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13/01/1992
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Antigamente era mais simples: disquetes mediam 5"1/4, tinham duas faces e armazenavam 360K, e temos conversado (não me venham falar dos disquetes de 8", dos de face simples e dos de oito setores por trilha, que estes são coisas da remota antiguidade). Já hoje se pode escolher entre dois tamanhos e quatro tipos. Com 5"1/4 há os de 360K e de 1,2Mb. E apareceram os novos (e melhores) disquetes de 3,5", de 720K ou 1,44Mb. Não vamos descer a desagradáveis detalhes técnicos: apenas lembrar que discos de 360K têm em cada lado quarenta trilhas concêntricas, divididas em nove setores. Todos os demais têm oitenta trilhas por face, variando apenas o número de setores por trilha: nove nos de 720K, quinze nos de 1,2Mb e dezoito nos de 1,44Mb. Todos com setores de 512 bytes. Os de 1,2Mb e 1,44Mb são de alta densidade. Os outros, por razões históricas, são conhecidos por "dupla densidade". Isto posto, responda rápido: qual o disquete mais sensível à gravação magnética, o de dupla ou alta densidade? Aposto que nove entre dez leitores responderam que é o de alta. E se você está entre os nove, lamento informar que errou. Não acredita? Senão, vejamos... Tome como exemplo os discos de 3,5". Repare que a única diferença entre os de alta e dupla densidade é o número de setores por trilha, dezoito contra nove. Agora pegue uma trilha qualquer, digamos a mais externa, por ser a mais importante, a trilha zero. Divida-a em nove segmentos iguais. Ai estão os nove setores do disco de 720K. Depois, divida cada um destes segmentos ao meio: você terá os dezoito setores do disco de 1,2Mb. E fica claro que em um disco de alta densidade os mesmos 512 bytes de um setor ocupam a metade do espaço que ocupariam em um disco de dupla densidade. Como é que se consegue isto? Fácil: aumentando a coercitividade. Não sabe o que é? Não, o Aurélio não vai adiantar: está lá, sim, mas não explica. Deixa que eu vou tentar: de forma simplificada, coercitividade é a capacidade de um meio magnético reter informações ao longo do tempo. A coisa é mais ou menos assim: a superfície do disquete é na verdade uma fina película que contém partículas magnetizáveis, um pequeno universo de imãs elementares. Quando a cabeça de gravação aplica um campo magnético sobre ela, os imãs se polarizam todos na mesma direção. Se o campo magnético é oposto, os imãs se voltam para a direção contrária. Gravar dados é isto: ao variar a polaridade do campo magnético a medida em que o disco gira e a trilha passa sob a cabeça, os imãs elementares vão "apontando" para uma ou outra direção, "valendo" um ou zero, respectivamente. Para ler a informação, a cabeça percorre a trilha, "sente" a polaridade do meio magnético e recompõe os bits. Simples, não? Mas acontece que a informação ficou gravada em pequeninos imãs. Que, como todo o imã que se preza, têm o hábito de se influenciarem mutuamente. Se você já brincou com um par de imãs sabe do que estou falando: aproxime os polos de mesmo nome de dois imãs e sinta uma incoercível repulsão. Já polos contrários se atraem irresistivelmente. Portanto, a própria informação gravada no meio magnético pode interferir com ela mesma e se anular com o tempo. Porquê isto não ocorre nos nossos disquetes? A resposta é coercitividade. A propriedade do meio magnético de manter os seus pequenos imãs "presos" em uma certa posição exceto quando influenciados por um campo magnético externo como os gerados pela cabeça magnética do drive ou pelo monitor (a propósito: corra e tire aqueles disquetes de cima do monitor enquanto eles ainda têm dados). Em outras palavras: em um meio de alta coercitividade os imãs elementares resistem mais às mudanças de posição. O que traz algumas consequências. Uma, desejável: o campo gerado por cada um deles não é suficiente para influenciar os demais. Outras, nem tanto: meios de alta coercitividade são mais caros e para neles gravar uma informação é necessário um campo magnético mais forte. E um meio que para ser gravado exige um campo mais forte, é menos sensível que os de baixa coercitividade usados nos discos de dupla densidade. O que faz com que cabeças magnéticas de um drive de alta densidade precisem emitir um campo mais forte que as dos de dupla. E responde à pergunta lá de cima. Dados gravados em disquetes estão seguros? Razoavelmente. Desde que você seja um bom rapaz ou moça exemplar e só grave 1,44Mb em meios de alta coercitividade. Para incentivar este hábito salutar os fabricantes de drives e disquetes de 3,5" se uniram e combinaram o seguinte: os disquetes de 3,5" e dupla densidade têm apenas um furo retangular com uma peça de plástico que o mantém aberto ou fechado para indicar que ele está ou não protegido contra gravação. Já os de alta, além deste, têm um segundo furo do lado oposto, que permanece sempre aberto. Os drives de alta, por sua vez, têm um sensor que pode detectar este segundo furo. Se ele não estiver lá, só gravam 720K no disco e não adianta espernear. Tudo corria na santa paz e todos eram felizes. Até que surgiu um americano esperto e descobriu que fazendo um furo adicional em um disquete de 720K poderia gravar o dobro das informações pelo preço de um furo (como será "Gerson" em inglês?). A coisa parece tão boa que estão até fabricando um aparelhinho para isto. A idéia parece boa. E funciona. Isto é, ao menos por algum tempo. Pois as informações são gravadas direitinho. E podem ser lidas direitinho. No mesmo dia. Talvez na semana seguinte. Talvez até nos meses seguintes. Com muita sorte, quem sabe depois de um ano. Mas o furo não altera a coercitividade do meio magnético. E gravar informações "apertadinhas" em um meio de baixa coercitividade tem uma inevitável consequência: elas começam a interferir umas com as outras. Só um pouquinho, naturalmente. Mas é uma força magnética permanente, insidiosa, pertinaz, que puxa os sagrados imãzinhos de seus dados para fora da posição correta dia e noite, todo dia, noite após noite. Talvez eles jamais se afastem da posição original a ponto de alterar seus dados. Mas só talvez. Recentemente o bravo Ronaldo, piloto de um 486, inclusive, me confidenciou sob seus vastos bigodes que usa disquetes furados para guardar o backup do disco rígido. Um frio percorreu minha espinha, acompanhado do fervoroso desejo que ele jamais precise de restaurar este backup. Eu nunca me arriscaria a tanto. B. Piropo |