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10/05/1993
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O primeiro microprocessador de dezesseis bits foi lançado em junho de 1978. Criado pela Intel, chamou-se 8086 e o modelo inicial operava em uma frequência de 4,77MHz, um prodígio para a época (mais tarde foram produzidas versões de 8MHz e 10MHz). Continha 29 mil transistores, usava registradores internos de dezesseis bits, acessava a memória através de um barramento de dados também de dezesseis bits e endereçava um campo contínuo de 1Mb. A Intel vendeu quase quinze milhões deles, a maioria utilizada como CPU de micros da linha PC: na verdade, a Compaq construiu sua reputação de produzir máquinas de qualidade justamente por usá-los em seus micros. Uma curiosidade: o preço do chip na época do lançamento era de US$360. Hoje pode ser encontrado por US$6. Exatamente um ano depois a Intel lançou o que poderíamos chamar de versão revista e piorada do 8086: usando a mesma arquitetura com registradores internos de dezesseis bits, operava na mesma frequência de 4,77MHz, endereçava o mesmo 1Mb de memória, continha os mesmos 29 mil transistores e obedecia rigorosamente ao mesmo conjunto de instruções. Até o preço de lançamento era o mesmo. A única diferença foi a redução do barramento de dados de dezesseis para oito bits, o que tornou os acessos à memória duas vezes mais lentos, já que teria que pescar dados byte a byte, ao invés dos dois que o 8086 recebia a cada leitura. Nos dias de hoje, talvez a Intel o batizasse de 8086SX. Mas o nome que escolheu foi 8088 (o "8" final se refere ao barramento de 8 bits). E foi este o chip que a IBM adotou para a CPU do primeiro PC. Nessa altura dos acontecimentos você deve estar achando tudo muito estranho. Por que insondáveis razões a Intel haveria de engrenar marcha a ré e lançar um chip menos poderoso que seu antecessor? E por que alguém iria pagar o mesmo preço para comprá-lo? E, finalmente, o que teria levado a IBM a escolher esse bicho manco para o seu novo PC ao invés do 8086? A resposta para todos esses enigmas é a mesma: o chipset. Pois uma placa mãe não é feita só da CPU. Ela precisa de outros chips auxiliares para executar centenas e centenas de tarefas como transportar dados de um lado para outro, controlar esse tráfego, regular a frequência de operação de todo o conjunto, controlar periféricos e mil outras atividades que, embora menos nobres que as da CPU, são igualmente essenciais. A esse conjunto de chips auxiliares dá-se o nome de chipset. Hoje em dia, com o extraordinário grau de integração alcançado pela eletrônica, o chipset de um 486 consiste de três ou quatro CIs, além da CPU. Mas naquela época era composto por dezenas e dezenas de CIs. E chips para controlar barramentos de dezesseis bits eram raros e caros, enquanto havia centenas de CIs disponíveis para os barramentos de oito bits dos micros de então. Evidentemente a IBM poderia ter escolhido o 8086 e usado um chipset compatível. Mas naquela época, o futuro dos micros pessoais era uma incógnita. E nem os mais entusiastas eram capazes de prever o explosivo sucesso do IBM PC. Muito menos a própria IBM, que decidiu-se então a não arriscar: um projeto baseado em componentes relativamente baratos e disponíveis no mercado causaria um prejuízo menor se redundasse em fracasso. Portanto, melhor escolher o 8088. Que, graças ao tamanho de seus registradores internos, teria o apelo mercadológico do primeiro micro de dezesseis bits. E sem a necessidade de pesados investimentos em um chipset proprietário. E assim foi concebido o PC. Graças a deus: foi justamente por não ter patenteado uma arquitetura interna proprietária que a IBM foi obrigada a assistir inerme à gigantesca proliferação de clones, ou máquinas compatíveis com o PC. O que gerou uma mais que sadia concorrência. Que forçou os preços a caírem. E que permitiu que você tenha hoje sobre sua mesa essa máquina maravilhosa. E, a mim, escrever sobre ela. Pois o primeiro PC, com sua CPU 8088, seus pujantes 64K de memória, sem drive de disquete (HD, nem pensar) e monitor mono, custava cinco mil dólares. Sem concorrência, já imaginou qual seria hoje o preço de sua máquina? Por conta do PC, a Intel vendeu mais de vinte milhões de 8088. O que acabou por interessar aos concorrentes. E em março de 1984 a NEC produziu o V20, um microprocessador inteiramente compatível com o 8088: obedecia ao mesmo conjunto de instruções, usava registradores internos de dezesseis bits, barramento de dados de oito e acessava o mesmo 1Mb de memória. Mas era mais rápido: seus 63 mil transistores permitiram uma otimização que ensejou, já no lançamento, que operasse a uma frequência de 8MHz (depois a Intel lançou uma versão de 8MHz do 8088, mas já então a NEC produzia o V20 de 10MHz que equipava os famosos "XT Turbo"). Ao contrário da Intel, que descontinuou a produção do 8088, a NEC não apenas manteve sua linha como a aperfeiçoou: hoje ela produz os V20 de 16MHz que equipam a maioria dos minúsculos palmtops. Também o 8086 foi "clonado" pela NEC, gerando o V30. Lançado juntamente com seu irmão V20, tinha exatamente as mesmas características do 8086, porém continha mais do dobro de transistores (63 mil, como o V20) e era mais rápido, operando a 8MHz e, depois, a 10MHz. Mais tarde a NEC lançou a versão V30HL, idêntica ao V30, porém ainda mais rápida: 10MHz, 12MHz e 16MHz. Uma curiosidade: como era de esperar, a Intel processou a NEC alegando que o conjunto de instruções de seus chips foi copiado. A justiça americana, embora concordando que o microcódigo era passível de patente, absolveu a NEC. Justificativa: a Intel não havia estampado nos chips que eles eram protegidos por direitos autorais... E aí está toda a primeira geração. Os chips que constituíram a CPU dos velhos PC e seus irmãos XT. Agora, vamos ao AT. PS: Jeová, amigo e conterrâneo: a encomenda chegou intacta. Diga para o povo de Abaíra que eles produziram uma obra prima, daquelas de se beber rezando. Obrigado e saúde. PS2: Olhaí, turma do OS/2: amanhã, dia 11, 18:30h, na PUC (sala 508L) reunião do grupo de usuários. Não precisa inscrição prévia. B. Piropo |