Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
18/12/2000

< Querido Papai Noel... >


É Natal, época de pedidos. E começo com um insólito: de desculpas. Semana passada fiquei devendo os atalhos (“links”) para dois dos sítios que mencionei, o do ABCDrivers (em <www.abcdrivers.com.br>) e o do DLL Archive, em <http://solo.abac.com/dllarchive>). Felizmente, por obra e graça do competentíssimo webmaster Wagner Ribeiro, eles foram incluídos na versão eletrônica da coluna em <www.bpiropo.com.br>. Mas aos que procuraram no jornal e não acharam, ficam as desculpas.

Feito o primeiro pedido, digressionemos um pouco. Falemos de um cavalheiro que em 1987 tinha um XT que operava a 10 MHz com 512 Kb de memória RAM e monitor CGA de fósforo verde. Seria, para a época, uma bela máquina não lhe faltasse um disco rígido. Funcionava com um disquete (de 360K, vejam vocês!) contendo o sistema operacional e executáveis inserido no drive A e outro, para gravar os arquivos de dados, enfiado no drive B. Mas, acreditem ou não, dava para trabalhar com relativo conforto. Porém, evidentemente, um disco rígido faria uma diferença enorme.

O problema é que naqueles dias pairava sobre o Brasil a maldição da “reserva de mercado da informática”, um monstrengo concebido nos anos de chumbo pelos que pretendiam acelerar o desenvolvimento tecnológico do país para realizar seu (deles) sonho supremo de fabricar a bomba atômica, com o espúrio apoio da esquerda que, acreditando estar amparando a indústria nacional, permitia que meia dúzia de apaniguados da ditadura fabricassem equipamentos ultrapassados cuja venda em um mercado sem concorrência era garantida pela reserva. O resultado disso é que os discos rígidos “nacionais” eram caríssimos (um HD de 40 Mb custava o equivalente a quase dois mil dólares). E os importados eram proibidos: entrar no país com qualquer bem de informática, incluindo disquetes, do ponto de vista das autoridades aduaneiras era um crime tão grave quanto o contrabando de drogas.

Na ocasião, o cavalheiro em questão estava em Puerto Stroessner, uma cidade paraguaia que hoje se chama Cuidad del Leste e que, para quem se interessava por computadores, era um paraíso: lá, o mesmo HD de 40Mb custava menos de seiscentos dólares. O problema é que trazê-lo para o Brasil era crime e, embora precisando do HD, o honesto cavalheiro não era dado a práticas delituosas. Numa situação como aquela, como agir? Feito o exame de consciência, ele concluiu que crime maior estava sendo cometido pelas autoridades ao manter em vigor aquela lei do atraso, enfiou o disco rígido no bolso do casaco (o treco era do tamanho de um tijolo e pesava quase dois quilos, mas o bolso era grande), fez cara de inocente ao passar pela alfândega e, de volta ao lar, instalou afinal seu primeiro disco rígido.

Abstenho-me de declinar o nome do cavalheiro, que não sou besta nem nada e não sei quanto tempo leva o crime de contrabando para prescrever. E não contei essa história para ilustrar como leis iníquas desviam a conduta de probos cavalheiros, contei-a apenas porque sei que muitos de vocês jamais ouviram falar daquela lei e outros tantos dela já esqueceram – não obstante alguns de seus efeitos perversos ainda perdurarem quase dez anos depois de revogada. É claro que, mesmo hoje, a carga tributária que eleva os preços dos bens de informática até mais do dobro dos praticados no exterior ainda faz com que no Brasil a Internet seja um privilégio. Mas pior seria se a malfadada lei ainda vigesse.

Mas o que tem tudo isso a ver com o Natal? É que acabo de tomar conhecimento do projeto Brasil.com. Trata-se de uma iniciativa de Eliezer Batista e Raphael de Almeida Magalhães, apoiada pela Firjan, cuja proposta é eliminar a cobrança de impostos sobre bens de informática (desde impostos de importação até IPI e ICMS) e financiar sem juros ou a juros altamente subsidiados a compra de computadores. Se implantado, reduziria à metade o preço de um micro e em três anos a sofrida categoria dos sem computador perderia quase trinta milhões de membros. Neste período o Governo deixaria de arrecadar dez bilhões de reais em impostos mas, segundo os idealizadores do projeto, a receita tributária gerada pela simples existência dos novos computadores seria de 35 bilhões. Sem falar na imensa vantagem para o país ao sofrer um “choque de informatização” dessa magnitude, cujos efeitos positivos permeariam por toda a sociedade, aumentando a produtividade e reduzindo custos. Isto posto, lá vai meu pedido:

Querido Papai Noel: dê uma forcinha e ajude à dupla Raphael e Eliezer a convencer as autoridades, políticos e seja lá quem mais for necessário, a concretizar o projeto Brasil.com. Porque, dada a voracidade do Governo por impostos, sem sua ajuda acho meio difícil...

B. Piropo