< Trilha Zero >
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03/06/2002
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< Intel Developer Forum > |
Em 1965 Gordon Moore previu que o número de transistores que poderiam ser espremidos no interior de circuitos integrados dobraria a cada ano. Essa previsão tornou-se conhecida como “Lei de Moore”. Na palestra de abertura da versão européia do Intel Developer Forum (IDF) realizado semana passada em uma primaveril Munique, Pat Gelsinger, o responsável pelo setor de tecnologia da Intel, afirmou que o objetivo da empresa é expandir essa lei para além dos transistores. Mas sem deixar de evoluir neste campo: segundo ele, a Intel já testou um transistor capaz de funcionar experimentalmente na freqüência de um THz (um trilhão de ciclos por segundo) e em 2007 espera usar a tecnologia de camada de silício com espessura de 50 nm (nanômetro, ou milionésimo de milímetro) para fabricar industrialmente microprocessadores de 20 GHz com um bilhão de transistores. O IDF é uma iniciativa da Intel visando reunir sua equipe com os elementos chave da indústria da eletrônica para redefinir objetivos comuns, discutir novas tecnologias e constituir-se no principal forum de discussão de novos padrões. Vem sendo realizado há cinco anos em todo o mundo. O de Munique é o sexto deste ano (os anteriores foram nos EUA, Japão, Formosa, China e Índia) e reuniu mais de mil participantes, incluindo duzentos jornalistas. Segundo Gelsinger, a expansão da Lei de Moore se dará em três campos: tecnologia sem fio (“wireless”), sensores e fotônica. Na tecnologia sem fio a estrela serão os MEMS, Micro Electro-Mechanical Systems, micromáquinas baseadas na nanotecnologia. Sua importância deriva do fato de que a lei de Moore aplicada aos transistores somente beneficiou a miniaturização dos elementos ativos dos circuitos. Os MEMS, máquinetas microscópicas fabricadas com a mesma tecnologia usada para criar transistores, permitirão miniaturizar elementos passivos, como indutores e osciladores de cristal, criando dispositivos híbridos, eletromecânicos, em uma única pastilha. Simplificando: daqui a alguns anos os microprocessadores da Intel terão um rádio “embutido” e, portanto, poderão se comunicar com uma infinidade de outros dispositivos sem o uso de fios. Não é preciso muita imaginação para perceber os desdobramentos disso. Só como aperitivo: o “intelligent roaming”, ou seja, uma conexão perpétua à internet (e, portanto, ao resto do mundo, que também estará conectado) através de um dispositivo móvel sem fio que será provavelmente uma fusão de agenda eletrônica com telefone celular e passará de nó em nó de uma rede planetária na medida que você for se deslocando. E tudo isso em UWB, ou Ultra Wide Band, uma conexão com taxas de transmissão da ordem de 500 Mbits/segundo via rádio. O segundo campo no qual a Lei de Moore se estenderá será o dos sensores. Segundo Gelsinger, brevemente serão fabricados sensores do tamanho de um grão de poeira a um custo insignificante, consumindo quase nenhuma energia e capazes de “sentir”, computar e se comunicarem uns com os outros, formando uma “rede ad-hoc de sensores”. As possibilidades são imensas. Algumas aplicações concebidas pelos mais inventivos: na agricultura, plantas dotadas de sensores de umidade e temperatura controlarão sua própria irrigação. Sensores em berços acompanharão o ritmo da respiração de bebês e avisarão aos pais sobre qualquer anormalidade. Uma nuvem de sensores poderá ser despejada de avião sobre uma floresta para localizar pessoas perdidas. Além de aplicações menos visionárias e ligadas ao dia-a-dia, como o motor do carro avisando que precisa de um mecânico. Finalmente, a fotônica, fusão da ótica com a eletrônica, que permite à informação fluir indiferentemente como fluxo de fótons através de fibras óticas ou de elétrons através de condutores elétricos, convertendo uns nos outros quando necessário. Com a tecnologia WDM que permite enviar diferentes correntes de informações através de uma mesma fibra ótica usando feixes de laser de diferentes cores, um dispositivo desse tipo pode transportar terabytes de dados por segundo, mais que a demanda total da internet atual. Mas com o advento da comunicação sem fio barata e universal, essa demanda irá aumentar significativamente e o papel da fotônica será primordial. Gostou? Pois isso foi somente um resumo de uma das palestras de abertura. Imagine o resto. Para quem gosta de tecnologia, o IDF está melhor que um parque de diversões. Só tem um problema: Munique, a cidade que entrevejo pela janela do ônibus que me leva diariamente ao evento, parece uma graça. Um dia eu preciso voltar para conhecê-la... B. Piropo |