< Trilha Zero >
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18/04/2005
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< Um alegre despertar > |
"To Sleep, Perchance to Dream; ay, There's the Rub." “Dormir, talvez sonhar; ah, eis o problema”. Esta frase, extraída do famoso monólogo de Hamlet, aquele mesmo do “ser ou não ser”, tem um alcance muito maior do que parece. Uma pessoa normal (se é que existe esse tipo de gente) passa um terço da vida dormindo. E toda a vez que tenta – seja por prazer, seja por necessidade – estender o período de vigília para além do que o organismo suporta, o resultado é um cérebro que funciona mal e um corpo que se recusa a obedecer à mente. O sujeito simplesmente desaba. Tem que dormir. Mas o sono é muito mais complicado do que parece. Ele apresenta duas fases, a “não REM”, ou NREM, e a REM (acrônimo de “Rapid Eyes Movement”, ou movimento rápido dos olhos). Um eletroencefalograma revela que elas apresentam padrões distintos de atividade cerebral. A primeira se caracteriza por uma sucessão de estágios de ondas cerebrais cuja amplitude aumenta pouco a pouco enquanto a freqüência se reduz. A pressão arterial diminui, respira-se mais lentamente, hormônios são liberados para o organismo. Durante esta fase o sono passa paulatinamente de “leve” a “profundo”. Alguns movimentos musculares podem ocorrer, assim como alterações na expressão facial. Ela é a fase inicial do sono e dura cerca de 45 minutos. Se o sono não for interrompido, sobrevém a fase REM, também conhecida por “sono paradoxal”, nome que ganhou porque, nela, o padrão de ondas cerebrais é muito semelhante ao que se manifesta quando se está desperto. Mas, embora o cérebro se agite, o corpo adota reação oposta: a tensão muscular desaparece e não há movimentos exceto o rápido mover de olhos que dá nome à fase. Quase toda a atividade, porém, se restringe ao cérebro. É nesta fase que se sonha. Se o indivíduo continua dormindo, terminada a fase REM inicia-se novo ciclo, começando por outra fase NREM seguida de nova fase REM. Tais ciclos se repetem quatro a cinco vezes por noite e cada um deles dura pouco mais de hora e meia. Acordar durante o sono “leve” que se manifesta no início de uma fase NREM deixa o indivíduo bem disposto, descansado e bem humorado. Acordar na fase de sono profundo ou, pior, na do sono REM, faz com que o pobre coitado se sinta mal-humorado, com o corpo “moído”, ranzinza. O tipo da coisa que pode estragar o dia. Como? Acha que pegou o caderno errado? Que nada. Não parece, mas essa coluna é sobre informática. Senão, vejamos. Axon Sleep Labs ( < www.axonlabs.com/ >) é uma empresa de Providence, estado de Rhode Island, EUA. Tem uma pequena porém aguerrida equipe de jovens que se dedicam ao desenvolvimento de um aparelho muito especial: o SleepSmart. Uma visita à < www.axonlabs.com/pr_sleepsmart.html > mostra com que ele se parece: uma trapizonga mui estranha com três sensores (eletrodos) e um microprocessador que controla todo o conjunto, acompanhada de um despertador. Digamos que você precise acordar lá pelas sete da manhã, mas não depois disso. Tudo bem: ajuste o despertador para as sete, prenda o SleepSmart à cabeça como se fosse uma bandana e vá dormir. O aparelho acompanhará a evolução de suas ondas cerebrais durante toda a noite, registrando os ciclos de sono. Quando detectar que você entrou no último período de sono leve antes das sete da manhã, enviará um sinal (comunicação sem fio, naturalmente) ao despertador que então acionará o alarme. Você acordará antes das sete, é claro (segundo Alex Shashoua, presidente da Axon, em média de dez a quinze minutos antes). Mas certamente despertará alegre, contente e bem disposto. Em entrevista a Katie Haughey, do Providence Business News (< www.pbn.com/contentmgr/showdetails.php/id/114257 >), Shashoua, diplomado em ciências da computação, informou que a idéia nasceu em um grupo de estudantes insones, sobrecarregado de trabalhos escolares e com algum conhecimento da mecânica do sono. O produto, ainda na fase de protótipo, já foi extensamente testado por todos os sete membros da equipe da Axon e será submetido à aprovação de uma clínica do sono de Rhode Island antes de ser comercializado. O que, segundo Shashoua, deverá ocorrer no próximo ano a um preço estimado de menos de duzentos dólares. O que, convenhamos, para garantir o bom-humor matinal, é uma bagatela... B. Piropo |