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< Trilha Zero >
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26/11/2001
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< Vendendo tinta > |
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O assunto já estava encerrado, mas algumas mensagens me obrigaram a retomá-lo. O leitor Davi Jr. pergunta: “Por que em informática tudo baixa de preço, menos os cartuchos para impressoras? Em abril de 98 comprei uma HP 692C por R$ 480,00. Hoje uma HP 340C, mais moderna, custa em média R$ 330,00. Já os cartuchos custavam na época uma média de R$ 45,00 e hoje custam em média R$ 85,00”. Boa pergunta, não? Mestre Tom Taborda indica um estudo de custos que leva em conta o preço da impressora e da tinta após três anos de uso que ajuda a esclarecer o assunto, em <http://www.zdnet.com/products/stories/reviews/0,4161,2660144,00.html>. Resultado: quanto mais barata a impressora, mais alto o custo de impressão. E se isso não bastasse, recebi uma primorosa e esclarecedora mensagem do distante leitor Jankiel Kimelblat que, infelizmente, não dá para transcrever na íntegra (além de bem escrita, é cheia de detalhes técnicos interessantes) mas cuja essência é a seguinte: “Estou há 7 anos vivendo em Israel e trabalho em uma companhia que desenvolveu uma tecnologia de jato de tinta para uso em impressoras industriais que também produzimos. Alem disso, sou o responsável pelo desenvolvimento e fabricação das tintas usadas pelas nossas cabeças de impressão. No seu artigo você deixou de comentar um aspecto importante e que também é uma das maiores fontes de lucro dos fabricantes de impressoras a jato de tinta domésticas: o mercado de consumíveis, ou seja, substratos para impressão e tintas. A maioria das impressoras a jato de tinta domésticas é capaz de imprimir em altas resoluções apenas quando usa papéis ou transparências especiais. E estes substratos custam caro. As tintas, por sua vez, não ficam atrás. E não custam mais de US$ 4/litro para serem produzidas. É por isso que o preço das impressoras domésticas caiu tanto. Os fabricantes sabem que a impressora se vende uma vez, mas tinta e papel se continua vendendo”. Bem, o cara entende do assunto: é engenheiro químico, responsável pela fabricação de tintas para impressoras a jato de tinta. E afirma que o custo de fabricação da tinta não ultrapassa os US$ 4 por litro. Mas a que preço ela é vendida? Para evitar possíveis distorções devidas à (brutal) carga tributária brasileira, usei os preços de uma grande rede americana, o Office Depot. Escolhi duas impressoras na faixa média, cada uma representando um tipo de tecnologia: a HP Deskjet 990, térmica, e a Epson 880, piezoelétrica. Para a primeira, o cartucho com 42 ml de tinta preta é vendido por US$ 29,99. O colorido, com 19 ml custa US$ 34,99 e com 38 ml, US$ 54,99. No caso da Epson 880, o cartucho com 24 ml de tinta preta custa US$ 27,99. O colorido, com 35 ml, custa US$ 22,99. Qual o preço médio de venda do litro dessa tinta? Para fazer as contas é preciso ter em mente que o que se compra é a tinta, não o cartucho (ou você leva em conta o custo do frasco quando compra, por exemplo, um perfume?). É claro que os fabricantes de impressoras térmicas sempre hão de alegar que seu cartucho é mais caro porque vem com as cabeças. Mas eles integram as cabeças aos cartuchos porque querem, já que isso não é obrigatório (as impressoras térmicas profissionais, mais caras, e algumas baixo custo como a HP 1160, usam cabeças térmicas que permanecem na impressora). Portanto, para o consumidor, o custo do cartucho é irrelevante: ele paga apenas a tinta. Calculando pela média dos preços da tinta preta e colorida, um litro de tinta embalada em cartuchos para a HP série 900 é vendido por US$ 1.330 e para a Epson 880 por US$ 912 (como se vê, a comparação lá de cima é pertinente: o preço é mais ou menos igual ao de um perfume francês de primeira linha). Qual é o lucro? Bem, há que descontar o custo do cartucho, é claro. Mas é bom lembrar que para fabricar a tinta, segundo o Jankiel que entende do assunto, gasta-se menos de US$ 4 por litro. Um negócio danado de bom... Entendeu agora, Davi, por que os preços da impressora caem e os da tinta não? Porque quanto mais impressoras são vendidas, mais tinta é consumida. E o negócio deles não é vender impressoras, é vender tinta. É por isso que os fabricantes de impressora recomendam tão veementemente usar apenas os cartuchos fabricados por eles mesmos e consideram pecado mortal reenchê-los com tinta de terceiros. E é também por isso que já começaram a ser produzidos cartuchos que não aceitam recarga e impressoras que não funcionam com cartuchos de terceiros. São chamados de cartuchos e impressoras “inteligentes”. Adjetivo que, convém frisar, se aplica aos cartuchos, às impressoras e a quem os fabrica. Não necessariamente a quem os compra. B. Piropo |