Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
14/07/2003

< Abrindo novas portas >


Desde que essa coluna tornou-se bimensal, evito temas de cunho mais técnico. Hoje, vou abrir uma exceção. Pois acontece que estamos assistindo o final de uma era e pouca gente se deu conta disso. E vale a pena comentar o assunto: a morte das portas serial e paralela.
Há alguns anos, para instalar um periférico, havia que atribuir-lhe “recursos”: número de interrupção e endereço de E/S. Era um intrincado quebra-cabeças que exigia um bocado de engenho e arte. Com a tecnologia “plug-and-play”, que identifica o periférico e lhe atribui os necessários recursos, isso acabou. O problema é que ela facilita a instalação mas não resolve a escassez de recursos. E, sem recursos, não há como agregar um novo periférico.
É aí que entram as “portas” USB e IEEE 1394, ou “Firewire”. Há um par de anos, todo micro já vem com pelo menos dois conectores USB e os mais novos com um IEEE 1394. E, se não vem, adaptá-los é coisa de criança.
USB (Universal Serial Bus) significa “Barramento Serial Universal”, um revolucionário padrão de comunicação entre o micro e seus periféricos. É “serial” porque os oito bits que formam cada byte fluem sob a forma de pulsos elétricos “em série”, um após o outro, pelo mesmo condutor que une o periférico ao micro. Por isso um cabo USB tem apenas quatro condutores: dois para dados (um transporta os pulsos, o outro funciona como “terra”) e dois para alimentação elétrica (é por isso que alguns dispositivos USB externos, como o Zip Drive, não precisam ser ligados à tomada: recebem energia da própria fonte do micro através do cabo).
A versão USB 1.0 de 1996 era um tanto problemática e enfrentou uma certa resistência. Mas a 1.1 “pegou” firme, especialmente depois que Windows 98 forneceu suporte para ela. Hoje, permite instalar praticamente qualquer tipo de periférico com uma facilidade jamais sonhada nos velhos tempos: basta conectar o periférico ao micro, mesmo ligado, através de um cabo USB. Não é necessário reinicializar a máquina. Ao “sentir” a presença do periférico, a porta USB automaticamente detecta seu tipo e se ajusta de acordo. No máximo, e apenas da primeira vez, solicita inserir um disco para instalar o driver. Depois, nem isso: basta ligar o cabo no micro e o periférico está pronto para uso. E esqueça as preocupações com o limite do número de dispositivos: o padrão USB aceita até 127 deles conectados simultaneamente através de “hubs” em cascata (um “hub” multiplica portas USB como um “benjamim” multiplica as conexões de uma tomada).
Mas as vantagens não param aí. Enquanto uma porta serial permite transferir no máximo 14 KB/s (quilobytes por segundo), suficiente para dispositivos lentos como modems, mouses, joysticks e teclados, e uma paralela chega a 250 KB/s para atender a dispositivos mais gulosos, como impressoras e drives de disquete externos, a interface USB 1.1 chega a 1,5 MB/s (megabytes por segundo), satisfazendo a voracidade de câmaras fotográficas digitais, micros de mão (PDAs), reprodutores de música MP3 e escâneres de mesa. E para satisfazer às exigências dos grandes glutões, como drives DVD externos e adaptadores de rede “fast Ethernet”, surgiu ano passado o padrão USB 2.0 (ou “Fast USB”), que chega a transferir 60 MB/s, atende as necessidades de câmaras de vídeo de alto desempenho e é retroativamente compatível com a versão 1.1, ou seja: aceita todos os dispositivos antigos sem reclamar (mas, para eles, mantém a taxa máxima de 1,5 MB/s; veja detalhes em <www.usb.org>).
O USB 2.0, quarenta vezes mais rápido que o 1.1, permite conectar discos rígidos externos “a quente” (sem desligar ou reinicializar o micro), uma ferramenta formidável para transportar grandes quantidades de dados entre diferentes máquinas. Além disso, na prática, aumenta o número de periféricos conectados simultaneamente. O máximo teórico continua em 127, mas como o fluxo de dados tem que ser dividido entre todos os dispositivos, meia dúzia deles funcionando ao mesmo tempo em um USB 1.1 tornam o desempenho de cada um deles equivalente ao de uma velha porta paralela. Com os 60 MB/s do USB 2.0 a conversa é outra.
O USB revolucionou de tal maneira o mercado que liquidou com as demais “portas”. Dificilmente se encontram periféricos novos para portas seriais ou paralelas. Mouses e teclados só USB (ou PS/2, mas esse também tende a desaparecer). Câmaras digitais também. Assim como a maioria das impressoras (por enquanto, algumas ainda vêm com uma porta paralela, mas breve virão apenas com a USB). E logo os novos micros virão sem qualquer porta paralela ou serial. Terão apenas algumas portas USB e uma ou duas IEEE 1394.
E, dessas, ainda nem falamos. Mas breve falaremos...

B. Piropo