No último dia 17 a Intel promoveu, em São Paulo, a terceira edição do Wireless Fórum Brasil. O tema deste ano foi “convergência digital” e o destaque foi a presença de Pat Gelsinger, principal executivo da área de tecnologia da Intel.
Trocando em miúdos, “Convergência digital” é a nova designação daquilo que chamávamos de “telemática”, a fusão das tecnologias de telecomunicações e informática. Porque, se já há alguns anos não se pode pensar em telecomunicações sem o concurso da informática, muito em breve não se poderá pensar em um equipamento de informática não conectado, provavelmente através de uma tecnologia sem fio. E quando digo “equipamento de informática” não me refiro apenas a computadores de mesa ou portáteis (“notebooks”): uma pesquisa do Yankee Group de novembro de 2002 revelou que, no Brasil, brevemente o número de dispositivos como micros de mão (PDAs), SmartPhones e sistemas de mensagens bidirecionais superará o de micros portáteis para acessar dados sem fio. E não será um número pequeno: uma pesquisa do mesmo grupo revelou que, em agosto do ano passado, 23% das empresas brasileiras pesquisadas já usavam redes sem fio e 36% tinham a intenção de usá-las em um ano (ou seja: se efetivamente o fizeram, hoje mais da metade delas já recorrem a comunicação sem fio para troca de dados empresariais).
Sendo a tendência irreversível a Intel, à exemplo da concorrência (veja artigo “BREW 2004” da semana passada, ainda disponível na seção “Escritos/Artigos no Globo” de meu sítio em <www.bpiropo.com.br>), embarcou na canoa. E abraçou programas como Centrino (um conjunto de tecnologias voltadas especificamente para comunicações sem fio entre dispositivos portáteis), Intel PCA (Personal Client Architecture, métodos de desenvolvimento e implementação de aplicativos para dispositivos de transmissão de dados sem fio), tecnologia “wireless on-a-chip” (um módulo de comunicação sem fio, memória flash e processador em um único circuito integrado) e “Radio Free Intel”, uma filosofia que fará com a fabricação de dispositivos físicos projetados especificamente para comunicações sem fio seja supérflua, pois esta função passará a estar embutida em todos os dispositivos digitais. Um conjunto de tecnologias cujo emprego resultará em um mundo totalmente integrado formado por múltiplas redes sempre interconectadas.
Segundo Gelsinger, estamos no limiar de uma era que ele denominou da “renascença do rádio” e da qual, paradoxalmente, países em desenvolvimento poderão tirar mais proveito que os desenvolvidos – onde a existência de uma cara infra-estrutura de comunicações através de fios e fibra ótica atrasa a disseminação da tecnologia sem fio.
Um bom exemplo é o acordo entre Intel e MEC para a melhoria do ensino de ciências e matemática, no qual a interconexão de escolas com tecnologia sem fio (WiMax, para longas distâncias, WiFi em redes locais) desempenhará um papel fundamental. Um projeto piloto já está sendo implementado em Brasília. Um bom exemplo de como usar a tecnologia sem fio para vencer a exclusão digital.
Quanto à Intel, de fato está profundamente interessada nas comunicações. Mas não parece que pretenda deixar a informática. Segundo Gelsinger, na entrevista coletiva que concedeu no evento, o objetivo a Intel “não é se transformar em uma empresa de telecomunicações, mas tornar-se o líder no setor da convergência”. Uma meta e tanto...
OS: Renata Rocha (<www.renata.org>) é “uma nerd assumida”. Foi minha aluna ano passado. Por alguma razão (desencanto, talvez?) abandonou o curso. Mas, na época (21/08/2003), postou em seu blog o seguinte comentário que somente encontrei semana passada “Então eis que eu agora faço ‘Fundamentos da Computação Digital’ com aquele senhor que é colunista do Grobro, o B. Piropo. Sim, ele é professor, e devo dizer que ele é uma figuraça e faz com que quatro horas passem sem que você nem perceba. Eu geralmente tenho restrições a colunistas de jornal de um modo geral e cheguei na aula dele com um certo receio de encontrar um professor popstar. Bem, ele é um popstar. Mas ele tem noção - sabe que a matéria dele é sonífera pra algumas pessoas - e dá um jeito de fazer a aula ser bastante divertida. E, convenhamos, é no mínimo curioso ter aula de informática com um senhor de uns sessenta e algo, de cabelo chantibom e suspensórios coloridos. Assistirei com o maior prazer”. Certamente não era essa a intenção dela mas, sendo ou não, aí está o maior elogio que um professor pode almejar. Obrigado, Renata.
B.
Piropo