< Trilha Zero >
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25/07/2005
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< Quase > |
Provavelmente vocês leram semana passada aqui mesmo no caderninho o anúncio do fim do OS/2. Uma nota perdida no pé de uma página, modesta, enxuta, dando conta que a IBM não mais venderá o produto. Se quiser mais detalhes – mais não muitos, já que até a própria IBM foi bastante lacônica sobre o assunto – visite a página < http://www-306.ibm.com/software/os/warp/ >. Para ser franco eu sequer pretendia me referir ao assunto. Afinal, nesta altura do campeonato, até eu mesmo já estou cansado da minha velha ladainha lamentando a morte do OS/2 e definitivamente não estava com disposição para mais uma nota fúnebre. Mas eis que de repente recebo uma mensagem do leitor ClaudiB (é assim que ele assina) com apenas uma frase e um atalho. A frase é “Provavelmente você já leu, mas...” e o atalho, < www.wincustomize.com/Articles.aspx?AID=81265&u=0 >, aponta para um artigo postado em um Fórum de discussão. Que eu não havia lido. O autor (ou seria apenas quem postou o artigo no Fórum? Não dá para saber) assina “Draginol” e, aparentemente, ocupava um cargo de direção em uma empresa que vendia software para o OS/2. O título do artigo (disponível apenas em inglês) é “Uma história do IBM OS/2: 1991 a 1996; sob a perspectiva de um vendedor independente de software para o OS/2”. Um artigo que, além de contar detalhadamente a triste história do nascimento, vida e morte de um bom produto, o faz de um ponto de vista bastante peculiar. Segundo Draginol, o OS/2 começou a morrer mesmo antes de nascer, quando em 1991 a IBM decidiu que a versão 2.0 de seu sistema operacional somente seria lançada com a interface gráfica (conhecida como “Workplace Shell”) e suporte transparente a Windows. Isso atrasou o lançamento até meados do ano seguinte (mais especificamente, até 31 de março de 1992, data oficial do lançamento) e deu tempo à Microsoft de aperfeiçoar o então claudicante Windows 3.0 e lançar em abril de 1992 a versão 3.1, muito melhor e mais estável. Segundo Draginol, se a IBM tivesse lançado o OS/2 um ano antes, estaria concorrendo com Windows 3.0 e, mesmo sem a interface gráfica, sua formidável estabilidade, a capacidade de rodar diversos programas ao mesmo tempo com suporte direto do sistema operacional (até 1995 todas as versões de Windows rodavam sobre o DOS, um sistema operacional já então inteiramente ultrapassado) e o suporte a programas “de 32 bits” fariam com que ele ganhasse facilmente a disputa com um rival muito mais fraco. Já com Windows 3.1 a coisa foi diferente. Mas este foi apenas o primeiro grande erro. O segundo, ainda de acordo com Draginol, foi justamente a estratégia de fazer com que o OS/2 fosse um sistema operacional voltado para o usuário doméstico e não para o cliente corporativo, uma decisão tomada em 1993 após o lançamento da versão OS/2 2.1. Diz ele que a IBM não estava preparada para a demanda que essa decisão exigia. Seu pessoal de suporte, acostumado com perguntas do tipo “como conectar clientes OS/2 com uma rede Novell” ou “como configurar pilhas TCP/IP”, simplesmente não sabia explicar “como fazer (o jogo) Doom 2 rodar no OS/2 com som”. E como toda a publicidade do produto foi voltada para o usuário comum, o resultado foi absolutamente desastroso. Porém a afirmação mais surpreendente de Draginol está no final do artigo. Segundo ele, o que matou o OS/2 não foram esses erros e muito menos a concorrência da Microsoft com suas versões de Windows cada vez mais estáveis. O que liquidou com o sistema foi a decisão da IBM de voltar toda a sua equipe de desenvolvimento para transformá-lo no “Power OS/2”, o sistema operacional que iria equipar o Power PC, o formidável computador a ser montado em torno do revolucionário chip que, teoricamente, viria suceder à linha Intel. Com o fracasso do projeto Power PC a IBM acabou proprietária de um magnífico sistema operacional que não tinha computador para rodar. Diz ele, textualmente, referindo-se ao novo processador: “Quando ele deixou de acontecer, não apenas o Power PC não se firmou como a nova plataforma como também o OS/2 para o Power PC transformou-se em algo imprestável. Anos de trabalho e energia foram nele vertidos e conseqüentemente desperdiçados”. Se ele tem ou não razão, não sei. Mas sei que o artigo é bem escrito e vale a pena ser lido. Quando não por razões históricas. Afinal, o OS/2 quase veio a ser o sistema que quase todos nós quase usaríamos por quase toda a vida. Quase... B. Piropo |