< Trilha Zero >
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29/11/2004
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< A era do MHz já era... > |
À guisa de argumentação, eu ia citar a freqüência de operação da CPU dessa máquina que vos fala. E de repente me dei conta que não sei qual é. Depois, lembrei-me dos anos 80, quando migrei de um 286 de 20 MHz para um vibrante 386 com seus vertiginosos 40 MHz. E de quando comprei meu 486 de 120 MHz. Mas como é que eu lembro das freqüências de operação dos processadores das máquinas que tive há mais de quinze anos e não sei a da CPU de meu micro atual? As más línguas dirão que é pura senilidade (os menos ferinos acrescentarão um misericordioso “precoce”). Mas eu me reservo o direito de discordar tão veementemente quanto a idade o permite. E afirmo que não lembro porque hoje esse número não tem a mesma importância que tinha há quinze anos. Pois meu 486, com todos os seus 120 MHz, não preenchia as minhas necessidades. E essa máquina em cujo teclado batuco essas mal traçadas é mais que satisfatória. Portanto não apenas desconheço sua freqüência como também não sinto qualquer anseio de aumentá-la. Semana passada realizou-se em São Paulo mais uma edição do IDF, o Intel Developers Forum, o primeiro realizado na América Latina. O evento, destinado a divulgar informações sobre as tecnologias que a Intel pretende incorporar a seus produtos, reuniu mais de quinhentos participantes. Os temas abordados foram demasiadamente técnicos para caberem aqui neste Caderno. Mas, na palestra de abertura, Frank Spindler, Vice-Presidente do Grupo de Tecnologias Corporativas da Intel, apresentou uma idéia interessante. Segundo Spindler, novos conceitos sobre desempenho e inovações no campo da informática mudaram as expectativas dos usuários sobre suas máquinas. Hoje, em vez de freqüências de operação cada vez maiores, os usuários domésticos se interessam pela forma (tamanho e aspecto) das máquinas, facilidade de uso, capacidade de se comunicar sem fio, maior segurança e possibilidade de se conectar a uma rede doméstica. As corporações, por sua vez, em vez de processadores mais rápidos, preferem um menor custo total de propriedade (TCO, um valor que abarca todos os custos relativos à propriedade de um computador, desde o preço da compra até os custos dos softwares, gerenciamento e manutenção do sistema), maior segurança, automação (de gerenciamento e manutenção), virtualização (possibilidade de simular a existência de diversas máquinas em um único micro), escalabilidade (possibilidade de aumentar a capacidade do sistema à medida em que aumentam as necessidades da empresa) e no uso que é dado às máquinas de suas redes. Disse Spindler que a tendência de dar cada vez menos importância aos “megahertz” vem sendo estimulada por inovações radicais que romperam paradigmas há muito estabelecidos, como o advento da Internet, a disseminação da Internet rápida (“banda larga”), a facilidade de estabelecer conexões sem fio e a “convergência” (tendência de fusão entre os dispositivos de comunicação e os computadores, como os computadores de mão com telefone celular integrado). E citou alguns fatos para justificar essa afirmativa: o número de usuários da Internet cresce rapidamente e prevê-se que os 150 milhões existentes em 1998 evoluirão para 1,58 bilhão em 2010; hoje, metade das conexões à Internet são permanentes, utilizando a chamada “banda larga”; no próximo ano, estima-se que 700 milhões de computadores de mão estarão conectados à Internet; atualmente as vendas de telefones celulares que transmitem dados já superam as dos aparelhos capazes apenas de transmitir voz; estima-se que em 2008 o número de usuários de pontos de presença de rede sem fio (“hot spots”), seja usando o padrão WiFi, seja usando o padrão WiMax, supere a casa dos 75 milhões; e, finalmente, a cifra mais impressionante: a cada quatro segundos surge um novo ponto de acesso sem fio a uma rede. Spindler crê que como resultado da combinação desses fatores os usuários cunharam um novo conceito de desempenho que não se baseia apenas na rapidez de processamento, mas que a combina com novas características que incluem acesso a qualquer tempo e em qualquer lugar a uma computação mais segura. Em suma: o fato de eu desconhecer a freqüência de operação da minha máquina (só para matar a curiosidade de vocês, acabei de verificar e descobri que a freqüência efetiva é de 1,67 GHz) é absolutamente coerente com as idéias de Spindler. Penso que para uso doméstico “normal”, qualquer coisa acima de 1GHz é suficiente. O resto é firula. Resumindo: a era do MHz já era. B. Propo |