Escritos
B. Piropo
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15/07/1991

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Antes de discutirmos as máquinas baseadas nos microprocessadores 386 e 486 da Intel, que representam o "estado da arte" em micros pessoais, uma dica sobre seus nomes. Semana passada concluímos que, por falta de coisa melhor, elas podem ser chamadas de AT. Mas sempre incluindo a CPU depois das letras: AT386 ou AT486. Ou então, simplesmente de "386" ou "486", como muitos preferem.

Mas se você comprou um desses símbolos de status e quer demonstrar alguma intimidade com os mistérios da informática, não se aprochege de uma roda de micreiros e diga, casualmente: "Reparei que Windows roda muito mais rápido em meu trezentos e oitenta e seis..." E, se o fizer, não se surpreenda com os olhares arrevesados e discretos sorrisos de superioridade. Alguns vão se lembrar subitamente de um compromisso justamente para aquela hora, outros sentirão uma vontade irresistível de tomar um cafezinho. Ou, quem sabe, de voltar para o trabalho. E você vai ficar falando sozinho. Pois um micreiro esperto jamais di-lo-ia daquela forma. Diria, certamente, "meu três-oito-meia". Aquele "trezentos e tal...", decididamente, não é de bom tom e denuncia uma falta de intimidade com o micro imperdoável.

Porquê? Não me pergunte. Já era assim quando eu aprendi, nos tempos do "oitenta oitenta-e-oito". E do "oitenta oitenta-e-seis". E mais tarde, quando lançaram o "oitenta dois-oito-meia", era a mesma coisa. Meramente por uma questão de jargão. E agora, nos tempos do quatro-oito-meia, não é diferente.

Bem, isto posto, vamos ver em que essas pequenas jóias diferem de seus antecessores. Do modo virtual já falamos. Para os de memória curta, lembremos apenas que nesse modo um 80386 pode dividir a memória em um número praticamente ilimitado de "máquinas virtuais", cada uma simulando um XT, e todas funcionando ao mesmo tempo sem jamais interferir com as demais. A isso, no jargão computerês, chamamos de multitarefa. Mas o 386 tem ainda outras vantagens. Dentre as quais duas se destacam: velocidade e capacidade de endereçamento.

A velocidade com que um micro é capaz de rodar um programa é quantificada pelo número de operações elementares que ele pode executar em um dado intervalo de tempo. E nós sabemos que o maestro que rege a frenética sinfonia interna das nossas máquinas é a CPU: ela comanda todas as demais funções do micro.

Pois bem, da mesma forma que um disciplinado maestro usa um metrônomo para regular o andamento de suas peças, a CPU se apoia em um cristal oscilador para ajustar o do micro. A oscilação, após passar por alguns circuitos divisores de frequência, é aplicada a um dos terminais da CPU, e comanda seu funcionamento. Medida em MHz (megahertz), a frequência desta oscilação é conhecida como o "clock", ou "velocidade", da CPU, e corresponde justamente ao número de operações elementares que podem ser executadas em um segundo.

O XT original tinha um assombroso clock de 4,77 MHz. O primeiro AT operava a 6MHz, logo aumentado para 8 e depois 12 MHz. Pois o 80386 começou com 12,5 MHz e logo evoluiu para 16 MHz. Os atuais usam clock de 25, 33 ou 40MHz: quase dez vezes mais rápidos que o XT original. Se bem que hoje já sejam comuns os XTs operando a 12MHz e ATs a 16MHz, a diferença de velocidade dos 386, por si só, é apreciável.

Mas o desempenho superior da máquina não fica limitado a isso. Pois, sabemos nós, o 386 é um chip de 32 bits. E certamente, também para ele, vale aquela pequena mágica de abocanhar informações da memória em fatias maiores: enquanto um 8088 lê um byte por ciclo e um 80286 busca dois de cada vez, um 80386 consegue ler quatro. E como vimos ao discutir as diferenças entre máquinas de 8 e 16 bits, isso praticamente dobra a velocidade de operação. Portanto, na prática, um 386 operando a 40 MHz é quase vinte vezes mais rápido que o PC original.

Pois é isso. Se nos lembrarmos que, além de tudo, o 386 mantém total compatibilidade com os antecessores, desde o 8088 ao 80286, incluindo o famoso modo protegido deste último, acho que se pode considerar um 386 como um "super AT": faz tudo o que um AT286 faz, só que mais depressa. E ainda dá de lambuja o multiprocessamento. Convenhamos que não é pouco...

Como? Achou que falou-se tanto do 386 que não sobrou espaço para o 486? Mas não há mesmo muito o que falar: um 486 é um 386 "incrementado". As funções são exatamente as mesmas com apenas três diferenças (além do preço, naturalmente): o 486 pode ser mais rápido (chega a 50 MHz, o que é assombroso mesmo para os padrões de hoje) e tem um coprocessador matemático e um cache de memória "embutidos". No mais, os chips são virtualmente iguais. O que não quer dizer que tanto faz um quanto o outro: um micro com CPU 486 é notavelmente mais rápido que um 386, principalmente em programas capazes de usar o coprocessador. Mas, no que toca ao funcionamento, não há diferenças essenciais. Mais vale a pena falar do "primo pobre", o 386SX. Que é um 386 "desincrementado".

Na verdade, ele é quase idêntico ao 386: um chip de 32 bits capaz de multitarefas. A única diferença básica é que usa um barramento de memória de 16 bits, ao invés dos 32 da CPU. Assim, ao invés de acessar memória de quatro em quatro bytes, ele o faz de dois em dois, como os 286, reduzindo bastante a velocidade real de operação.

Lembrou-se da história do papagaio e achou isso uma mágica besta?

É porquê você se esqueceu que a parte mais sensível do corpo humano é o bolso: um 386SX perde apenas velocidade, mas sabe fazer todas as gracinhas do 386. E como usa componentes de 8 e 16 bits resulta em máquinas muito mais baratas. Para quem tem um orçamento curto e não precisa das vertiginosas velocidades do 386, um 386SX pode ser o passaporte para o paraíso da multitarefa. E a um preço pouco superior ao de um 286.

E aqui cabe um lembrete: para distinguí-lo do 386SX, é comum adicionar um "DX" ao final do nome do 386 propriamente dito, o de barramento de 32 bits. Que, então, fica: 386DX. Nas suas delicadas negociações com aquele executivo de fronteira que ofereceu um 386 baratinho, não deixe de perguntar se é um "DX". Perguntar, não custa nada. E não perguntar pode custar um bom punhado de dólares...

B. Piropo