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19/07/1993
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Notebooks estão na moda. Máquinas soberbas, mais poderosas que muito desktop. VGA colorido, disco rígido e tudo o mais a que um micro de verdade tem direito. Já há algum tempo me convenci da necessidade de ter um. Mas o queria para andar comigo o tempo todo, substituindo agenda, calculadora, livro de notas, enfim, toda aquela parafernália que carregava dentro da pasta. Justamente por isso, até hoje não tenho um notebook. Pois a idéia de carregar para cima e para baixo um trambolho de três quilos alimentado por uma bateria cuja carga se esgota em menos de três horas decididamente não me seduz. Para usá-lo como pretendia, teria que arrastar com ele pelo menos uma bateria de reserva e mais um supressor de baterias. Quase um quilo adicional. Nem pensar. Mas seria realmente preciso tudo isto para atender às minhas necessidades? Certamente que não. Na verdade, um caro 386 ambulante seria um desperdício. Então, porque não uma destas agendas eletrônicas cheias de recursos? Bem, elas são ótimas para anotar telefones e endereços, gerenciar compromissos, substituir uma calculadora e fazer mais umas tantas gracinhas. Mas não bastam. Eventualmente preciso tomar anotações que mais tarde serão editadas e transformadas em uma coluna ou relatório. Ou fazer cálculos rápidos em contextos parecidos, o que impõe o uso de uma planilha. A agendinha não serve: eu precisava mesmo é de um micro. Considerados os prós e os contras, eu já me havia resignado ao inevitável e decidido a comprar meu notebook. Já havia começado a pesquisar qual seria mais adequado. E já me preparava para juntar o nada desprezível monte de verdinhas que ele iria me custar. Quando, não mais que de repente, deparei-me com o Pocket PC. Foi na COMDEX de Atlanta, no estande de uma firma de Taiwan, a Prolinear International Corp. Que também tem escritórios na California. O telefone é (818) 821-1881. Fabricam o Pocket sob licença e vendem para distribuidores. Me encantei com o bichinho. Paixão a primeira vista: comprei na hora. Preço de revendedor, menos de quinhentos dólares (viu, pessoal da Receita?). Por razões que não entendo, não é fácil encontrá-lo no varejo, mesmo nos EUA. Se encontrar, espere um preço um pouco mais alto. Mas vale a pena. Decididamente não se trata do último lançamento da indústria de informática. O bichinho foi lançado há cerca de três anos. Mas, por razões que não entendo, não se popularizou. E também não é nenhum 486 com tela multicolorida: é um XT com tela CGA de cristal líquido. Um XT incrementado, é verdade, com CPU NEC V30, compatível com o 8086 da Intel, mas um XT. E não se trata de um avião: no modo turbo, atinge apenas a míseros 7.15MHz. Porém mede apenas 24,5cm x 11,5cm x 2,5cm (quase o tamanho exato de quatro maços de cigarros deitados lado a lado), sua tela de 18cm x 7cm exibe orgulhosamente todas as vinte e cinco linhas de oitenta colunas de um honesto CGA com resolução de 640x200 em dezesseis tons de cinza, usa um confortável teclado QWERTY completo de 83 teclas, suficientemente amplo para meus dedos não brigarem entre si, tem uma porta paralela e uma serial para se comunicar com o mundo exterior e dois slots para cartões PCMCIA. E aceita qualquer programa que rode em um XT. E tudo isso pesando pouco mais de meio quilo. Quinhentos e cinquenta gramas, para ser exato, incluindo as pilhas. Que pilhas? Ora, meu amigo, pilhas comuns, dessas pequeninas, tipo "AA", que se compram em qualquer botequim da esquina. Usa apenas duas delas, mas duram até dez horas de funcionamento contínuo. Meu sonho! Disco não tem. Nem rígido nem flexível. E nem precisa. Pois traz gravado em seus 1,5 Mb de ROM o DOS 5.0, o Race Pen (um programa com agenda de compromissos, telefones e endereços, gerenciador de arquivos, calculadora e mais um monte de utilitários) e o Works da Microsoft, que integra editor de textos, planilha eletrônica, banco de dados e módulo de comunicações. E mais 1Mb de RAM. Como é um XT e não sabe o que é memória estendida, usa 640K para programas e desfruta os 384K restantes como um RAM disk. Que tem uma propriedade maravilhosa: não se esvai quando a máquina é desligada e portanto pode armazenar permanentemente os arquivos de trabalho. Em geral, isso é o bastante. Ao menos para mim, tem sido mais que suficiente. Mas se não for, basta espetar um ou dois cartões de memória PCMCIA. Que podem simular "drives" adicionais e aumentar a capacidade de armazenamento para até 5Mb. O micrinho vem com supressor de bateria e cabos para as portas paralela e serial. E um "null modem", um dispositivo que permite interligá-lo a outro micro. Com ele e um programinha gravado em ROM, o InterLink, faz-se maravilhas. Como "enxergar" todos os drives de uma máquina na outra, o que permite transferir arquivos e programas de um para o outro. Recentemente, em viagem, precisei escrever um relatório bastante complexo baseado em anotações feitas no campo. Anotei tudo no micrinho, levei-o para o escritório de lá mesmo e pedi licença para usar um micro de mesa. Em menos de cinco minutos a transferência estava feita. Depois, foi só editar, formatar e imprimir. Uma beleza. Eu e o Pocket estamos nos dando muito bem. Vivemos juntos já há quase dois meses. Evidentemente, minha agenda pessoal foi transferida para ele. Trata-se de um respeitável arquivo de 75K, e o bichinho nem chiou. Além de mais um monte de de arquivos texto com anotações que preciso ter comigo. Meus compromissos, dados pessoais, tudo o que costumava carregar na pasta. Que agora só tem canetas e um ou outro documento. Além do Pocket, é claro, meu novo companheiro inseparável. Que me faz lembrar um antigo slogan: é pequenino, mas resolve...
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