Nas
últimas duas colunas falamos sobre as novas interfaces usadas
para interligar dispositivos externos aos nossos micros: as portas
USB e Firewire. E os internos?
Bem, os internos são basicamente dispositivos de armazenamento:
discos rígidos e drives para discos flexíveis (que
tendem a desaparecer) e discos óticos (leitores e gravadores
de CD e DVD). Todos, exceto os drives de disquete e raros dispositivos
SCSI, obedecem ao padrão ATA (de AT Attachment),
também conhecido por IDE (de Integrated Device Electronics)
ou EIDE ( de Enhanced IDE), um padrão desenvolvido
no início dos anos oitenta para ligar discos rígidos
aos velhos AT da IBM (daí o nome ATA) cuja taxa de transferência
de dados não passava de 4 MB/s (megabytes por segundo). O
padrão foi pouco a pouco se aperfeiçoando e seu último
representante, o ATA-133, chega a 133 MB/s, mais de trinta vezes
a taxa original. Nesse contexto, o termo ultimo pode
ser interpretado em seu significado mais estrito: até os
mais otimistas concordam que 133 MB/s é o máximo até
onde se pode espichar as potencialidades do padrão
ATA. Tanto assim que o ATA-133 está no mercado há
dois anos sem evoluir e quase sem adesão devido às
dificuldades de implementação. Ou seja: o padrão
agoniza. Atingiu seu limite.
Se o rei morreu, viva o rei: o substituto já está
no mercado. Trata-se do padrão SATA, ou Serial ATA. Mas não
se iluda: apesar do nome dar a entender que se trata de uma mudança
evolucionária, é na verdade revolucionária.
ATA e SATA têm pouco em comum além das três letras
da sigla.
SATA é o acrônimo de Serial ATA, portanto
sua interface é do tipo serial. Usando o padrão ATA
uma interface paralela, é radicalmente diferente do SATA.
Nas interfaces paralelas os oito bits que formam um byte fluem lado
a lado, simultaneamente, em condutores paralelos (daí o nome).
Já nas seriais os dados fluem bit a bit, um após o
outro, no mesmo condutor: na origem, cada byte é desmontado
e os oito bits que o formam são transmitidos seqüencialmente;
no destino, são recebidos e remontados para reconstituir
o byte original. Para isso bastam dois condutores: um para transportar
os bits, outro para funcionar como terra (tanto em um caso quanto
no outro há condutores auxiliares, e as interfaces paralela
e seriais usam mais condutores que os necessários para transportar
os dados).
Operando na mesma freqüência, as interfaces paralelas
são mais rápidas porque transportam mais bits ao mesmo
tempo. Assim foi nos primórdios da era da informática,
quando as freqüências de transmissão eram pequenas.
Na medida que estas freqüências aumentaram, tornou-se
cada vez mais difícil sincronizar dados fluindo em condutores
paralelos (explicando: os oito bits que saem da origem em um certo
instante devem percorrer seus condutores lado a lado e chegar ao
destino exatamente ao mesmo tempo; controlar isso em baixas freqüências
é relativamente fácil mas, quando o ritmo aumenta,
bilionésimos de segundo passam a fazer diferença e
a coisa fica muito mais complicada). Já no que toca a interfaces
seriais, o aumento da freqüência de transmissão
exige apenas que os circuitos integrados que desmontam
os bytes na origem e os remontam no destino funcionem
mais depressa, uma brincadeira de criança para os circuitos
modernos. Resultado: atualmente, ficou muito mais fácil acelerar
o fluxo de dados nas interfaces seriais aumentando sua freqüência
de transmissão que fazer o mesmo nas paralelas, onde há
que controlar o sincronismo. É por isso que tão poucos
fabricantes implementaram os novos discos rígidos ATA-133,
cuja interface paralela usa cabos chatos com oitenta condutores.
Manter o sincronismo em um treco desses é uma tarefa hercúlea.
Resultado: os drives ATA-133 que estão no mercado são
os derradeiros representantes de uma espécie em extinção.
Na próxima coluna falaremos sobre os SATA, ou Serial ATA,
que os substituirão.
PS: Recebi, da Editora Campus, o livro Arquitetura
de Computadores Uma abordagem quantitativa de Hennessy
e Patterson, tradução da terceira edição
americana. Não é para ler no banheiro. Um compêndio
de quase mil páginas abordando de forma correta, ordenada
e didática aspectos da organização interna
dos computadores com rara propriedade e, sempre que possível,
apoiado em exemplos reais. Para se ter uma idéia: no estudo
da hierarquia da memória, logo após a análise
do microprocessador Alpha 21264 vem a da hierarquia usada no microprocessador
Emotion do Sony Playstation 2. Um livro sério, bem escrito
e, o que é raridade: até onde cheguei, muito bem traduzido.
B.
Piropo