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30/12/1991
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Ano novo, vida nova. Não sei por que, mas tem sido sempre assim: cada ano como o começo de uma nova era. Faz-se um balanço do ano que finda, regozija-se das boas ações e arrepende-se das não tão boas. Depois, passa-se tudo a limpo e tomam-se as inabaláveis resoluções de ano novo. Se você ainda não fez sua lista, ainda há tempo. E, se já, sempre pode incluir mais um item. Pois sendo assim, vou aproveitar a data para fazer uma sugestão. Não, fique tranqüilo, eu não teria o mau gosto de fustigar sua consciência falando em pirataria numa época assim tão festiva. O tema é mais ameno. Nada de muito sério, coisa pouca. Que nem sempre prejudica. E quando o faz, o mal recai sobre o próprio pecador. Ainda não descobriu? Então, ponha a mão na consciência, olhe firme dentro de meus olhos severos e responda: quando foi a última vez que você fez o backup de seu disco rígido? Para aqueles que não sabem - e duvido que sejam muitos - backup é o nome que se dá à cópia de segurança de um disco rígido (ou Winchester). Periodicamente todo o seu conteúdo deve ser copiado em disquetes (ou fitas streamers, para os que têm bala na agulha para tal). Este é o backup completo. Em períodos menores deve ser feito o backup incremental, ou seja, a cópia somente daqueles arquivos que foram gravados ou modificados desde o último backup. Esta tarefa é tão importante que o DOS mantém um "atributo de arquivo" somente para isto. Chama-se "archive" e é resetado toda a vez que se faz um backup e setado se o arquivo é criado ou modificado depois disto. Todo o mundo deveria fazer backups a intervalos regulares. Você faz? Pois é. Eu sei que é duro. Parece que todos nós partilhamos da ânsia de viver perigosamente. Não compreendo como tanta gente confia seus mais preciosos dados aos caprichos de um pedaço de metal enferrujado. E o curioso é que não é por falta de informação. Experimente: primeiro, assim como quem não quer nada, pergunte a qualquer micreiro que se preze sobre a importância do backup. Ele vem de lá com uma longa ladainha sobre a fragilidade dos discos rígidos e a falibilidade dos meios magnéticos, sempre acompanhada de histórias terríveis povoadas de dados irreparavelmente perdidos. Depois, pergunte com que freqüência ele recomenda fazer backup. Duvido que algum micreiro consciente lhe aconselhe a se arriscar mais de um mês sem backup. Então, sem misericórdia, pergunte quando foi a última vez que o dele foi feito. E prepare-se para ouvir uma balbuciante resposta cheia de subterfúgios e desculpas, acompanhada de um sorriso assim meio amarelo e de um rápido desconversar. Pois é. Então, vamos repetir aqui a ladainha: meios magnéticos são falíveis. Particularmente discos rígidos. Por mil razões. Você tem idéia de como é seu Winchester por dentro? Imagine uma câmara fechada com alguns discos metálicos com mais ou menos dez centímetros de diâmetro (8,9 ou 13,3, para ser preciso, dependendo do tipo), presos ao mesmo eixo e girando 3600 vezes a cada minuto que o micro está ligado. E isto não é mera força de expressão: ao contrário dos discos flexíveis, que somente giram ao serem acessados, os rígidos nunca param. Se parassem, a inércia dos discos metálicos exigiria cerca de trinta segundos para estabilizar a rotação - um tempo inimaginavelmente longo para uma leitura. Estes eixos se apóiam em mancais sujeitos a desgaste, como qualquer eixo que se preze. Já vi mais de um Winchester travado por desgaste dos mancais. Os discos são de alumínio revestido por uma fina camada de óxido de ferro ou de metal magnético. Em ambos os lados de cada disco há uma cabeça magnética voando baixo sobre ele. Também aqui o "voando baixo" não é exagero: o que mantém as cabeças separadas do disco são as forças aerodinâmicas geradas pelo deslocamento do ar provocado pelo movimento dos discos. A distância entre as cabeças e a superfície do disco é menor que a marca deixada por uma impressão digital. E elas jamais devem tocar o disco: ao se desligar um Winchester, devem ser movimentadas para a trilha mais interna, a chamada "zona de aterrissagem" e ali estacionadas. Nos discos modernos isto é feito automaticamente. Nos antigos, deve ser feito com o uso de um programa antes de se desligar o micro. Tudo isto para garantir que as cabeças jamais toquem diretamente a superfície onde estão gravados seus preciosos dados. Você já imaginou o que acontece quando, por exemplo, falta energia e as cabeças "desabam" sobre o disco? O impacto é semelhante ao da Challenger aterrisando. O que você pensa que acontece com os dados que estavam gravados naquele ponto? Pois assim é a vida. Um disco rígido é o periférico mais caro de seu micro e o menos confiável. Por mais que a tecnologia tenha evoluído nesses oito anos de existência dos Winchesters, é impossível ser de outra forma. Afinal, se você comparar a vida útil de um circuito integrado, um mero sanduíche de silicone sem peças móveis, com a de um disco rígido, não deve se surpreender com a diferença. E lá ficam armazenados seus programas e seus dados. Será que eles não valem um trabalhinho de vez em quando? Então, faça backup. Se seu micro é profissional, daqueles dos quais depende o leite das crianças, não fazer um backup completo a cada semana e um incremental diariamente é irresponsabilidade mesmo. Se é um micro amador, não envolvido em tarefas cruciais, faça um backup completo a cada mês e um incremental nos fins de semana. Menos, é expor seus dados a riscos desnecessários. Como? Quando foi a última vez que eu fiz o meu? Bem, você sabe, eu sou um cara muito ocupado. Esse negócio de escrever duas colunas por semana, cartas dos leitores, um livro nas horas vagas e ainda por cima ter que ganhar a vida, toma muito tempo. E, afinal de contas, eu sou um micreiro como qualquer outro. Mas, ano que vem, garantido: nunca mais uma semana sem backup. E que o próximo ano de todos vocês seja melhor, muito melhor que este que finda. Que, pelo menos para mim, foi muito bom. B. Piropo |