Escritos
B. Piropo
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16/09/1991

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Todo micreiro tem um amigo que "entende de computador" a quem pede socorro de vez em quando. Tudo bem: amigo é pra essas coisas. O problema é que meus amigos pensam que esse cara sou eu. De modo que volta e meia lá estou eu fuçando máquinas alheias.

Há alguns dias estava eu meio perdido em frente ao XT responsável pela organização da pequena empresa de um amigo. Coisas estranhas aconteciam: eu mudava de diretório e na tela sempre aparecia aquele "C:" com um "V" deitado na frente e apontando acusadoramente para o cursor piscante. E por mais que eu viajasse pela árvore de diretório, nada aparecia na frente do maldito C:. A gente se acostuma com as coisas certas, de modo que custei um pouco a entender o que estava acontecendo: o moço não tinha mandado incluir o subdiretório no comando "prompt". Pois vamos resolver isto, pensei. Basta editar o Autoexec.Bat do mancebo e lá enfiar o comando correto. Mudei para o diretório raiz, chamei o editor de textos do infante e mandei carregar o dito arquivo. E descobri, com hedionda surpresa, que o mequetrefe não tinha Autoexec.Bat! Pior: o salafra não tinha nem ao menos o Config.Sys!

Voltei para casa acabrunhado e pensabundo. Pois estava eu na Trilha Zero devaneando na estratosfera da HMA e ali pertinho havia um micro desprovido das peças mais elementares de sua vestimenta.

E um micro usado para fins comerciais, não um brinquedo de micreiro. Bem, pensamos eu e meu fecho eclair (já não se usam botões como antigamente), providências urgem. E serão tomadas incontinenti. Pois a partir de hoje pousaremos novamente os pés no chão e vamos começar a discutir a organização básica de nossas máquinas. Começando, como convém, pelo começo. E subindo aos poucos até chegar a uma estrutura decente para uma árvore de diretório que se preze. Então, mãos a obra.

Correndo o risco de parecer repetitivo como a vida de casado, volto a afirmar: o DOS é bastante flexível e pode se adaptar às suas necessidades e preferências. Mas para isto é preciso informá-lo quais são. O que é feito por meio de dois arquivos que ficam armazenados no diretório raiz de seu disco rígido: o Autoexec.Bat e o Config.Sys. Que passaremos a chamar doravante de arquivos de configuração.

Pois estes dois espécimens funcionam como uma espécie de caixa postal através de que você pode se comunicar com o sistema operacional, como se fosse um escaninho onde o DOS, toda a vez que você liga o micro, busca suas mensagens sobre a configuração desejada para a máquina e que programas serão executados ao iniciar a sessão de trabalho. São arquivos tão especiais que há alguns comandos que só funcionam dentro de um deles. E outros que podem funcionar fora, mas que foram feitos sob medida para serem neles incluídos.

Ambos são arquivos texto, ou seja, consistem de uma série de linhas de texto. Cada linha corresponde a um comando que o DOS lê e obedientemente executa. Primeiro os do Config.Sys e depois os do Autoexec.Bat, e na ordem em que lá estão. Só então lhe entrega o comando do micro. Eles devem estar no diretório raiz de sua máquina. Verifique: vá para lá, com o comando "cd \", e digite:

type config.sys

e tecle ENTER. Vão aparecer algumas linhas na sua tela (se surgir algo como "file not found" ou "arquivo não encontrado" leia com imensa atenção as próximas páginas...). Depois faça o mesmo com o Autoexec.Bat e repare nos comandos que ele contém. Pois vamos destrinchá-los um a um.

Como? Você é um micreiro esperto, está careca de conhecer estas coisas elementares, esperava que fôssemos agora discutir as sutilezas das redes neurais e resolveu pular este pedaço até a coisa voltar ao seu nível? Pois olhe que você pode se surpreender... Nas coisas simples há mais mistérios do que pode supor nossa vã prosopopéia.

Pois então vamos lá. Mas se você descobrir nas próximas páginas alguma coisa interessante e achar que vale a pena modificar seu Config.Sys ou Autoexec.Bat, aqui vão algumas advertências.

A primeira: para evitar que a senhora minha mãe, que nada tem com isso, venha a ser objeto de impropérios, antes de mexer nos seus arquivos de configuração faça uma cópia temporária com outro nome. Desta forma se algo vier a dar errado, basta apagar os novos, renomear os velhos e deixar D. Eulina em paz. Explicitando: se você vai editar o Config.sys, vá para seu diretório raiz e digite:

copy config.sys *.tmp

e tecle ENTER. Com isto você cria uma cópia fresquinha do seu velho Config.Sys chamada Config.Tmp. Se, após modificado, o novo Config.Sys não lhe agradar, volte ao diretório raiz, apague-o com:

del config.sys

seguido de ENTER, e ressuscite o anterior com:

ren config.tmp *.sys

e ENTER, e continuamos amigos. Claro que isto vale também para o Autoexec.Bat

A segunda: ambos os arquivos têm que ser ASCII puros. Explico: eles somente devem conter o texto dos comandos e mais nada. Achou lógico e pensa que a advertência é desnecessária? Pois então ao editá-los nunca use um editor que grave junto com o texto os códigos de formatação, como faz a maioria deles. A não ser que seu editor tenha uma opção de gravar texto puro, como por exemplo o "modo não documento" do WordStar, o "modo programador" do Carta Certa ou a opção de "não gravar formatos no arquivo" do Fácil. A maioria dos bons editores de texto tem uma opção semelhante. Mas o mais seguro é usar um editor de programas ou um dos que fazem parte de alguns utilitários como o PCTools ou XTreeGold, que não formatam texto. Se você usa o DOS 5.0, ele traz um editor de tela cheia chamado "Edit" que grava texto puro.

E, finalmente, após modificar o Config.Sys ou o Autoexec.Bat não espere que a modificação exerça efeito imediato. Lembre-se que o DOS somente toma conhecimento do que contém estes arquivos no momento em que o sistema é carregado. Daí para a frente ele os ignora solenemente até que venha a ser carregado novamente. Portanto, se você modificou um deles e quer apreciar o efeito da mudança, reinicialize o sistema com uma partida a quente, premindo as teclas Control, Alt e Del ao mesmo tempo. Após salvar o arquivo modificado, naturalmente.

Bem, isto posto podemos começar a examinar os comandos que podem ser incluídos nos nossos arquivos mágicos. Começando pelos essenciais. Na próxima segunda, sem falta.

B. Piropo