não tenho preconceito algum contra Windows. Tanto que o uso em uma de minhas máquinas.

Mas Windows é uma mera interface. Muito boa, por sinal, mas que se apoia no DOS, um sistema operacional desenvolvido há mais de dez anos, quando ainda nem se sonhava com o modo protegido do 386, feito sob medida para uma CPU com registradores de dezesseis bits e barramento de oito. E uma interface não faz milagres nem pode superar as deficiências de um sistema operacional caduco.

Já Windows NT seria outra coisa, conforme assegura a Microsoft. Do Windows que conhecemos, manteria apenas a "cara". No mais, seria um sistema operacional completo de 32 bits. E, ainda conforme a Microsoft, capaz de fazer maravilhas. E, dizia eu naquela coluna, também nada tinha contra ele. Ao contrário: se, como fez a IBM com o OS/2, a Microsoft me enviasse uma cópia da versão beta, estaria pronto para rodá-la e emitir minha opinião.

Acontece que em março, durante a Exponet, assisti no stand da Microsoft a uma demonstração de Windows NT. Feita pelo próprio Edson Fontenele, o Gerente de Produto da Microsoft do Brasil. A quem manifestei meu interesse em conhecer melhor o produto. Sem problema, disse ele. Logo após a feira ele me enviaria uma cópia beta. Quatro meses se passaram. A educação manda não insistir. Eu não cobrei. Ele não enviou. Deve ter tido suas razões.

Semana passada, durante a Fenasoft, encontrei José Luiz Schiavoni, o simpático assessor de imprensa da Microsoft. Comentou que havia lido aquela coluna - o que muito me honrou. E que, lembrava-se bem, há meses o Edson Fontenele me havia prometido enviar a beta. Mas tudo bem: se eu quisesse, ele providenciaria para que ela me fosse entregue imediatamente. Bastaria saber se eu tinha máquina suficientemente potente para rodá-la. Tinha?

Tenho um 486 com 20Mb de RAM, CD-ROM e 300Mb de HD. Chega? Parece que sim. Então, disse ele, vamos ao stand da Microsoft para acertar os detalhes. Bem, já que, desta vez, foi a própria Microsoft que ofereceu, quem sabe eu tenha afinal o prazer de me deleitar com os estupendos recursos desta maravilha. Vamos lá.

Fomos. Em lá chegando, o José Luiz me levou novamente ao Edson Fontenele. Que me informou que, apesar dos malévolos boatos sobre mais um atraso, Windows NT já estaria pronto. A versão que estava em demonstração ali ao lado ainda era a beta, mas praticamente igual à definitiva, das quais as primeiras cópias já teriam sido produzidas. Agora, segundo ele, faltava apenas a embalagem e, em cerca de duas semanas, seria lançado nos EUA. O José Luiz informou-o que havia reiterado o oferecimento da cópia beta. Ah, sem dúvida, disse o Edson. Que eu não me preocupasse: assim que produto fosse lançado no Brasil, prometeu ele, a primeira cópia que aqui chegasse seria minha. Quando? Dentro de dois meses...

Dois meses parece uma senha na MS. Foi exatamente o prazo de lançamento de Windows NT que ouvi, pessoalmente, da boca do próprio Bill Gates na abertura da COMDEX spring. Há mais de dois meses.

Mas, se já está pronta e me foi oferecida pelo próprio assessor de imprensa sem que ao menos eu tivesse pedido, porque esperar mais dois meses? Bem, eu não sei. Mas dá para pensar.

Por exemplo: na PC Magazine de julho há um artigo do John C. Dvorak muito interessante que vale a pena ler. Nele, mestre John afirma que, nos EUA, já não se fala com a mesma ênfase em Windows NT. Que o grande bochincho agora, depois do reduzidíssimo sucesso de Windows for Workgroups, é Windows 4.0. Que ainda não existe, evidentemente. Mas, quando existir, dispensará o DOS. Será um sistema operacional de 32 bits, um precursor da versão orientada por objetos de Windows e melhor que Windows NT.

Segundo Dvorak, isto parece uma estratégia para manter os usuários esperando por um novo sistema operacional de 32 bits da Microsoft. E, ainda segundo mestre John, isso somente teria sentido caso Windows NT estivesse beirando o fiasco.

Mas este fracasso seria previsível? Bem, na mesma coluna, Dvorak cita algumas mensagens que encontrou na rede Internet. Nelas, fala-se que sob Windows NT a performance dos aplicativos DOS e Windows seria mais lenta: 25% para os primeiros e 30% para os últimos. Que a multitarefa dos aplicativos Windows não seria preemptiva (como se espera de um sistema operacional de 32 bits, já que sob OS/2 mesmo os programas Windows usam multitarefa preemptiva). Que Windows NT não rodaria os programas gráficos do DOS em janelas, mas somente em tela cheia. E que os drivers de dezesseis bits existentes para Windows não seriam suportados.

Se tudo isso é verdade, não sei. Quem disse foi John C. Dvorak. Eu mesmo somente poderei saber parece, talvez, quem sabe, dentro de dois meses. Tudo bem: eu espero.

Quando a Microsoft achar que Windows NT já está em condições de ser submetida à avaliação, pode mandar a cópia que ofereceu. Instalo, rodo e analiso. Mas não tenho pressa. Para mim, dois meses ou dois anos, tanto faz. Sou muito paciente...

B. Piropo