< Trilha Zero >
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25/12/2000
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< Lamentos > |
Em minhas palestras costumo perguntar à platéia o que é um computador. Logo pomo-nos de acordo que um computador é um conjunto de componentes e dispositivos de entrada e saída harmonicamente interligados cujo único propósito é o processamento de dados. Agora, olhando para meu micro, cogito se aquela seria, realmente, a melhor definição. Porque, no momento, ele mais me parece uma parafernália constituída por uma miríade de penduricalhos desconexos e permanentemente em conflito cujo único propósito é me levar à loucura. Esta estranha sensação começou há cerca de uma semana quando decidi substituir o HD mestre por um de maior capacidade e nele, além do Windows 98, instalar os Windows ME, 2000 e Linux. Fi-lo porque se não começasse a desenvolver alguma intimidade com esses sistemas correria o risco de perder o contato com muitos de vocês que já os estão usando. Sem falar, evidentemente, no meu interesse pessoal em conhecer mais sobre eles. Então, removi os velhos discos rígidos para evitar uma reformatação acidental, instalei o novo de 20 Gb e fui à luta. Como já havia instalado em outras máquinas tanto o Windows ME quanto o 2000, não antevia problemas e achava que em um par de horas concluiria a tarefa. Vã esperança: as “outras máquinas” eram micros de teste, simples, nada além do indispensável, enquanto minha máquina de trabalho é uma babel. Nela estão pendurados dois HDs EIDE, um drive de CD-ROM e outro de CD-RW, mouse sem fio, teclado USB, duas impressoras, um drive de fita para cópias de segurança, uma controladora SCSI na qual se conectam um scanner, um terceiro HD e um disco Jaz removível, além de dois monitores, cada um com sua placa de vídeo. Sim, eu sei que o simples fato de tudo isso funcionar junto já é um milagre da tecnologia. Mas gosto de viver perigosamente e, intimorato, toquei o bonde. Comecei com Windows ME. Por alguma razão a máquina travou durante a inicialização. Acabei descobrindo que, ao contrário de Windows 98, a versão ME somente inicializava se o BIOS da controladora SCSI fosse desativado. Como a única forma de diagnosticar o problema é através do método da tentativa e erro, para identificar a causa foi preciso alterar um a um as dezenas de parâmetros do setup que podem ter alguma influência no processo (quase todos podem) e tentar novo boot, um procedimento que me consumiu dois dias. Instalado o WinME, criei nova partição, ativei-a, instalei o Boot Magic para gerenciar a inicialização e comecei a instalação do Windows 2000. Que também travou. Desta vez, foi mais difícil. Levei três dias para descobrir que, embora Win2000 também suporte mais de um monitor, só o faz se a placa de vídeo PCI for inicializada primeiro. Já Windows ME e 98 exigem que seja inicializada antes a placa AGP. E, tanto quanto me foi dado perceber, não há como alterar isso. No momento, a situação é a seguinte: Win98 e Linux, ainda, nem pensar. Tenho instalados e funcionando nos conformes apenas WinME e 2000, mas cada vez que alterno entre eles, antes de escolher o novo sistema no gerenciador de boot, tenho que acessar o setup para mudar a placa de vídeo a ser inicializada antes. E quando esqueço, arma-se tal cangancha que gasto pelo menos quinze minutos para reconfigurar tudo. Por isso ainda não decidi se mantenho os dois sistemas instalados. E, enquanto não o fizer, não posso instalar meus programas (estas mal traçadas estão sendo digitadas no fiel companheiro de viagens, o notebook). Esta é a última coluna do ano. Eu sei que seu tom é um tanto desesperançado. Espero que a primeira do próximo ano (na verdade, do próximo milênio) seja mais positiva. Será, se até lá eu já houver entendido porque sistemas operacionais desenvolvidos pela mesma empresa fazem exigências tão diferentes (e, a meu ver, tão descabidas) ao serem instalados na mesma máquina. PS: há alguns anos, depois de uma coluna semelhante, recebi de um leitor uma indignada mensagem dizendo que um caderno de informática deveria servir para resolver os problemas dos leitores e não para os colunistas relatarem os seus. Talvez ele tivesse razão. Mas ainda assim decidi perpetrar essa coluna. Fiz isso porque sei que muita gente pensa que eu sou um sábio capaz de destrinchar todos os mistérios dos computadores e, quem sabe, descobrir que há mistérios intransponíveis até para mim lhes sirva de consolo e estímulo (por outro lado, talvez sirva apenas para convencê-los que não sou tão sábio quanto pensam, o que também é verdade). Mesmo porque, sem minha máquina de trabalho, sem meus arquivos de dados, sem meus programas e sem minhas mensagens de correio eletrônico, o que me restava além de lamentar? B. Piropo |