Há
duas semanas o engenheiro sanitarista que se une a mim nessa dupla
personalidade inventada por Cora Rónai ao convidar um especialista
em tratamento de efluentes líquidos para escrever sobre computadores
foi solicitado a ministrar uma palestra sobre saneamento na Conferência
Municipal das Cidades, em Macaé.
Minhas expectativas quanto à cerimônia de abertura
não eram das mais animadoras. Esperava uma enxurrada de discursos
seguida de um coquetel, como sói acontecer em tais ocasiões.
Auditório lotado, apresentou-se um grupo de dança
formado por crianças e adolescentes. Soube depois, por Ângela
Terra, da Fundação Macaé de Cultura, que aquele
era um dos grupos integrantes do Projeto Art Luz que, além
de dança, pratica teatro, capoeira e atividades esportivas
com um grupo de 1400 jovens de comunidades carentes de Macaé.
O espetáculo foi bonito. Mas eu não estava preparado
para o que veio a seguir.
O apresentador anunciou mais um número de dança. Desta
vez seria o grupo Portadores de Alegria. Logo o palco estava ocupado
por algumas pessoas, todas portadoras de um ou outro tipo de deficiência.
Então a música se fez ouvir e eu assisti um dos espetáculos
mais belos e comoventes que esses olhos cansados já presenciaram.
Segundo seus responsáveis, o Núcleo de Dança
Portadores de Alegria (NDPA) foi criado em Macaé com a finalidade
de integrar a pessoa portadora de deficiência através
da arte da dança, rompendo as barreiras da discriminação.
Suas exibições públicas são sempre gratuitas
e visam estimular a formação de novos núcleos
com filosofia semelhante. Se conseguem isso, não sei. Mas
sei que conseguem fazer um espetáculo sóbrio, leve
e, sobretudo, comovente. E comovente não por ser levado à
cabo por um grupo de pessoas portadoras de deficiência, mas
pela beleza, graça e harmonia de movimentos.
Como quase todos os projetos desta natureza, o Portadores de Alegria
é fruto de um sonho. Um sonho de menina de uma de suas fundadoras,
presidente e principal evangelista, Vania Tolipan, que queria ser
bailarina. Os fados tentaram impedi-la fazendo com que uma paralisia
infantil privasse-a do movimento das pernas. Mas fados não
bastam para deter Vania. Mais poderosa que eles, constatou (segundo
ela mesma, inexoravelmente) que as pessoas portadoras de deficiência
(não só) podem (como necessitam) dançar.
Impelida pelo sonho, há três anos agregou um grupo
de pessoas corajosas e abnegadas: Oyama Queiroz, bailarino e professor,
Ademir Martins, diretor teatral, as Dras. Marlene dos Reis, Carine
Masson e Cynthia Lozada, responsáveis pelo acompanhamento
psico e fisioterápico. E criaram o NDPA.
O grupo reúne pessoas portadoras de deficiências para
ousar materializar o sonho de dançar. E faz isso muito bem.
Mas, com o passar do tempo, viu que poderia fazer mais. Além
de atuar no processo de dignificação das pessoas
portadoras de deficiência no respeito ao direito inalienável
de ser diferente, passou a agir na capacitação
de profissionais e divulgar seus trabalhos. Enfim: incluir na sociedade
a pessoa portadora de deficiência, garantindo seu direito
à cidadania. Hoje, além da dança moderna e
contemporânea, expressão corporal e interpretação,
o NDPA oferece aulas de capoeira, Tae-Kwon-Do, artesanato e iniciação
musical para pessoas portadoras de deficiência. Todas gratuitas.
E o que tem a ver tudo isso com a informática? Bem, os que
acompanham essa coluna sabem que eu considero o computador a ferramenta
mais eficaz para integrar a pessoa portadora de deficiência
à sociedade. Ele pode fazer isso de mil meios e modos. Inclusive
divulgando iniciativas como a de Vania - como demonstra muito bem
meu amigo Jorge Márcio através de seu DefNet (<www.defnet.org.br>).
Pois bem: por incrível que pareça, embora Vania tenha
um endereço de correio eletrônico (<[email protected]>),
o NDPA não tem um sítio na Internet para divulgar
seu trabalho.
A empresa que se oferecer para desenvolver e manter e o provedor
que se dispuser a hospedar o sítio dos Portadores de Alegria,
não estará apenas colaborando com o magnífico
trabalho de Vania. Estará compartilhando com ela da dignidade
conquistada com a beleza de seus espetáculos. Seu endereço
está aí em cima. É só entrar em contato.
Alguém se candidata?
Em tempo: o resto da solenidade se resumiu a um discurso rápido
do Prefeito Sílvio Lopes, de Macaé, que se limitou
a lembrar aos administradores presentes, com muita propriedade,
que o espetáculo que haviam acabado de assistir provava que,
com empenho e garra, não há dificuldade que não
se possa transpor. Depois, só o coquetel. E não é
que foi agradável?
B.
Piropo