< Trilha Zero >
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02/12/2002
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< Futurologia > |
Não singro a esmo as águas da internet. Quase sempre navego com rumo certo. Mas por vezes me desvio e aporto em inquietantes paragens. Dia desses dei com os costados no Institute for Global Futures, uma instituição dedicada a traçar estratégias de negócios baseadas em tendências. Lá há listas das “dez maiores tendências” em diversos campos. As dos computadores estão em <www.futureguru.com/trend2.shtml> e prevêem que ainda no século 21 as máquinas gerenciarão todos os sistemas essenciais, como transportes e produção de alimentos, falam em implantes de chips nos cérebros humanos e fecham com a seguintes pérola: “Quando os computadores ultrapassarem os humanos em inteligência, uma nova espécie digital e uma nova cultura evoluirão em paralelo com a nossa”. Assusta. Mas quem diz isso não é um maluco, é o respeitável cientista Dr. James Canton. Já do trecho abaixo não se pode dizer o mesmo: “Imaginemos que a ciência consiga desenvolver máquinas inteligentes que façam tudo melhor que os humanos. Nesse contexto, provavelmente todo trabalho será feito por sistemas de máquinas altamente organizados, sem intervenção humana. Nesse caso duas hipóteses podem ocorrer: as máquinas terão autonomia para decidir ou o homem deterá o controle das decisões. “Na primeira não se pode conjeturar o que ocorrerá, já que é impossível prever como as máquinas se comportarão. A única conclusão possível é que o destino da humanidade ficará à mercê das máquinas. É claro que se pode argumentar que jamais os homens serão suficientemente tolos a ponto de entregar o poder às máquinas. Mas não é assim que sucederá. O grau de dependência do homem aumentará paulatinamente até chegar a um ponto em que não reste alternativa senão a de aceitar as decisões das máquinas. Na medida que os problemas da sociedade se tornarem mais complexos e as máquinas mais inteligentes, cada vez mais decisões serão tomadas por elas simplesmente por serem mais eficazes que as tomadas pelos humanos. Isso pode levar a um estágio em que decidir se esse sistema deve ser mantido será algo tão complexo que os humanos não serão capazes de fazê-lo. Então as máquinas assumirão o controle e os homens serão obrigados a mantê-las ligadas pois estarão tão dependentes delas que desligá-las corresponderia a cometer suicídio. “Na segunda hipótese o indivíduo comum controlará máquinas pessoais, como seu carro ou computador. Mas os grandes sistemas serão controlados por uma pequena elite. Mais ou menos como hoje, mas com duas diferenças: a evolução da tecnologia aumentará o grau do controle exercido pela elite sobre as massas e, como o trabalho humano não mais será necessário, as massas serão supérfluas, um peso inútil para o sistema. Se as elites forem cruéis, simplesmente exterminarão as massas. Se forem clementes, poderão usar propaganda ou técnicas psicológicas ou biológicas para reduzir a taxa de nascimentos até que a massa desapareça. Se forem constituídas por liberais benevolentes, poderão desempenhar o papel de bons pastores, satisfazendo as necessidades do rebanho de humanos, educando as crianças em condições psicologicamente higiênicas, cuidando que cada um tenha um hobby para distrai-lo e, se alguém se mostrar insatisfeito, submetê-lo ao devido “tratamento” para curá-lo do “problema”. Evidentemente a vida se tornará sem propósito e toda ambição de poder será eliminada das pessoas ou sublimada em algum hobby inofensivo. As pessoas talvez sejam felizes em uma sociedade assim, mas certamente não serão livres. Estarão reduzidas à mera condição de animais domésticos. Quem escreveu isso foi um doido de pedra, Theodore Kaczynsky, o Unabomber que em sua campanha contra a tecnologia matou três pessoas e feriu diversas outras. Mas convém não desprezar o que ele disse só porque era doido: afinal, até um relógio parado está rigorosamente certo duas vezes por dia. Inda mais quando sua argumentação é abonada por Bill Joy, fundador da Sun Microsystems, no primoroso artigo “Porque o futuro não precisa de nós” em <www.wired.com/wired/archive/8.04/joy_pr.html>. Tudo
isso me veio à mente ao ler o artigo de Declan McCullagh
sobre os benefícios e perigos da nanotecnologia, em Sei não, mas me parece que meados do século 21 não será um tempo dos mais amenos. Melhor passar ao largo. Felizmente em menos de três meses completarei 40 anos. Acha pouco? É que ultimamente dei para exprimir minha idade em hexadecimal... B. Piropo |