Paul
Otellini, presidente e executivo chefe da Intel, foi escolhido para
apresentar a palestra de abertura ("keynote speech") do
IDF Fall 2003 (Intel Developer Forum), um dos mais importantes eventos
para desenvolvedores de hardware e software. Realizado periodicamente
pela Intel em diferentes pontos do mundo, seu objetivo é
discutir as tecnologias de ponta do setor e tornar público
os planos da empresa para o futuro imediato (as próximas
edições estão previstas para Rússia,
China, Formosa e Índia; na abertura da palestra de Otellini,
Pat Gelsinger, um dos vice-presidentes da Intel, anunciou planos
para realizar futuramente uma edição na América
do Sul, provavelmente no Brasil). Como a Intel ocupa a liderança
mundial na produção de microprocessadores para computadores,
redes e equipamentos de comunicação, não é
de estranhar que a edição do IDF realizada de 15 a
18 deste mês tenha atraído para San Jose, na Califórnia,
cerca de três mil participantes e quase duzentos expositores.
A palestra de Otellini evidenciou que o mote desta edição
do IDF é "convergência". Ou seja: a tendência
dos equipamentos de processamento de dados e telecomunicações
se aproximarem cada vez mais. Segundo ele, o acréscimo diário
de mais de 76 mil placas de rede sem fio ao mercado mostra que a
convergência veio para ficar. Há sete anos, também
em um IDF, Andy Grove antevia um mundo com mais de um bilhão
de computadores de mesa (desktops) conectados. Há quatro
anos, em outra edição, Craig Barret acrescentava a
eles um bilhão de computadores de mão (handhelds).
Em sua palestra de hoje Otellini previu que em 2010 haverá
mais de um bilhão e meio de computadores de mesa e dois e
meio bilhões de computadores de mão, com a capacidade
de processamento dos computadores mais avançados de hoje,
ligados através de conexões com e sem fio. E mais:
afirmou que no futuro todos os computadores se comunicarão
e todos os dispositivos de comunicação processarão
dados, levando a convergência às últimas conseqüências.
Para atingir seus objetivos Otellini afirmou que a Intel está
concentrando esforços nas "4Ts'', quatro diferentes
tecnologias que visam fornecer ao usuário benefícios
que vão além do simples aumento da freqüência
de seus processadores. Duas delas já são conhecidas:
a tecnologia Hyper-Threading, que faz um único processador
Pentium ser "enxergado" pelo sistema operacional como
duas unidades em paralelo, e a tecnologia Centrino, um conjunto
de medidas (do qual faz parte a criação do Pentium
M) destinadas a facilitar o uso da computação móvel,
dirigidas - mas não limitadas - a reduzir o consumo de energia
para prolongar a carga da bateria. As outras duas são as
tecnologias LaGrande e Vanderpool, voltadas para a segurança.
Segundo Otellini, "na época em que 'o vírus da
semana' nos ameaça a todos, incrementar a segurança
através de medidas tomadas no próprio hardware tornou-se
uma das mais importantes prioridades". A tecnologia LaGrande
consiste em um conjunto de ações implementadas nos
processadores, chipsets e plataformas que, combinadas com o sistema
operacional e programas de segurança visam impedir (ou pelo
menos tornar muito mais difícil) a invasão de nossas
máquinas e a possibilidade de extrair delas dados confidenciais.
Mas, acrescentou Otellini (talvez lembrando-se do malfadado "número
de série" implementado em uma das versões do
Pentium), "é fundamental que isso seja feito respeitando
a privacidade e os direitos individuais; e a Intel se compromete
a atingir ambos os objetivos".
O último "T" é o da tecnologia Vanderpool,
capaz de criar ambientes de computação múltiplos,
simultâneos, em um mesmo PC. Parece multitarefa, mas é
muito mais que isso. Do ponto de vista técnico, lembra a
forma pela qual certos computadores de grande porte funcionam. Foi
desenvolvida tendo em mente a "casa digital", onde um
PC pode estar controlando a televisão enquanto acessa a Internet
e executa outras tarefas. Uma de suas qualidades mais impressionantes
é a facilidade com que o computador se recupera de travamentos
quedas de energia. Durante a palestra, Otellini usou um micro para
controlar o programa exibido em uma TV e executar umas tantas outras
tarefas. Em um dado momento, simplesmente removeu o cabo de força,
desligando o micro. Bastou recolocar o cabo para que, em poucos
segundos, a máquina recuperasse a condição
de funcionamento com todas as tarefas no ponto em que estavam, e
tudo isso sem perda de um único byte de dados.
Até agora, em matéria de antevisão do futuro,
essa façanha foi a que mais me impressionou. E olhe que estou
escrevendo esse texto quase no final do IDF...
B.
Piropo