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26/07/1993
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Antigamente, a primeira coisa que se fazia ao se comprar um micro era um curso de Basic. Foi assim comigo e era assim com quase todo o mundo. O Basic permitia fazer um monte de programinhas. Até mesmo aquela insuportável agenda de telefones, chave de ouro de todo cursinho. Depois, complicou. A velha linha de comando ficou obsoleta, os programas mais complexos, as telas mais bonitas e ninguém mais quis saber do Basic. As linguagens de programação, por sua vez, ficaram cada vez mais poderosas, exigindo mais e mais conhecimentos e dedicação. E aqueles programinhas sumiram. Mas, parece, nem tudo está perdido. Aqui mesmo, em minha máquina, há um programa demonstrando que ainda há esperança para o amador que deseja programar. E programar em alto estilo: para Windows. Foi desenvolvido em Visual Basic, um pouco mais complicado que o velho Basic, mas que não é nenhum bicho de sete cabeças. E permite ao amador desenvolver programas com jeitão de profissional. O programa ainda está na versão beta e os autores, Maurício Collaça e Henrique Coelho, prometem melhorá-lo. Só conheço o Henrique, e mal: conversamos cinco minutos quando ele me entregou o programa. É jovem e cheio de entusiasmo, como convem aos jovens. O Maurício, nunca vi. Mas soube que é tão jovem quanto o Henrique. Nada de errado com a juventude de ambos, evidentemente. Mas não combina com o tema que escolheram para seu programa. Trata-se, basicamente, de um banco de dados de imagens. Simples, pequeno, muito bem apresentado. Ao entrar abre uma janela com uma imagem e seu texto explicativo. Na barra inferior, entre os ícones para avançar para a próxima e retornar para a anterior, mostra um quadro com o número da imagem e o número total de imagens. Tudo muito bem cuidado: ao exibir a primeira ou a última imagem, os ícones de retroceder ou avançar desativam-se. Mais um ícone mostra a origem da imagem e o Copyright, outro sai do programa e o último mostra uma janela com informações sobre o programa. O que você espera de um banco de imagens gerado por dois jovens? Mulher pelada, talvez? Pois se engana. Trata-se de um conjunto de vinte fotos escolhidas em um acervo de mais de mil e duzentas imagens do Rio Antigo, de 1840 a 1927. Algumas são um verdadeiro achado, como uma foto em vol d'oiseau de Copacabana, mostrando um paraíso antes de ser arrasado (alguém sabia que no local onde hoje se ergue o Copacabana Pálace havia um morrete?). Ou o magnífico pavilhão Mourisco, em plena Praia de Botafogo, e o prédio do Senado, na Cinelândia, ambos demolidos por pura estupidez. Aliás, a tônica dos comentários exibidos ao lado das imagens é o desprezo que as autoridades desta pobre, sofrida, muy leal e, sobretudo, cada vez mais heróica cidade, têm demonstrado pela sua memória. O que é de espantar partindo de dois jovens. De espantar, mas não de criticar. Pelo contrário: merecedor do maior apoio. Pois os autores ainda pretendem incrementá-lo um bocado. Primeiro, aumentando o número de imagens. Depois, agregando som e imagens dos mesmos sítios na época atual. E sempre há como melhorar mesmo o que já é bom: poderiam, por exemplo, acrescentar mais um ícone que mostrasse um índice, permitindo saltar diretamente para qualquer imagem ao invés de percorrê-las apenas na ordem estabelecida pelo programa. Mas como está, já está bom. Além de terem feito um bom programa e restaurado minha fé na juventude - um tanto abalada pelos atuais conjuntos de rock - os autores querem mais. Na janela que traz informações sobre o programa, há um apelo que acho mais que justo transcrever. Lá vai: "O objetivo desta pesquisa é realizar um documentário em vídeo sobre o Rio evidenciando as transformações nem sempre criteriosas por que passou a cidade. Necessito, contudo, de pessoas interessadas em executar o projeto e participar do desenvolvimento das pesquisas. Caso deseje participar, deixe mensagem no CentroIn BBS - (021) 205-0281 - e ajude-me a criar memória para os cariocas para que no futuro não se cometam os mesmos erros do passado". Achei digna, comovente e merecedora de todo apoio a iniciativa de dois jovens tentando resgatar a memória de nossa tão sofrida cidade. Não pediram, mas, se você tem uma empresa, porque não um patrocínio? Se quiser ajudar, deixe mensagem para o Henrique Coelho no CentroIn. Ou então ligue para ele: 226-1644. Ele merece. E já que citei os cursos de Basic: volta e meia amigos me pedem para recomendar um curso. Acredito que, no que toca a cursos, o que mais importa é seriedade e honestidade. E baseado nisso costumo recomendar a JMS/Compucenter e o do Laércio Vasconcelos. Não são os únicos sérios, naturalmente. Mas são os que conheço. Pois recentemente conheci mais um. Chama-se InHouse, fica na Nilo Peçanha 151/212, tel. 220-2391 e acaba de ser aberto pelo Carlos Mink e Paulo Lee Tsai. O Carlos é autor, entre outros, daquele ótimo livrinho sobre comunicações que comentei aqui. O Paulo, com seu jeitão simpático de mandarim, é um cabra danado de bom que apesar de jovem já tem muita estrada montando micros. Recentemente apareci por lá para uma visita e fiquei muito bem impressionado com o que encontrei: salas do tamanho certo com o equipamento certo. O esquema é o convencional: cursos sobre Windows, DOS e alguns aplicativos populares. E o Paulo ensinando a montar micro. Nada de suntuoso, evidentemente, já que estão começando agora. Mas, pelo que percebi, com as duas condições essenciais: são gente séria e honesta. O que basta para começar com o pé direito. |