Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
01/11/2004

< Sobre a Relatividade da Estupidez >



Only two things are infinite, the universe and human stupidity, and I'm not sure about the former” (Somente duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez, mas eu não tenho certeza quanto ao primeiro) Albert Einstein

No que toca a usuários de computadores pessoais, há desde o paranóico que obedece religiosamente todos os preceitos de segurança até os que “não estão nem aí” para o problema. Na sua opinião, em que faixa se situa a maioria?

Antes da grande rede mundial e, sobretudo, da disseminação da Internet rápida (“banda larga”), segurança de computadores pessoais era uma questão de natureza privada. Se sua máquina fosse contaminada, paciência, problema seu. Agora, com os novos vermes capazes de coordenar ataques remotos a partir de dezenas de milhares de máquinas previamente infectadas, a segurança de PCs passou a ser uma questão de segurança nacional. Pelo menos é essa a opinião de Dan Caprio, do Department of Commerce dos EUA, citada no relatório final de uma pesquisa realizada pela AOL (America Online) e NCSA (National Cyber Security Alliance, uma organização privada de fins não lucrativos destinada a informar usuários de computadores sobre segurança) com o objetivo de apurar o grau de conscientização dos usuários sobre os riscos a que estão expostos quando navegam pela rede.

Durante a pesquisa, publicada segunda-feira passada, 329 usuários adultos de Internet (rápida e conexão discada) de 22 cidades americanas foram questionados sobre diversos aspectos do problema de segurança de seus micros e tiverem suas máquinas examinadas por técnicos da NCSA para identificar eventuais contaminações e verificar os dispositivos de segurança instalados e seu grau de atualização. Um bom resumo dos resultados é a frase de Tatiana Gau, Vice-Presidente da AOL, citada no relatório: “Ninguém andaria pela rua abanando um maço de notas ou largaria sua carteira de dinheiro em um local público. Mas é exatamente isso que a maioria dos internautas está fazendo”.

O relatório completo, em inglês, está disponível em <www.staysafeonline.info/news/NCSA-AOLIn-HomeStudyRelease.pdf>. Aqui vamos apenas comentar superficialmente os números mais relevantes.

A grande maioria dos entrevistados acreditava que seu computador estava protegido de ameaças via Internet (77%), seguro quanto a vírus (73%) e à salvo de hackers (60%). Não obstante, um em cada sete (15%) não tinha qualquer programa antivírus instalado e, nas máquinas dos que tinham, 67% dos programas não havia atualizado a proteção na última semana. Resultado: uma em cada cinco máquinas (19%) estava contaminada por pelo menos um vírus e quatro em cada cinco (80%) abrigavam, em média, 93 adwares ou spywares (uma delas acumulava mais de mil deles). Dentre as vítimas, a imensa maioria (89%) declarou desconhecer que tais programas existiam em seus micros e 90% desconheciam o que são e o que fazem adwares e spywares. No entanto, dois terços (63%) reclamavam da abertura inopinada de janelas “pop-ups”, dois em cada cinco (43%) tiveram a página inicial de seu navegador trocada à sua revelia e 40% alegaram que suas buscas eram redirecionadas. Quase todas (95%) as vítimas de declararam que não haviam dado permissão para a instalação dos programas e muitas (86%) pediram aos técnicos que os removessem.

Quase a metade (38%) dos usuários de conexões sem fio as deixavam completamente “abertas” (sem criptografia). Dois terços dos usuários (67%, metade dos quais dispunha de Internet rápida) não usavam qualquer tipo de firewall. Três em cada cinco (58%) desconheciam a diferença entre um firewall e um programa antivírus e mais da metade (53%) simplesmente não sabiam o que é e como funciona um firewall. Não obstante, a vasta maioria (84%) armazenava dados confidenciais em suas máquinas (registros financeiros e médicos) e usava seus micros para transações financeiras via Internet (74%). A situação é assustadora.

Se você achou a frase de Einstein que precede esta coluna um tanto deslocada, permita-me uma observação: o que leva os usuários de PCs a adotar o comportamento acima delineado não é estupidez, é apenas ignorância, desconhecimento dos perigos a que estão expostos, algo perfeitamente natural para quem não é especialista em informática ou segurança. Portanto a frase não se refere a eles.

Refere-se, sim, aos pobres de espírito que esbanjam conhecimento técnico para desenvolver vermes, vírus, cavalos de Tróia ou similares, comprometendo uma das ferramentas mais formidáveis até hoje engendradas para difusão de informações e democratização do conhecimento.

Para eles que, sem exceção, se julgam gênios, a frase cai como uma luva.

B. Propo