Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
14/06/2004

< Quinze Anos >


Quanto tempo quinze anos representam? Muito? Pouco? Acho que depende.
Para a debutante, certamente muito. Afinal, é toda a sua vida (será que nos dias de hoje as meninas ainda debutam?). Já não representam tanto para o sexagenário. E para a informática?
Essa questão me veio a mente dia desses, arrumando a coleção de revistas velhas para abrir espaço no quarto dos fundos, ao me deparar com uma antiga PC Computing, excelente revista que já não mais existe. O exemplar era de janeiro de 1989 e o artigo de capa era "Best bets for 1989", algo como "O que esperar de 1989". Resolvi dar uma olhada nas previsões para aquele ano.
A primeira, logo na abertura do artigo, furou. Segundo o autor, Peter Lewis, o DOS estava morrendo e aquele seria o ano crucial em que se decidiria que sistema operacional iria substitui-lo: Xenix ou OS/2. Sobre Windows, nem uma só palavra (embora, por acaso, o artigo seguinte da revista fosse "Confissões de um convertido para Windows" onde Dave Rowell explicava sua fascinação pelo Windows 2.1, mais conhecido por Windows 286, com uma descrição de suas vantagens que hoje fariam mais sentido na seção de humor que na de informática). É bem verdade que nessa época o OS/2 era desenvolvido em conjunto pela MS e IBM e Windows não passava de uma interface com o usuário que rodava sobre o DOS. Lewis não poderia saber que dois anos depois as empresas romperiam o acordo comercial, a IBM decidiria seguir em frente desenvolvendo sozinha o OS/2 (um sistema que, embora formidável do ponto de vista técnico, foi posto a perder por uma política mercadológica suicida) e a MS apostasse todas as suas fichas no Windows, promovido de interface a sistema operacional. Curiosamente hoje, passados quinze anos, a batalha dos sistemas operacionais é travada pelo Windows XP, descendente do Windows 286, contra o Linux, descendente do Xenix (descendência exclusivamente do ponto de vista filosófico, é bom esclarecer antes que eu seja esfolado vivo pela tribo do pingüim).
Mas as previsões mais interessantes são as que dizem respeito ao hardware. O artigo é feito na base das perguntas e respostas, e uma delas é "devo jogar fora meus disquetes de 5"1/4?" O autor recomenda cautela. Embora achando que, realmente, eles seriam substituídos pelos de 3,5", menores e com mais do dobro da capacidade, aconselha manter ainda por algum tempo os velhos discos flexíveis. E arremata: "as chances deles serem substituídos por um novo padrão parecem remotas". Quantos de vocês, informatas da era da Internet, já viram um disquete de 5"1/4?
Ainda sobre hardware, um comentário curioso. Respondendo à pergunta se 89 seria um bom ano para comprar um novo disco rígido (que, na época, ainda era conhecido por "winchester", para os que se lembram), Lewis afirmou categoricamente que sim. Mas o interessante são as razões que o levaram a concluir isso. A principal era a queda acentuada dos preços. Tanto assim que um disco rígido de 20 Mb (isso mesmo, megabytes, não gigabytes) poderia então ser comprado por US$ 250 e "cinco anos antes seria comprado por pelo menos dez vezes mais". Quer dizer: ele agradecia aos céus o preço ter baixado até doze e meio dólares por megabyte. Você tem idéia do custo por megabyte de seu último disco rígido? Faça as contas. Certamente foi algo parecido com um quarto de centavo de dólar. Cinqüenta vezes menos em apenas quinze anos...
É bom não esquecer que em 89 o mercado esperava ansiosamente o lançamento de um novo processador, o Intel 486. Em janeiro, o mês de publicação do artigo, as máquinas mais rápidas do mercado eram os Compaq Deskpro 386, com seus assustadores 25 MHz (sim, vinte e cinco megahertz apenas, não mais que isso). Mas eram raros. Quem dominava o mercado era mesmo o 286, cujo exemplar mais fogoso não passava de 20 MHz.
Isso tem a ver com a melhor lição da leitura do artigo, que deriva das considerações finais. Discutindo as tendências do mercado, diz Lewis: "a grande questão é saber se a IBM usará o 486 ou optará por um de seus chips proprietários". Reparou? O mercado de computadores pessoais, ansioso, esperava por uma decisão da IBM, sua líder inconteste, para traçar seu rumo. O domínio da empresa era tamanho que o que ela decidisse era lei. E isso foi apenas há quinze anos...
Quantas empresas esperam hoje pelas decisões da IBM no que toca aos computadores pessoais?
Um interessante ponto a ponderar, não lhes parece?

B. Piropo