< Trilha Zero >
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12/03/2001
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< Pagando o champanhe não bebido > |
Nos anos quarenta os telefones eram de manivela. Rodava-se a manivela, a telefonista atendia, dizia-se com quem se desejava falar e a ligação era feita manualmente. Chamadas interurbanas eram solicitadas com antecedência posto que era preciso que várias telefonistas se pusessem de acordo em uma longa cadeia de centrais telefônicas e somente eram feitas em casos de morte, incêndio, casamento ou eventos igualmente catastróficos. Nos anos cinqüenta as coisas melhoraram. O telefone tornou-se uma máquina tão perfeita que só faltava falar. A longa espera pelo sinal de discar deu origem à profissão de “garoto do sinal”: um jovem que aguardava o sinal, discava o número solicitado pelos empregados graduados e passava-lhes o fone na improvável ocorrência da ligação completar-se. Depois as companhias telefônicas evoluíram e foi criada a Embratel. Não ficou nenhuma maravilha, mas melhorou um bocado. Os serviços ainda estavam longe do ideal, mas davam para o gasto. Inventaram o DDD e o DDI, coisas que só quem usou telefone de manivela pode dar o devido valor. Aí, veio a globalização e as teles foram privatizadas. Inclusive a Embratel. De melhor, a única coisa perceptível – embora definitivamente não desprezível – foi a Ana Paula na TV me convidando para fazer um 21. De pior, muita coisa. Inclusive a obrigação de pagar conta separada para chamadas em longa distância, aporrinhola que evitei apelando para o débito automático em conta corrente. Em janeiro recebi uma conta da Embratel cobrando R$ 85,85 referentes a uma ligação internacional “via operador recebida a cobrar” supostamente realizada as quatro da tarde de segunda-feira, 27/11/2000, com duração de 47 minutos. Além de data, hora e tarifa, constava apenas que a ligação fora feita dos Estados Unidos para “qualquer pessoa”. Eu tenho certeza absoluta que não a recebi: como sou dado ao feio vício de trabalhar, nos dias úteis não costumo estar em casa as quatro da tarde. E, se estivesse, dificilmente esqueceria ter recebido uma ligação internacional de quase uma hora. Como moro sozinho, se a ligação houvesse ocorrido teria sido atendida pela secretária eletrônica e não havia recado gravado – pelo menos um de 47 minutos. Liguei para o atendimento ao assinante da Embratel. Indaguei o número do telefone que teria originado a suposta chamada. D. Gislaine, que me atendeu, informou gentilmente ser impossível saber: segundo ela, “poderia ter sido de qualquer telefone público”. De que cidade? Infelizmente, também não dá para descobrir. Se a ligação foi efetivamente recebida em minha casa, quem teria autorizado? “Qualquer pessoa”, era tudo o que ela poderia afirmar. Bem, seja como for, eu não a havia recebido, garanti. Poderia seu valor ser estornado de minha conta? Lamentavelmente não, informou D. Gislene. Tudo o que ela poderia fazer era abrir uma ordem de serviço para apurar detalhes. Resumindo: a Embratel cobrou-me uma cara ligação internacional que não sabe de onde foi feita, quem a fez ou quem a autorizou. E recusou-se a suspender a cobrança mesmo tendo eu assegurado que não a recebi. Quando o valor foi inexoravelmente debitado de minha conta corrente senti-me como o cara que, depois de um jantar frugal, é cobrado por uma garrafa de champanhe francesa que não tomou mas mesmo assim tem que pagar porque o maitre afirma que foi servida e não adianta espernear. A famosa ordem de serviço foi aberta em nove de janeiro. Quando ligo para saber a quantas anda informam que “está em andamento”. Acabo de ligar novamente. Desta vez atendeu D. Rosélia e informou que ela “já foi encaminhada à pessoa responsável” (e eu, tolinho, pensando que a pessoa responsável já a tivesse em mãos há dois meses...) Como a conta foi paga, entendo a falta de pressa da Embratel. Portanto a providência óbvia é suspender imediatamente o débito automático das contas da Embratel (o que recomendo enfaticamente a todos os que não queiram correr o risco de verem debitadas em sua conta ligações que não receberam). Sentindo-me extorquido, resolvi procurar forma melhor de fazer ligações internacionais. Descobri um sistema semelhante ao “callback”, no qual disca-se um determinado número e através dele faz-se ligações a custos muitíssimos inferiores aos da escorchante Embratel. Como é pago por boleto bancário, havendo dúvida apenas efetua-se o pagamento após comprovar-se que a ligação foi efetivamente realizada. Portanto a Ana Paula que me perdoe, mas nunca mais faremos um 21... B. Piropo |