Escritos
B. Piropo
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29/06/1992

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Para escrever a coluna Feed Back do jornal O Globo é preciso ler cartas e mais cartas. Muitas mais do que as que têm sido publicadas na seção de cartas, que o espaço não permite publicá-las todas. E tome carta.

Não estou me queixando: leio-as com enorme prazer. E de tanto as ler, acabei por formar uma boa idéia do que costumam conter. Primeiro, há aquelas dos que somente escrevem para dar um alô, fechar um agradável laço de amizade e ternura. São os muitos amigos invisíveis que se acaba ganhando quando se mantém um canal de comunicação sempre aberto, como o caderno Informática Etc. E a melhor recompensa que se pode obter de um trabalho feito, sobretudo, por amor. Depois, as que pedem. Felizmente, a maioria pede mais: mais colunas, mais cobertura sobre um ou outro assunto, mais artigos sobre essa ou aquela máquina, mais análises de programas, mais caderno, enfim. Que pena que não se possa atendê-las todas.

E há muitas outras. Dos mais diversos tipos e conteúdos. As mais comuns, trazem perguntas. De todos os tipos e sobre todos os assuntos. O que me faz pensar sobre a interessante relação que mantemos com nossas máquinas. Geralmente, uma relação de amor. Mas um amor um tanto conflituoso. E na maior parte das vezes, como nas relações amorosas, o conflito nasce do desconhecimento.

Nos outros casos de amor, não posso ajudar muito. Pois somos capazes de viver anos a fio ao lado de uma pessoa sem jamais vir a conhecê-la completamente. Já no da máquina há um jeito. Pois, por mais que ela nos pregue peças de quando em vez, é muito mais previsível e estável que qualquer de nossos amores. E embora se tenha escrito um número infinitamente menor de livros sobre micros que romances de amor, eles podem nos ajudar enormemente e elucidar grande parte das dúvidas sobre o comportamento da máquina. Já sobre o do ser amado, não há romance que ajude.

Então vamos lá. Mas antes, uma advertência: jamais teria a pretensão de elaborar listas definitivas sobre qualquer coisa. Os livros que mencionarei são os que mais me agradaram, não necessariamente os melhores. São, portanto, apenas uma questão de gosto pessoal. E somente foram citados porque sei que neles está a maior parte das respostas às perguntas que costumo receber.

Arrumei-os em três grupos. Livros sobre detalhes internos da máquina, sobre seu funcionamento e sobre programas. E vamos a eles:

Do primeiro grupo, há um insuperável. O autor é Winn Rosch e o título do original é "The Winn Rosch Hardware Bible", editado pela Brady. Tenho a edição de 1989 que, surpreendentemente em um campo que evolui tão rapidamente, está bastante atualizada. Há uma tradução em português, "Desvendando o Hardware do PC" que não li, mas espero que faça jus ao original. E há ainda um outro que já é um clássico, o do Peter Norton. Esse vem evoluindo com a máquina, edição após edição. A mais recente chama-se "Inside the IBM PC and PS/2" também da Brady. Há uma boa tradução em português, cujo título é "Desvendando o PC e PS/2", da Campus. Esses dois livros são absolutamente indispensáveis na biblioteca de qualquer micreiro que se preze.

Depois, há os que ensinam como usar a máquina. Evidentemente, quase todos são sobre o DOS, o sistema operacional ainda dominante. Destes, o melhor que conheço é "Running MS-DOS" de Van Wolwerton, da Microsoft Press. Meu exemplar é antigo, de 89. Na verdade uma tradução: "Usando MS-DOS", também da Campus. O livro chega somente até a versão 4 (talvez já exista uma nova edição abrangendo a 5, mas desconheço) e é excelente. Especificamente como referência, incluindo a versão 5, recomendo o "Ilustrated MS-DOS 5 and All Previous" de Russel Stultz, com tradução em português: "MS-DOS 5.0 - Guia de Referência Completo", essa da Makron. Mas se você já conhece algo sobre o DOS, deseja apenas se inteirar da mudanças (enormes) introduzidas na versão 5.0 e lê inglês, há um livro imperdível: "Upgrading to MS-DOS 5", de Brian Underdahl, da QUE. Desconheço se já existe tradução em português, mas o original é excelente.

Depois, bem, depois é o infinito: livros sobre programas. Há, literalmente, milhares deles. E sobre praticamente todo e qualquer programa que tenha feito algum sucesso. Planilhas, bancos de dados, processadores de texto (e quantos!), compiladores, linguagens, interfaces, tudo, enfim. E em todos os níveis, desde formidáveis compêndios de mil e tantas páginas e diversos volumes que desvendam os mínimos detalhes de qualquer programa até livros de bolso que se restringem ao básico e servem como manuais de referência. Nesse campo há de tudo, e em todos os níveis - inclusive de qualidade. Desde o picareta que traduz alguns comandos e funções do manual do programa e adota um título chamativo até trabalhos sérios que exploram coisas que nem o manual aborda.

Desses, não há como recomendar. Primeiro, porque são muitos. Depois, porque os programas que você usa não são necessariamente os mesmos que eu, e portanto nossas bibliotecas poderão ser bastante diferentes. Mas há algumas diretrizes que você pode seguir quando for comprar seus livros. Também aqui, nada de mágico ou definitivo: simplesmente o que eu costumo fazer quando compro os meus. E nesse campo, tenho um bocado de experiência.

Antes de mais nada, sempre que possível procure comprar livros de informática em livrarias que disponham de uma variada e atual coleção de títulos de informática. Senão você vai restringir sua escolha a um universo demasiadamente pequeno. Depois, aprenda que gastar alguns minutos folheando um livro antes de comprá-lo não é feio e pode lhe poupar muito aborrecimento. Veja o índice: será que os assuntos que ali estão são mesmo os que lhe interessam? Faça uma leitura dinâmica da introdução: geralmente ali o autor dá uma idéia geral do conteúdo. Depois, folheie o livro. Leia um trecho aqui, outro ali. O estilo lhe agrada? A linguagem é simples? O nível de detalhe é adequado? Se tudo isso lhe satisfizer, compre e leve para casa.

Ah, mais um detalhe: não adianta, depois disso, dormir com o livro debaixo do travesseiro, que não se aprende por osmose. É preciso ler. E com atenção.

De preferência, na frente do micro. Ligado, é claro...

B. Piropo