Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
08/09/2003

< Vermes e spammers >


Em inglês, o termo “proxy” significa “procurador, aquele que detém uma procuração para representar outra pessoa”. Em informática, um “servidor proxy” é uma máquina que forma o elo entre uma rede local e a Internet. Quando um micro da rede local precisa conectar-se a um determinado sítio, passa o URL deste sítio para o servidor proxy que, por sua vez, fecha a conexão desejada, recebe os dados e os repassa à máquina solicitante. Ou seja: age em nome dela como se dispusesse de uma procuração. Muitos desses servidores guardam cópias das páginas visitadas para acelerar a transferência caso outra máquina da rede local solicite acesso aos mesmos sítios. Mas a principal razão para usar proxies é segurança. Se, na máquina externa, houver um programa mal intencionado que tente se aproveitar da conexão para invadir a máquina da rede local, esbarra no servidor proxy (que tem seu próprio endereço IP) e é detido pelo programa de segurança (“firewall”) nele instalado.
Como o proxy concentra o tráfego entre a rede local e a Internet, se você enviar uma mensagem de correio eletrônico da rede de sua empresa para um destinatário externo, ela necessariamente passará pelo proxy. Se alguém tentar descobrir a origem, somente conseguirá refazer o caminho até o proxy. Empresas sérias com administradores de rede competentes configuram seus proxies de maneira a permitir acesso apenas a pessoal autorizado. No entanto há na Internet milhares de proxies mal configurados que, acidental ou propositalmente, permitem a usuários externos, não autorizados, encaminharem mensagens através deles para quaisquer endereços. São os chamados “proxies abertos” ou “open relays”. É impossível identificar a verdadeira origem de mensagens encaminhadas através de um “open relay”.
Os spammers, pessoas que ganham fortunas disseminando mensagens publicitárias não solicitadas, têm se aproveitado disso para exercer anonimamente suas atividades ilícitas. Estima-se que setenta porcento dos spams sejam enviados através de “open relays”. O problema é tão sério que a Federal Trade Commission, órgão do Governo dos EUA, mantém uma página em <www.ftc.gov/bcp/conline/pubs/buspubs/openrelay.htm> apenas para alertar as empresas sobre o perigo de manter seus proxies abertos, explicar como isso pode ser usado em prejuízo da empresa e como resolver o problema. Em maio passado, agências governamentais americanas e internacionais dedicadas a inibir a atividade ilegal dos spammers se reuniram para traçar estratégias de combate. Identificaram milhares de proxies abertos em todo o mundo e solicitaram aos responsáveis que tomassem as medidas de proteção adequadas (leia em http://zdnet.com.com/2100-1105-1021636.html?tag=nl>). Ou seja: os caminhos dos spammers estão sendo bloqueados.
Mas eles são criativos. Recentemente a MessageLabs, uma empresa americana especializada em segurança, notou uma correlação significativa entre o número de proxies abertos usados para transmitir spam e para disseminar vírus. De acordo com a empresa, 30 mil máquinas são usadas para ambos os fins. Haverá alguma ligação entre uma coisa e outra?
Infelizmente, parece que sim. E o que despertou a atenção das autoridades foi justamente o comportamento inusitado do verme SoBig, sobre o qual publiquei um artigo semana passada (disponível na seção Escritos/Artigos no Globo de <www.bpiropo.com.br>). O verme parece ter sido desenvolvido por programadores extraordinariamente competentes. Além de se disseminar com grande rapidez, carrega seu próprio código para envio de mensagens. E, ao que parece, quando contamina uma máquina, instala um programa que a transforma em um “open relay”. Quer dizer: a proliferação do verme põe à disposição dos spammers milhões de “proxies abertos” inteiramente vulneráveis: nossas próprias máquinas contaminadas, particularmente as que permanecem conectadas à Internet através de provedores de Internet rápida.
Acha que estou exagerando? Talvez. Mas em artigo da ZDNet em <http://zdnet.com.com/2100-1105_2-5067494.html> Will Sturgeon entrevista Peter Simpson, um conceituado especialista em vírus, que alerta para o perigo e vai mais longe: segundo ele o comportamento pouco usual do SoBig, que não perturba a máquina contaminada, propaga-se em ondas e se desativa automaticamente em períodos de duas a três semanas, além do alto nível de profissionalismo envolvido em sua criação e propagação, sugere que ele representa a primeira tentativa séria do crime organizado de tirar proveito da Internet.
Parece coisa de maluco, eu sei. Mas o artigo está lá. Leia-o e tire suas próprias conclusões. .

B. Piropo