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25/03/1991
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Há algum tempo, uma jovem reclamava que, no curso de informática que fazia, tentavam lhe ensinar Pascal quando ela achava mais coerente iniciar o aprendizado de linguagem pelo BASIC. Me parece que ela tem razão: não há sentido em aprender Pascal antes do BASIC. Você sabe de onde vem o nome BASIC? É um acrônimo de Beginners All-purpose Symbolic Instruction Code, ou sistema de codificação de informações de uso geral para principiantes. E geralmente é por ela que se começa, pois é uma linguagem interpretada - que permite ao programa ser executado pelo interpretador uma linha de cada vez. Desta forma é possível experimentar o código, tirando as dúvidas a cada passo, e só então montar o programa. O Pascal, por outro lado, é uma linguagem estruturada, mais poderosa, gera um código menor, não depende de um interpretador - que é outro programa - cada vez que vai rodar, mas é uma linguagem compilada. Quer dizer: você faz todo o programa em um editor de texto e usa um compilador para montar o código de máquina, gerando um programa executável independente. Se cometeu algum erro, terá que descobri-lo quando o programa for executado, corrigir e repetir todo o processo. O que exige algum conhecimento. Quanto ao "C", é apenas outra linguagem, parecida com Pascal. O assunto é controverso, e isto vai gerar uma série de protestos, mas eu, particularmente, acho o "C" mais flexível, possibilitando um domínio maior da máquina, e prefiro programar com ela. É uma linguagem extremamente rica e poderosa, que dá ao programador quase tantos recursos quanto o temido assembly. Que por sinal não é nenhum bicho de sete cabeças. E, por fim, o mouse é apenas um simpático dispositivo de entrada. Não se assuste que a coisa é simples: é um aparelhinho que repousa sobre a mesa, e cabe na palma da mão, com dois ou três botões que ficam sob seus dedos. Dele sai um cabo para uma das portas seriais do micro. O bicho, com o fio e tudo, parece um ratinho - daí o nome. Quando tudo está montado, e um programa especial carregado na memória, aparece na tela um cursor. Quando você move o mouse sobre a mesa, o cursor acompanha esses movimentos. Conforme a posição do cursor, quando você aperta um dos botões, acontece alguma coisa - que depende do programa. Você pode desenhar linhas, marcar pedaços de imagem para mover na tela, escolher funções para serem executadas e coisas assim. Para programas gráficos, é sensacional. E é útil até mesmo em editores de texto: ao invés de entrar um comando complicado pelo teclado, basta mover o cursor até um ponto do menu e clicar. Um barato. Foi uma novidade lançada pelo MacIntosh da Apple e absorvida pelos PCs. Finalmente, seu micro. Aqui o assunto é delicado, pois envolve dinheiro. Que anda escasso em todos os bolsos e não deve estar sobrando no seu. E também é um assunto que gera uma certa controvérsia. Mas você pouco ou quase nada vai fazer com uma máquina que não tenha programas. E, se você pretende qualquer aplicação séria, inclusive e principalmente na área de programação, o padrão é a linha dos compatíveis com o PC da velha IBM. Pelo menos no Brasil, onde você pode encontrar todo o tipo de software nacional e importado. E não se assuste tanto com o preço: leia a seção de informática dos jornais especializados em anúncios classificados, que para sua surpresa você vai encontrar micros dessa linha por pouco mais do que pagaria por aquele que você mencionou - se acrescentar os custos de pelo menos um drive e um monitor decente com placa para 80 colunas, indispensáveis para trabalhos sérios. E fique certa, Adriana, que você está no caminho correto. Ingressando em um mundo fascinante, cheio de segredos e tropeços, mas riquíssimo em compensações. Principal e especialmente se você se dedicar à programação. Destrinchar os mistérios da máquina, doma-la, extrair dela exatamente o que você quer - ou quase. Tentar de novo e chegar mais perto. Insistir. Aprender. Deslindar. Resolver problemas. Usar sua criatividade e imaginação para produzir algo útil. Tudo isso é uma experiência incrivelmente gratificante. E você vai descobrir, como eu, que além de ser uma inexcedível ferramenta de trabalho, o micro é uma inesgotável fonte de prazer. P.S.: E não mude seu estilo. A tal carta "estilo comercial" seria provavelmente muito chata. Ler essa foi um prazer. B. Piropo |