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27/05/1991
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< Casar ou Comprar um Micro? > |
Muita gente me pergunta qual computador comprar. Para um micreiro experiente, isso soa mais ou menos como alguém perguntando com quem casar: é uma questão de gosto, empatia e, sobretudo, de afeição. Mas, se bem me lembro, há alguns anos eu perguntava o mesmo. Sobre o micro, naturalmente. O problema é que a resposta a ambas as perguntas impõe grau de dificuldade similar. Pois, com exceção de algumas almas afoitas, não se sai por aí a sugerir com quem casar. E nem que computador comprar. Mas pode-se ajudar. Por exemplo: entre casar e comprar um micro, opte sempre pelo último. Ele apresenta uma insuperável vantagem sobre qualquer consorte: o imprescindível botão de desligar. Acione-o, e ele para imediatamente de lhe aborrecer. Mas quanto ao tipo de micro, o que se pode fazer é dar informações de ordem geral. A decisão deve ser eminentemente pessoal. O primeiro ponto é crucial: software. Pois já estamos distantes dos tempos românticos dos pioneiros, quando a máquina era o essencial - programas eram desenvolvidos pelos heróicos usuários e trocados como aquelas figurinhas dos álbuns de antanho. Com a evolução da tecnologia e a conseqüente queda dos preços de hardware, as coisas mudaram radicalmente. Alguns softs custam mais que a plataforma onde rodam. E são tão complexos que um usuário jamais sonharia em criá-los. Portanto, é preciso que existam programas em abundância e facilmente acessíveis para seu futuro micro. Um micro hiper-super-ultra-sensacional sem programas é como uma Ferrari sem gasolina. O segundo ponto é igualmente importante: a finalidade da máquina. Pois micros, como qualquer equipamento, têm características distintas que os tornam mais ou menos indicados para um determinado fim. Você não iria disputar uma corrida de fórmula 1 pilotando o valente fusca da tia Eudóxia, nem usar o MacLaren do Senna para ir trabalhar: estaria mal servido em ambas as situações. E finalmente, a empatia. Pois fatalmente você vai desenvolver uma relação de afeto com sua máquina. Um orgulho de usuário que o fará, depois de algum tempo, ignorar as limitações e superestimar suas qualidades. Acompanhe as discussões nos BBS e tenha a certeza disso. É como torcida de futebol. E não tem jeito. Isto posto, sejamos práticos e penetremos no escorregadio terreno da vida real. Quais são as opções? Bem, exceto alguma coisa exótica trazida do oriente por aquele amigo hippie que voltou do Nepal, ficamos limitados às linhas MSX e PC, nacionais, e aos Amiga, PC e Mac que podem ser legalmente importados. Ou não. Eu sei que a turma do Commodore vai chiar, mas o que se há de fazer... E aqui entra o uso da máquina. Se você pretende apenas aproximar os filhos adolescentes do micro, descobrir como a coisa funciona, rodar alguns poucos utilitários e muitos jogos, um MSX serve. Mas não vai muito além disso. Há um parque instalado de cerca de duzentos mil no Brasil, mas creio que seu futuro é o mesmo limbo dos demais micros de oito bits. Embora suas limitadas potencialidades permitam um uso semi-profissional, a verdade é que não há aplicativos com recursos suficientes para tanto. Se você pretende uso mais sério, cedo ou tarde vai ter que mudar de linha. E isso, depois de ter investido uma grana razoável em periféricos, é doloroso. E em uma região particularmente sensível: seu bolso. Se você deseja o micro ideal para computação gráfica, editoração eletrônica e multimidia, pode optar entre o Amiga e o MacIntosh - o primeiro quase tão bom e a uma fração do custo do segundo. E ambos podem emular os PC, seja através de hardware, seja de software - se bem que isso deva ser encarado como uma situação contingencial. Afinal, para rodar os programas da linha PC, faz mais sentido comprar um que emulá-lo com outra máquina. Tanto o Amiga como o Mac são máquinas excelentes. Há software disponível para qualquer aplicação séria - no exterior. Aqui, não conheço casas especializadas. Se optar por uma delas, junte-se a um grupo de usuários - formal ou informal - que os programas pintam. Mas não espere encontrar uma assistência técnica especializada na sua esquina. Ou em nenhuma outra, para ser franco. Finalmente, se você quiser um micro para tudo o mais, incluindo joguinhos, editoração eletrônica, multimidia, aplicações comerciais, técnicas e o mais que lhe der na telha, opte pela linha PC. Que dispõe de dezenas de softhouses e milhares de programas em shareware e domínio público. Da maior base instalada no Brasil e no mundo. De todo o tipo de acessórios e periféricos. E de uma assistência técnica bastante razoável. Dentro dessa linha há diversas opções. Começando pelo XT, ainda muito útil. Equipado com um disco rígido de tamanho razoável, é um micro profissional, capaz de rodar eficientemente os três softs básicos que uma pequena empresa necessita: editor de textos, banco de dados e planilha eletrônica. Sem falar em um sem número de utilitários - e todos aqueles joguinhos, para quando o chefe está longe. E, passando por incontáveis laptops e notebooks, chegando a um 386 ou 486, capaz de tudo isso mais depressa, além de multitarefas: seu bolso é o limite. Dessa linha, pessoalmente, eu apenas não recomendaria o AT com CPU 80286: ficou "espremido" entre os XT e os 386, e me parece hoje uma espécie em extinção. Finalmente uma questão delicada: nacional ou importado. No que toca à linha PC, e puramente do ponto de vista técnico e de performance, não faz a menor diferença. Exceto de preço, naturalmente: lamentavelmente, os nacionais são bem mais caros. Quanto ao aspecto legal, se "importado" é o que eu estou pensando, aí melhor você se entender diretamente com o Tuma. Macaco velho não mete a mão em cumbuca. Talvez vocês tenham percebido alguma parcialidade nestas páginas. É possível. Afinal, metade do tempo que passo acordado estou aqui batucando nesse teclado. E não se faz isso sem amor pela máquina em que se trabalha. E já devem ter desconfiado: sou um empedernido usuário da linha PC - egresso de um MSX. Pois é isso. Então, dê um desconto e escolha seu micro. E, com qualquer deles, seja feliz. B. Piropo |