Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
26/12/2005

< Via Crúcis >


Tentar proibir tráfego de voz sobre IP (VoIP) através da rede telefônica soa com um movimento de cocheiros proibindo o trânsito de automóveis nas mesmas ruas em que trafegavam seus tilburis para inibir a disseminação das “carruagens sem cavalo”. Não obstante, há dois meses circulou a notícia que a Telemar proibira os usuários de Velox de usar VoIP.
Não creio que tenha sido a decisão mais inteligente do ano. Pois, além de provocar um puxão de orelha da Anatel (que informou que, sendo o Velox uma modalidade de Serviço de Comunicação Multimídia, a Telemar não poderia proibir o VoIP) há de ter causado a perda de um número razoável de usuários. Inclusive este que vos escreve que, ao tomar conhecimento da novidade, tratou de fugir das concessionárias de serviços telefônicos que temem a concorrência e migrou para um serviço de Internet rápida via cabo.
Depois de algum tempo com ambos os serviços instalados e constatando que o Virtua se mostrava não apenas mais confiável como também mais rápido que o Velox, decidi ligar para a Telemar para cancelar este último. E, como tenho mais de uma linha telefônica em casa, transformar uma delas em “fale local”. Foi assim que começou minha via crúcis.
O comportamento da Telemar quando se solicita o cancelamento de um serviço lembra a definição de Mark Twain para “banqueiro” (“um cara que lhe empresta um guarda-chuva quando o sol brilha mas o pede de volta assim que começa a chover”): cobra preços extorsivos pelos serviços enquanto se precisa deles, mas oferece mundos e fundos quando se pretende cancelá-los. Inclusive recorrendo a mentiras (uma das atendentes me disse que era tecnicamente impossível transformar em “fale local” uma linha que tinha Velox, quando tenho amigos que já o fizeram). E tanto insiste que após passar por diversos atendentes, cada um mais educado e persuasivo que o outro, acabei aquiescendo (diante da promessa de um desconto de noventa porcento na tarifa e da dispensa do “aluguel” do modem) em transferir o Velox para a segunda linha, o que ensejaria a solução de um problema: acesso à Internet de um dos computadores que tenho em minha rede WiFi, que padece de terríveis interferências dos telefones sem fio dos vizinhos.
Para cancelar serviços a Telemar é insuperável: o sinal do Velox sumiu da linha antiga minutos após confirmado o cancelamento e ela tornou-se “fale local” quase imediatamente. Já a instalação do Velox na outra, prometida para 72 horas...
Encurtando uma história chata: após duas semanas de espera, perdi a paciência. Aí, aconteceu de tudo. Desde um atendente, diante de minha irritação, ordenar que “baixasse o tom de voz ao falar com ele”, negar-se a fornecer seu nome completo e, diante de meu pedido para falar com seu supervisor, transferir-me para um atendimento no Ceará (juro!) até, quando eu insistia em falar com o atendente da “área de qualidade” que me havia me convencido a manter o Velox, ser atendido por uma moça que tentou se fazer passar por ele e, apesar da voz claramente feminina, insistir que era o rapaz (casos que, diga-se de passagem, constituíram a exceção que confirma a regra: das dezenas de atendentes com quem falei durante a penosa travessia, estes foram os únicos que destoaram do padrão de educação e eficiência do atendimento telefônico). Isso tudo para conseguir, afinal, a instalação do Velox na segunda linha. E encontrar em minha “secretária eletrônica” um recado da Telemar informando que bastaria que eu mesmo transferisse o modem de uma linha para outra que o sinal seria enviado.
Fiz isso e liguei para o atendimento. Fui informado que quem deixou o recado se enganara: o sinal somente poderia ser liberado após a visita de um técnico para confirmar que a instalação estava correta. Então, que venha logo o técnico.
Veio, mas quatro dias depois. Era um “ténico”. Informou que era preciso trocar o modem porque, em suas palavras, cada modem vem “garrado” em uma linha e o modem que funcionava em uma não funcionaria em outra. E ainda tentou me convencer desta sandice.
Tudo bem, se ele fazia questão de trocar o modem que o fizesse. Mas, por favor, deixasse o novo modem configurado para ser ligado a um roteador, como o outro, já que eu pretendia usá-lo em outra rede. De jeito nenhum, disse o “ténico”, ele só faria instalação como “bridge”, se eu quisesse diferente que me virasse.
Botei o cara para correr de minha casa e me livrei do Velox para sempre. Que, afinal, era o que eu queria desde o início.
Quanto ao VoIP, voltarei a falar dele em 2006 que, tenho certeza, será um ano magnífico para todos vocês. Até lá.

B. Piropo