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Reacionário é quem reage a mudanças. Há alguns anos o termo foi incorporado ao jargão político, passou a ser sinônimo de direitista e adquiriu uma certa conotação pejorativa. Mas, reduzido à sua expressão mais simples, reacionário nada mais é que o indivíduo que reage contra o novo e se aferra à uma situação que conhece, um universo no qual se sente seguro, aprendeu à sobreviver e não deseja abandonar. Mesmo quando a mudança promete levá-lo a um mundo melhor. Reflita um pouco e descubra que, de uma forma ou de outra, em maior ou menor grau, todos somos reacionários.

Acontece que hoje ocorre uma mudança radical no mundo da informática: testemunhamos a agonia de uma interface. A linha de comando está morrendo e sendo substituída pelas interfaces gráficas. E por toda a parte se ouvem os gritos dos reacionários do DOS.

Pois, por mais de uma década, para os usuários do DOS a linha de comando foi quase uma segunda natureza. Digita-se o comando, a máquina responde e pronto. Mas você já se deu conta do quanto teve que aprender até se familiarizar com ela? E de sua natureza inamistosa? Uma letrinha errada e o sistema protesta com uma aflitiva mensagem de erro. Copiar um arquivo exige o comando copy, seguido da especificação do arquivo e do diretório destino. Você ainda recorda, quando ainda principiante, do trabalho que dava lembrar o que vinha primeiro, se o nome do arquivo ou o do diretório destino? Quanto tempo levou até se familiarizar com as mensagens de erro? Já percebeu a natureza perigosa de alguns comandos? Quanto prejuízo causado por um inadvertido "format c:"! E quantos desastres irrecuperáveis apenas por que alguém resolveu experimentar o comando "recover" só para ver o que ele fazia...

Mas o mundo do PC está mudando. Apareceram, enfim, depois de umas tantas tentativas canhestras, pelo menos duas interfaces gráficas decentes para o PC: Windows e OS/2. Não vou discutir qual é melhor. Pois, para o que interessa, isto é irrelevante. O que de fato importa é que oferecem um ambiente de trabalho inteiramente novo e intuitivo. E apresentam, entre outras, três vantagens extraordinárias, justamente por se contraporem às maiores fraquezas da linha de comando: o aprendizado é fácil e intuitivo, são mais tolerantes a erros e, com suas caixas de mensagens elucidativas, oferecem maior proteção contra desastres causados por principiantes afoitos. Por mais que se goste da velha linha de comando, é forçoso admitir ser mais fácil e seguro aprender a trabalhar com um micro diante de uma interface gráfica que decorando comandos. Por isto elas estão se disseminando como epidemia. E, para o bem ou para o mal, o fato é que começam a dominar o mercado.

Hoje, estou convencido que a marcha para as interfaces gráficas é inexorável. Que estão aí para ficar e não adianta espernear. Sei que vai chover reclamação. Que um monte de gente vai discordar. Que vão alinhar zilhões de razões para provar que tudo isto é besteira, que esta história de interface gráfica é modismo, que daqui a pouco todos estarão alegremente de volta à linha de comando. Mas poupem-me desta cansativa discussão. Mesmo porque conheço todos os argumentos: são rigorosamente os mesmos que eu usava até recentemente para defender exatamente a mesma coisa.

Por isto, entendo perfeitamente a posição dos reacionários do DOS. E até simpatizo com eles: afinal, já passaram, com suor e sacrifício, pela dura fase do aprendizado, convivem com segurança com a linha de comando e aprenderam a decifrar suas crípticas mensagens. Portanto, acreditam que jamais precisarão de interfaces gráficas. Se elas facilitam a vida dos principiantes, ótimo: que os principiantes fiquem com elas. Eles, usuários experientes, continuarão lépidos e fagueiros com seus comandos. E todos seremos felizes para sempre. Parece sensato, pois não? Mas não é.

Pois os programas evoluem, incorporando a cada versão, recursos cada vez mais poderosos. E nenhum de nós, em sã consciência, pode garantir que não precisa deles. É claro que eu poderia estar escrevendo este texto na primeira versão do Wordstar. Mas é muito mais confortável fazê-lo em um editor de última geração. Portanto, atualizar os programas é mais que um luxo: é uma necessidade.

E acontece que as novas interfaces gráficas exigem que os programas obedeçam aos seus ditames. Portanto, ou uma nova versão é feita especialmente para elas, ou a existente é adaptada. Sim, eu sei, tanto Windows quanto o OS/2 ainda permitem - e não sei por mais quantas versões - rodar programas DOS. Mas perde-se as maiores vantagens da interface gráfica - que são justamente as exploradas nas novas versões. Como o intercâmbio de dados entre programas, facilidades de ver na tela o trabalho exatamente como será impresso e a simplificação do trato com os periféricos (que se entendem com a interface, não com os programas. Configure a interface para a impressora e esqueça: daí em diante todos os programas a reconhecerão e temos conversado).

Pois é isto. No momento, vivemos uma fase de transição. As interfaces gráficas começaram a dominar o mercado, mas existe ainda uma enorme base instalada de micros que só usam a velha linha de comando. Portanto, se você a prefere, ainda pode esperar por uma nova versão do seu programa predileto que não exija uma interface gráfica. Por enquanto, e apenas por enquanto, as softhouses ainda acham vantajoso lançar duas versões diferentes cada vez que incorporam novos recursos a seus programas.

Mas por quanto tempo? Eu não creio que isso dure mais de que um ou dois anos. Dentro em pouco as vendas das versões para DOS serão tão minguadas que não justificarão o esforço para desenvolvê-las. Quando isto ocorrer, não será o caso de discutir se a interface gráfica é melhor ou pior que a linha de comando, mas de conseguir ou não versões atualizadas de programas. Hoje, enquanto os programas DOS bem sucedidos pressurosamente migram para as interfaces gráficas, alguns campeões de venda como o Corel Draw, que foi desenvolvido para Windows e lança agora sua versão para OS/2, nunca tiveram uma versão que não fosse concebida para elas. E, dentro em breve, a maior parte dos novos programas - e dos upgrades de programas existentes - seguirão esta tendência.

A partir daí, os que se aferrarem à linha de comando terão que se contentar com versões desatualizadas. Ou, depois de muito resmungar, partirem contrafeitos para uma interface gráfica. Com alguns anos de atraso. E terão que suportar os olhares de superioridade dos ex-principiantes, já então experts nas novas interfaces.

E vão experimentar, na própria carne, as angústias de ser principiante. De novo...

B. Piropo