VoIP
é o acrônimo de “Voice over Internet Protocol”.
Uma tecnologia que permite usar conexões Internet (principalmente
de alta taxa, ou “banda larga”) para transmissão
de voz. Simplificando: fazer chamadas telefônicas através
da Internet em vez da rede telefônica. Para isso basta digitalizar
a voz na origem, codificando os sons em uma sucessão de bytes
como se faz para gravar um CD de áudio, e transmiti-los em
“pacotes” através da Internet. Como o conjunto
de bytes que contém um trecho de conversação
digitalizada não se distingue de qualquer outro conjunto
de bytes que transporta outros dados, não há empecilhos
para transmiti-los via Internet. O problema é que, para viabilizar
uma conversação, tudo isso tem que ser feito em “tempo
real”, ou seja, a voz deve ser digitalizada, transmitida e
recebida pelo interlocutor praticamente ao mesmo tempo em que as
palavras são pronunciadas (para saber mais detalhes sobre
a tecnologia VoIP consulte o excelente sítio “VoIP
Howto”, de Roberto Arcomano, em <www.tldp.org/HOWTO/VoIP-HOWTO.html>
– infelizmente apenas em inglês).
Com a evolução do hardware e com o aumento da rapidez
das conexões Internet, do ponto de vista tecnológico
implementar uma conexão VoIP hoje é brincadeira de
criança. Ou seja: em tese, nada impede que você e um
interlocutor, digamos, em Tóquio, mantenham uma conversa
em tempo real usando seus computadores equipados com placas de som
“full-duplex” (que transmitem e recebem simultaneamente)
e o software adequado. E se isso ainda não se espalhou no
Brasil deve-se a problemas legais (não é preciso muito
esforço para imaginar qual a opinião das empresas
telefônicas convencionais sobre esta tecnologia e dos esforços
que fazem para impedir que se dissemine).
Mas nos EUA é diferente. Lá, apesar do esperneio –
inclusive judicial – das teles, existem diversos provedores
que oferecem o serviço. Pelo menos dois gratuitos: o Skype,
em <www.skype.com/>
e o FreeWorld Dialup, em <www.freeworldialup.com/>
(atenção: apesar de citá-los aqui, jamais usei
seus serviços, não sei em que condições
a gratuidade é oferecida nem se eles instalam “spywares”
ou “adwares” juntamente com o software que fornecem,
se a qualidade das ligações é aceitável
ou se há algum impedimento legal para usá-los aqui
no patropi; o assunto desta coluna não é sua existência,
mas um curioso desdobramento disso, como se verá adiante;
portanto não os estou recomendando ou referendando, apenas
citando, e quem quiser experimentá-los, que o faça
por sua conta e risco). Além de outros, como o Vonage, em
<www.vonage.com/>
e “8x8”, em <www.8x8.com/>,
que exploram comercialmente serviços de VoIP.
Como eu disse, eles não são o assunto desta coluna
– o que talvez lhe cause espécie, já que passamos
da metade dela e não falamos de outra coisa. Mas logo você
entenderá o porquê disso.
Acontece que depois do malfadado onze de setembro, os Estados Unidos
se viram tomados por uma histeria coletiva. E desandaram a aprovar
e aplicar leis anti-terrorismo. Um efeito direto disso é
a decisão de cumprir a exigência de uma lei de 1994
(CALEA, “Communications Assistance for Law Enforcement Act”)
que obriga os responsáveis por serviços de telecomunicações
a oferecerem meios de gravar quaisquer conversas telefônicas
(desde que, naturalmente, solicitadas pela autoridade judicial competente).
Uma coisa muito fácil de ser feita nas centrais telefônicas,
naturalmente.
Mas como fazê-la nos serviços VoIP, onde as conversas
são codificadas em pacotes de bytes transmitidos sucessivamente,
cada um por uma rota diferente, e absolutamente indistinguíveis
de quaisquer outros pacotes de dados? Hoje, não existe tecnologia
para isso. Jeff Pulver, fundador de um dos provedores gratuitos
acima citados (o FWD), declarou que apenas para verificar se isso
pode ser feito ele necessitaria desenvolver “um projeto científico
com duração de meses” (veja artigo de Bem Charny
em <http://zdnet.com.com/2100-1103_2-5159159.html>).
Em suma: os provedores de serviço VoIP nos EUA estão
diante de uma exigência legal relativa a assunto de segurança
nacional que simplesmente não podem cumprir. E estão
sendo instados a fazê-lo pela FCC, órgão do
Governo americano responsável pelas telecomunicações.
Conversando sobre o assunto com uma pessoa sensata, comentei até
que ponto a histeria coletiva anti-terrorismo pode chegar. E ouvi
como resposta: “Histeria nada! Aposto que por trás
disso tem o dedo das teles americanas”.
Será? Sei não. Mas, se non é vero...
B.
Piropo