< Trilha Zero >
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29/10/2001
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< Censura e ICRA > |
Eu sou visceralmente contra todo e qualquer tipo de censura e, embora não seja aficionado, nada tenho contra pornografia. Mas entendo que não somente é direito como também é dever dos pais proteger seus filhos daquilo que considerem pernicioso, incluindo aí o acesso a qualquer tipo de informação que se choque com suas convicções morais, religiosas ou éticas – o que, evidentemente, pode englobar material pornográfico. Não pretendo aqui discutir nem uma nem outra dessas minhas convicções, mas é fácil constatar que elas se chocam: como garantir aos pais o direito de vedar aos filhos acesso a material pornográfico sem estabelecer algum tipo de censura? Ao que parece a solução foi encontrada pela ICRA (Internet Content Rating Association, ou Associação de Classificação de Conteúdo da Internet), sucessora do RSACi (Recreational Software Advisory Council on the internet). E a idéia não poderia ser mais simples: classificar os sítios da internet de acordo com seu conteúdo usando critérios que considerem fatores como sexo, violência, linguagem e incentivo a uso de drogas e dar aos pais meios de impedir que os filhos visitem aqueles com conteúdo pernicioso segundo suas convicções. Eu sei, parece censura. Mas não é, e por uma simples razão: a classificação é feita voluntariamente pelos próprios responsáveis pelos sítios e não arbitrariamente pela ICRA ou por qualquer outro órgão ou instituição. A coisa funciona assim: se você é responsável por um sítio e deseja aderir, entre na página da ICRA em <www.rsac.org/> e responda um questionário (simples e direto) sobre o conteúdo de seu sítio. A ICRA irá então gerar uma linha de código HTML a ser incorporada à página principal do sítio. Os visitantes não a verão, mas ela fornece ao programa navegador informações que permitem classificar o sítio de acordo com o conteúdo (tanto o Internet Explorer quanto o Netscape a reconhecem). Os pais, por sua vez, podem vedar a seus filhos acesso a este ou aquele sítio ativando o supervisor de conteúdo do navegador e fixando seus critérios pessoais (no IE isso pode ser feito na aba “Conteúdo” da entrada “Opções da Internet” do menu “Ferramentas”). A solução é perfeita: como as informações são fornecidas pelo responsável pelo sítio, não há risco de um censor excessivamente zeloso cometer arbitrariedades. Como a adesão é voluntária, nenhum órgão ou instituição governamental pode impedir acesso a qualquer sítio. E como o ajuste do supervisor de conteúdo é feito individualmente, preserva-se o inalienável direito dos pais de educar os filhos segundo os próprios critérios. A eficácia do sistema depende da adesão dos responsáveis por sítios de conteúdo potencialmente pernicioso. Muitos já aderiram e a maioria o fará tão logo entendam que a coisa é tão boa para eles quanto para os pais, já que quando a sociedade perceber que o sistema é bom e funciona diminuirá a pressão a favor da censura na internet. E, afinal, quem põe no ar um sítio pornográfico não está interessado na visita de crianças (é claro que sempre há os pervertidos que estão, mas esses não merecem censura, merecem cadeia mesmo; pau neles sem piedade). Portanto o que fará a coisa funcionar é o aumento das adesões. Por isso recebi com satisfação a notícia que terça-feira passada AOL, MSN e Yahoo!, os três portais de maior fluxo de visitantes dos EUA, anunciaram sua adesão ao sistema da ICRA e irão classificar os sítios que hospedam. Na mesma data a própria ICRA deflagrou uma campanha em busca de novas adesões, à qual manifesto meu enfático apoio: se você é responsável por um sítio cujo conteúdo se enquadra nos critérios da ICRA, classifique-o. Afinal, o maior interessado é você, que se livrará das reclamações de pais indignados após uma acidental visita de seus filhos a seu sítio (caso ainda as receba mesmo após a classificação, prepare uma resposta padrão ensinando educadamente o remetente a ajustar seu supervisor de conteúdo para evitar novas visitas). Faça-o o quanto antes. Qualquer iniciativa contra a implementação de censura na internet é mais que bem-vinda, especialmente nesses tempos bicudos em que vivemos. PS: Recebi de amigos uma cópia de mensagem supostamente enviada por mim que recomenda o uso de “eliminador de ar para hidrômetros” e “filtro na rede elétrica” para economizar energia. Informo que nada tenho a ver com isso e sugiro enfaticamente evitar a compra desses badulaques. Tudo indica se tratar de engana-trouxas. Se quem os vende não fosse vigarista teria a coragem de assinar suas próprias mensagens em vez de usar o nome de quem nada tem a ver com essa pilantragem. B. Piropo |