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10/08/1992
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Nesse ponto, já temos um bocado de informações sobre nossos discos rígidos. Já sabemos que os primeiros usavam um esquema de codificação de dados primitivo, mas seguro, denominado MFM. E que logo descobriram um outro esquema que "comprime" os dados, denominando-o de RLL. Sabemos que suas cabeças eram movidas por motores de passo e os cabos que ligam a placa controladora ao drive eram sujeitos a interferências que poderiam corromper os dados codificados. E que esses problemas podem ser contornados trazendo a interface para junto do drive e substituindo os motores de passo por um sistema em que uma face de um dos discos é dedicada apenas à gravação de informações sobre a localização das cabeças. Só não vimos que tipo de discos utilizam essa nova tecnologia. Mas acho que vocês já descobriram, pois não? Mas claro: são os chamados discos IDE. A sigla deriva de "Integrated Device Eletronics", ou "eletrônica integrada no dispositivo". E por uma razão muito simples: todos os circuitos eletrônicos de controle estão em uma placa de circuito impresso integrada à própria caixa do disco rígido. Em outras palavras: um HD IDE não tem placa controladora independente: ela está presa ao drive. Como? Você comprou um IDE que veio com uma plaquinha para espetar em um dos slots e o importabandista que lhe vendeu jura que aquilo é uma placa controladora? Então repare nela. Ou melhor: compare-a com uma placa controladora ST-506/412, aquela que estava ligada no seu velho disco MFM ou RLL. Viu como essa tem muito menos chips? Pois é. As "placas controladoras IDE" nada mais são que um dispositivo para comunicar eletricamente os contatos do drive e o barramento de dados da placa-mãe. Os chips que nela eventualmente existirem podem se destinar a qualquer outro fim, menos para controlar o HD (a maioria delas controla somente os drives de discos flexíveis, e algumas incorporam ainda portas paralelas, seriais e interface para joystick: são as placas "multi-I/O IDE"). Mas os dispositivos eletrônicos de controle do disco IDE estão integrados à própria caixa do disco. Senão não seria um IDE, pois não? Muito bem. E o que se ganha com isso? Ora, meu amigo, eliminam-se as maléficas influências de eventuais interferências nos cabos. É claro que se houver interferências elas continuarão a se manifestar, mas seus efeitos serão mínimos, posto que os cabos agora transportam dados não-codificados: toda a codificação e decodificação é feita na placa controladora, que agora está juntinha dos discos e imune a quaisquer interferências. E a interface ainda é a mesma boa e velha ST-506/412? Não sei, nem me interessa. Não me chame de malcriado: é que não interessa mesmo. Por que? Elementar, meu caro Watson: o tipo da interface só é importante para saber se ela é compatível com o drive. Sim, pois a interface dos velhos MFM e RLL ficava lá espetada no slot e nós a ligávamos a um drive que ficava preso no gabinete. E que tinha que ser compatível com ela. Nos drives IDE não: a interface vem "pregada" no próprio drive e é impossível ligá-la em outro. Se cada fabricante usar um modelo de interface proprietária, não fará a menor diferença, posto que ela será, evidentemente, compatível com o drive e será impossível ligá-la a outro. Mas essa não é a única diferença. Você já reparou que de vez em quando alguém reclama que não consegue formatar fisicamente um drive IDE? Pois deveria agradecer ao destino por não tê-lo conseguido, ao invés de reclamar: se porventura conseguisse, provavelmente inutilizaria o drive. Vamos entender por que: drives IDE usam motores tipo "voice coil" para mover as cabeças de leitura/gravação. Como você se lembra, esse tipo de dispositivo orienta as cabeças por meio de sinais magnéticos gravados em uma face dedicada apenas a esse fim: a cabeça que se move sobre essa face o faz continuamente (e não aos "saltos", como as movimentadas pelos motores de passo), lê a posição onde se encontra e informa ao motor. Que pode então, obedecendo a essas informações, deslocar essa cabeça (e todas as demais, visto que são solidárias) exatamente para as trilhas E dai? O que isso tem a ver com a formatação física? Ah, eu ainda não disse que nessa face dedicada estão gravadas não só as informações sobre as trilhas, mas também as concernentes aos setores. E essas informações já vem gravadas de fábrica e não podem ser alteradas sob pena de desorientar inteiramente as cabeças. Entendeu agora? Mas claro que sim, você se lembra que a formatação física (ou de "baixo nível") nada mais é que a gravação, em cada trilha de todas as faces, de "marcas" magnéticas que servem para que a cabeça correspondente encontre um determinado setor. Se algum usuário tiver a desventura de conseguir formatar fisicamente um drive IDE, vai fazer uma confusão dos diabos: a interface já não sabe como se orientar, se pelas marcas gravadas na superfície dedicada ou se pelas outras, gravadas em cada trilha. O resultado mais provável é um drive perdido. Ah, você tentou formatar fisicamente seu drive IDE e agora está preocupado? Tudo bem, fique tranqüilo: os fabricantes desse tipo de drive, prevendo que semelhantes estrepulias seriam feitas, prudentemente evitaram danos maiores impedindo que drives IDE aceitem formatação física. Alguns simplesmente a rejeitam. Outros, "fingem" que a aceitam, mas nem dão bola para ela. E preservam as informações gravadas na superfície dedicada. Ou não. Por que "ou não"? Bem, é que, lamentavelmente, os drives IDE mais antigos não incorporavam essa proteção. Não são muitos, mas ainda existem. Se você teve a pouca sorte de comprar um desses, e somou a ela a sorte pior de tentar formatá-lo fisicamente, provavelmente teve seus esforços coroados de êxito. Se é que se pode chamar de êxito a perda de um HD... De qualquer forma, não faça a experiência: jamais tente formatar fisicamente um HD IDE. B. Piropo |