Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
04/11/2002

< Sob medida para recarga >


A impressão à jato de tinta é uma tarefa precisa na qual finíssimos jatos de tinta são expelidos através de centenas de minúsculos orifícios de uma cabeça de impressão. Quem acompanhou as colunas que escrevi sobre o assunto em novembro de 2001 (disponíveis em <www.bpiropo.com.br>, seção Escritos – Coluna do Piropo/Trilha Zero) sabe que existem duas tecnologias de impressão: piezelétrica e térmica. Nas impressoras térmicas, a cabeça de impressão e parte dos circuitos que a controlam ficam no cartucho e são jogadas fora quando se troca o cartucho. Como já disse, difícil considerar econômica e ecologicamente correta a prática de jogar no lixo um componente perfeitamente funcional apenas porque acabou-se a tinta do reservatório a ele acoplado. É o mesmo que, após o banho, jogar a criança fora juntamente com a água da bacia.

É claro que os cartuchos podem ser recarregados. Mas a HP, que usa a tecnologia térmica, alega que as cabeças perdem a qualidade com o uso e as suas são concebidas para imprimirem aproximadamente o número de páginas correspondente ao volume de tinta contido no cartucho. Mesmo acreditando que essa afirmativa deve-se mais à vontade de vender cartuchos que ao sincero interesse em preservar a qualidade da impressão admitamos, à guisa de argumentação, que ela seja verdadeira e que quem deseja uma boa impressão não deve recarregar cartuchos HP depois que acabou-se a tinta que enche seu reservatório (note a ênfase na palavra “enche”).

O maior componente do custo de fabricação é o cartucho, que contém a cabeça e seus circuitos de controle, não a tinta. Esta, conforme me confidenciou um especialista que trabalha no ramo, custa cerca de US$ 4 por litro. Quase nada comparada ao custo do cartucho.

Em julho último a HP informou que estava lançando “uma nova linha de cartuchos”, dois pretos e um colorido (os “20”, preto, e “49”, colorido, para a linha 610/640 e o “15”, preto, para a linha 810/840), com metade da tinta do modelo anterior e a menor preço. E que os anteriores não seriam mais fabricados. Na verdade, a “nova linha” corresponde exatamente aos mesmos cartuchos, porém com a metade da tinta: 14 ml em vez de 28 ml para os pretos e 11 ml em vez de 22,8 ml para o colorido. Ou seja: vêm apenas meio-cheios (ou meio-vazios, dependendo do ponto de vista).

Segundo Luiz Tedesco, Gerente de Suprimentos da HP, a decisão de vender cartuchos com meia carga foi tomada em virtude da disparada do dólar. Sendo os cartuchos importados, manter seu preço em dólar os encarecia demais para o usuário doméstico. Por isso a HP decidiu reduzir à metade a tinta dos cartuchos mais populares, reduzindo portanto à metade o número de páginas que podem imprimir, e vendê-los a preços menores (mas superiores à metade: no varejo carioca, em uma amostragem expedita, os cartuchos com a metade da tinta custam cerca de dois terços do que custavam os cheios), visando facilitar a vida do usuário doméstico. É claro que isso aumenta o custo de impressão, já que para imprimir a mesma quantidade de páginas será preciso comprar dois cartuchos novos a um custo superior ao de um único cartucho antigo. Mas quem quer comprar só um cartucho desembolsa menos.

Repito: os cartuchos são os mesmos. Logo, as cabeças de impressão são rigorosamente as mesmas. Como os da “nova linha” contêm a metade da tinta, imprimirão a metade do número de páginas. Ora, admitindo como verdadeira a afirmação da HP que a vida útil das cabeças depende da quantidade de páginas impressas, se o cliente jogar fora o novo cartucho quando a tinta acabar, estará jogando fora cabeças na metade de sua vida útil.

Sendo assim, e ainda aplicando a lógica da HP, recarregar pelo menos uma vez um destes cartuchos com tinta de boa procedência não alterará a qualidade da impressão.

Como sempre considerei válida a recarga de cartuchos que empregam a tecnologia térmica (afinal, sem recarga seu destino seria mesmo o lixo, portanto, se a impressão não agradar, joga-se fora o cartucho e só se perde a tinta, que custa pouco), aplaudo a iniciativa da HP. Sua “nova linha” de cartuchos é feita sob medida para recarga. Porque quando acabar a meia carga de tinta, as cabeças ainda estão na metade de sua vida útil. E uma recarga sai por uma fração do custo de um novo cartucho.

Uma economia e tanto para o usuário e uma festa para as pequenas empresas que fazem recarga de cartuchos.

PS: O Disque Piropo, meu boletim sobre informática transmitido por telefone, continua esperando por você. Visite <www.disquepiropo.com.br> e inscreva-se. A inscrição é gratuita e você nada paga pelo primeiro mês. E, como sabemos, de graça, meu amigo, até ônibus errado...

B. Piropo