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27/01/1992
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< AS ENTRANHAS DE SEU MICRO > |
Nos últimos anos a tecnologia da informática pessoal evolui brutalmente. O que causou um fenômeno interessante sob todos os pontos de vista, principalmente o do usuário: a queda dos preços. Um XT com 256K de memória, sem disco rígido, custava dois mil dólares há alguns anos. Hoje meu filho está tentando vender o dele, com 1Mb e winchester por seiscentos e não consegue (cartas para a redação...). Por isto não me surpreende o enorme número de leitores que querem saber o que fazer para "transformar um XT em AT". O que é possível, sem dúvida. Mas que, como tudo na vida, tem suas vantagens e desvantagens. Esta semana e na próxima vamos procurar esclarecer o assunto e examinar os prós e contras. Mas para isto é preciso conhecer o interior de seu micro. O que vale a pena mesmo que você não pretenda trocá-lo. Abrir o gabinete de seu PC não vai causar mal algum: ao contrário, sugiro que você o faça. Vai lhe familiarizar com alguns componentes dos quais você tanto ouve falar nestas páginas e talvez não tenha a menor idéia de como sejam: basta retirar dois parafusos. Na maioria das vezes estão situados na parte traseira, um de cada lado, próximos à borda inferior. Tire tudo que estiver em cima do gabinete, retire o fio da tomada para assegurar que a máquina está desligada, remova os parafusos e escorregue para a frente a capa de metal. Em gabinetes tipo torre, são quatro ou seis parafusos na parte trazeira, junto à borda da caixa: remova-os e puxe a capa para traz. Se o gabinete tem tampa basculante, são dois parafusos laterais, a meia altura, próximos à face frontal e a coisa ainda é mais fácil: basta removê-los e levantar o topo do gabinete como se fosse a tampa de uma caixa de charutos. E lá estão, expostas à sua curiosidade, as entranhas de seu micro. Não se assuste com o emaranhado de fios e cabos: uma vez distinguido o joio do trigo, tudo é muito simples. Mas antes de continuar, uma advertência: abstenha-se de levar sua curiosidade longe demais e não comece a desencaixar os cabos de seus conectores. A maioria deles somente funciona em uma posição e se você os repuser na posição inversa vai ter problemas. E evite tocar os chips: alguns são sensíveis à eletricidade estática que você pode ter acumulado em seu próprio corpo, e um toque pode danificá-los. Por enquanto, limite-se a uma atenta investigação visual. Se o gabinete é torre, deite-o sobre um dos lados de modo que o interior fique visível. Se não é torre, deixe-o na posição normal. Coloque-se em frente ao micro e olhe de cima: na parte traseira e à sua direita existe uma caixa preta ou cromada da qual saem diversos fios. É a fonte de alimentação, cuja única função é receber a corrente alternada da tomada, transformá-la em contínua nas voltagens exigidas pelos diversos componentes do micro e garantir que estas voltagens não oscilem. Há muitos fabricantes, inclusive nacionais, e todos oferecem fontes de qualidade no mínimo aceitável. Sua característica de maior interesse é a capacidade, ou seja, a potência (medida em Watts) que pode fornecer. Em frente à fonte, junto à face frontal e ainda à direita, estão nossos velhos conhecidos, os drives. Em geral são dois, de formato variável conforme o tamanho dos discos que suportam. Os de 3"1/2 são pouco maiores que um maço de cigarros, os de 5"1/4 do tamanho de um livro grosso. Ao seu lado, também junto à face frontal, algo que se parece muito com um drive, mas é blindado e não tem a fenda por onde se introduz o disquete. Que sua sagacidade já deslindou que se trata do disco rígido. Que pode ser pequeno como um drive de 3"1/2 ou chegar até quase o tamanho de um tijolo, com altura igual à de dois drives de 5"1/4 empilhados. Dos drives nos interessa o tipo de disquetes que aceitam: dupla ou alta densidade, 3"1/2 ou 5"1/4. Dos discos rígidos, além da capacidade em Mbytes, o tipo de interface (IDE, ESDI, SCSI ou as tradicionais ST506/412) e esquema de codificação (MFM ou RLL). Agora, afinal, o que realmente importa: o coração da máquina, o computador propriamente dito. Lá embaixo, atapetando quase toda a base do gabinete, uma grande placa de circuito impresso jaz horizontalmente em toda a sua imponência, riscada por linhas douradas e na qual estão encaixados misteriosos componentes: a placa mãe. Em sua parte traseira há umas ranhuras com dezenas de contatos elétricos no centro de um suporte de plástico preto: os slots. Se seu micro é um XT, você deve encontrar oito deles, um ao lado do outro, com uma fenda contínua em cada: são os chamados "slots de oito bits". Em um AT, haverá dois ou mais destes, além de outros maiores e com uma descontinuidade, que parecem dois slots alinhados, um maior que o outro. São os "slots de dezesseis bits" e constituem a maneira mais fácil de distinguir entre uma placa mãe de XT e uma de AT: a primeira só tem slots de oito bits. Alguns destes slots estarão livres. Em outros você encontrará encaixadas mais placas de circuito impresso, menores, verticais e aparafusadas na traseira do gabinete: são as placas adaptadoras. Em geral ali estão pelo menos duas: a placa de vídeo e a de entrada/saída, também conhecida por "Multi I/O" (de Input/Output). A placa de vídeo é a mais fácil de ser identificada: dela sai um cabo ligado ao monitor. Algumas delas trazem também uma saída paralela (na qual pode ser ligada uma impressora) e um encaixe para mouse. Mas o monitor estará sempre ligado nela, em uma tomada na parte trazeira do micro. A placa multi I/O é na verdade um conjunto de diferentes controladores integrados em uma placa única apenas por conveniência. Por isto, não há grande padronização. Nela há pelo menos uma porta paralela e uma serial. A forma mais fácil de identificá-la é seguir o cabo da impressora: se não estiver ligado na placa de vídeo (o que é raro, mas possível, já que algumas placas de vídeo controlam também uma impressora), certamente estará na multi I/O. Onde também poderá estar ligado o mouse ou o modem externo (um modem interno nada mais é que uma outra placa encaixada em um slot). Nas placas I/O dos XT você pode ainda encontrar uma pequena bateria, que serve para alimentar um relógio interno (nos AT o relógio está na própria placa mãe). E os drives de disquetes estarão ligados à própria placa, no lado de dentro do gabinete, por um cabo chato e grosso (como alguns tipos que eu conheço): o disco rígido do XT é controlado por uma placa independente que cuida apenas dele. Nos AT, todos os discos - rígidos e flexíveis - são controlados por uma placa única, de dezesseis bits. A placa multi I/O por vezes se limita apenas a uma porta paralela e uma ou duas seriais. Ultimamente existem no mercado algumas placas para AT que controlam todos os discos e conjugam uma porta paralela e uma serial. E acabou-se. Pelo menos do lado de dentro. Por fora, há ainda dois itens importantes: o teclado e o monitor. E c'est finí. Agora feche o gabinete, reponha os parafusos e se prepare para discutir as diferenças básicas entre o hardware de um XT e (os diversos tipos de) AT. E não se esqueça de ligar o micro na tomada. B. Piropo |