Escritos
B. Piropo
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17/08/1992

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Já vimos algumas das vantagens que os drives IDE apresentam quando comparados com os velhos MFM ou RLL. E há ainda outras. Mas, para poder examiná-las, vamos antes mencionar uma peculiaridade dos micros tipo AT no que toca à instalação de discos rígidos.

Se você já instalou um HD em um AT, reparou que é preciso informar à máquina sobre o tipo do disco. Pois acontece que, ao contrário dos XT, eles foram concebidos para usar discos rígidos. Por isso seus BIOS já incorporam as rotinas necessárias para manejá-los. Desde que se informe o tipo: acessa-se o setup do micro (em geral premindo uma dada tecla, ou combinação de teclas, logo após a máquina ser ligada) e escolhe-se um dos tipos que lá estão listados. Nos primeiros AT, se seu disco rígido não estivesse na lista, você teria que escolher o que mais se aproximasse dele, desde que de menor capacidade - uma situação no mínimo desagradável, pois perderia uns tantos megabytes de seu HD.

Há alguns anos, isso não costumava trazer grandes problemas: discos rígidos eram raros e os modelos disponíveis eram poucos. Agora, com a proliferação de marcas e modelos, há dezenas de tipos que não constam das listas dos BIOS - mesmo levando-se em conta que elas são periodicamente atualizadas. Por essa razão, os BIOS mais recentes incorporaram um tipo "em aberto", que em geral tem o número 47, cujas características podem ser definidas pelo usuário. A coisa ficou mais fácil: se seu HD não consta da lista, basta entrar com o número de faces, trilhas por face, setores por trilha e dizer que o drive é do tipo "user defined".

Pois bem: você já deve ter reparado que o número máximo de trilhas por face é 1024 e nem mesmo o tipo "user defined" aceita mais que isso. Pensou que fosse alguma limitação tecnológica? Enganou-se: trata-se apenas de uma idiossincrasia do BIOS, que não admite um número de trilhas superior a 1024 em uma face de HD.

Nos MFM e RLL essa limitação é para valer: uma trilha é uma trilha, e temos conversado. A interface ST 506/412, que controla esses drives, foi desenvolvida dentro dessa limitação e não "entende" um HD com mais de 1024 trilhas por face. Mas nos IDE a coisa é diferente: a interface controladora, integrada ao drive, pode controlá-lo da forma mais conveniente e enviar para o sistema as informações que forem mais apropriadas. Isso abre uma possibilidade interessante: "enganar" o sistema, fornecendo informações que o BIOS aceite, mesmo que não correspondam à realidade.

A coisa funciona assim: faz-se o drive com quantas trilhas couberem em cada face, sem ligar para o limite "oficial" de 1024. Como é a interface, incorporada ao drive, quem de fato o controla, ela pode "traduzir" as informações sobre a localização das cabeças, simulando uma configuração que o BIOS aceite. O dado está, digamos, na trilha 1300 da face 2? Sem problemas: ela é passada para o BIOS como se estivesse, por exemplo, na trilha 276 de alguma outra face. E de uma face que, fisicamente, nem sequer existe. Por isso as informações fornecidas ao setup sobre as características de um drive IDE podem ser totalmente diferentes do número de faces, trilhas e setores efetivamente existentes. As primeiras são as características lógicas, simuladas pela interface, e as últimas as características físicas. Por isso podem ser encontrados discos IDE com mais de 1800 trilhas (reais) por face.

Mas não é só isso. A interface IDE permite ainda um outro recurso: a gravação em multizonas. Vejamos o que é isso:

Da forma pela qual o sistema de leitura/gravação em disco foi concebido, todas as trilhas devem ter, obrigatoriamente, o mesmo número de setores. Caso contrário o sistema "se perde" totalmente e não consegue localizar setores. Disso resulta enorme desperdício de espaço. Pense: o comprimento linear de um setor nas trilhas próximas ao centro do disco é muito menor que nas trilhas periféricas. O que significa que, desde o ponto de vista da densidade com que as informações são gravadas, as zonas onde se situam as trilhas externas poderiam armazenar muito mais dados. Desde que fosse possível dividi-las em maior número de setores.

Como os discos MFM e RLL são controlados pela interface ST-506/412, que segue escrupulosamente os ditames do BIOS, nada se pode fazer para aproveitar o espaço perdido: em suas trilhas externas a densidade de gravação é muito menor e temos conversado. Já em um disco IDE o negócio é outro: se ele "engana" o BIOS quanto ao número de trilhas por face, porque não fazer o mesmo em relação ao número de setores por trilha?

Isso, para uma interface IDE, é coisa simples: não se esqueça que os dados são traduzidos por ela e só então enviados ao BIOS. E, da mesma forma que pode jogar com os dados simulando faces inexistentes, pode fazer o mesmo com trilhas e setores. Portanto, em drives IDE, as zonas externas podem armazenar muito mais informações que as internas. Mas note que para o BIOS tudo se passa como se o drive fosse muito bem comportado, já que ele "enxerga" apenas as faces e trilhas lógicas, e não as físicas.

Se isso ficou um tanto confuso, atente apenas para o fato de que as informações fornecidas ao setup do micro sobre as características de um drive IDE podem ser fictícias, ou seja, o número de faces, trilhas por face e setores por trilha podem não corresponder ao que realmente existe no drive. Porém, para todos os efeitos práticos, isso não tem a menor importância, visto que todas as conversões entre o que existe de fato e o que o sistema "pensa" que existe são feitas inteiramente pela interface controladora. E nem você nem o sistema precisam se preocupar com isso.

Exceto por um aspecto, e extremamente vantajoso: a possibilidade se gravar um número virtualmente ilimitado de trilhas em cada face, combinada com a gravação em multizonas, permitiu aumentar espantosamente o aproveitamento do espaço em disco. Do que resultaram dois efeitos aparentemente paradoxais: um extraordinário aumento da capacidade dos discos e uma enorme redução em suas dimensões físicas. Meu primeiro disco rígido de grande capacidade era um MFM de 60Mb: um enorme e pesado tijolo que ocupava o espaço de dois drives de disquetes de 360k. Hoje minha máquina abriga dois IDE de 125Mb cada, pouco maiores que um maço de cigarros...

Pronto. Agora já temos informações suficientes para examinar (e entender) mais algumas características importantes dos discos rígidos. Que serão discutidas adiante.

B. Piropo