Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
16/10/2000

< Associações >


A nova seção “Dica do Piropo” agradou. Pelo menos é o que indicam as mensagens que recebo. Dentre elas a do Benito Soldatelli que, além das congratulações, sugere a abordagem do tema “associação de arquivos”, ou seja, pede que eu explique como fazer para que o sistema operacional associe um determinado tipo de arquivo ao programa que o criou. Uma boa idéia que jamais ocorreria a quem, como eu, começou a trabalhar com o DOS em um tempo em que só se rodava um programa por vez e que cada um deles “sabia” exatamente que arquivos havia criado e em que diretório encontrá-los. Hoje, com sistemas operacionais multitarefa que enfiam todos os arquivos no mesmo saco (na verdade, na mesma pasta, a “meus documentos”) a coisa é diferente. Além do que a sugestão partiu de um cara chamado Benito e – se vocês desconheciam esta regra de ouro, aprendam-na agora e jamais a desobedeçam – nunca se deve ignorar o que diz um cara chamado Benito. Então, mãos a obra.

Programas trabalham com arquivos de dados, ou “documentos”. No início, a coisa era simples. Por exemplo: se o programa era um editor de textos, criaria arquivos de dados contendo texto (caracteres ordenados e sua respectiva formatação). Já se o aplicativo fosse um programa gráfico, os arquivos por ele criados conteriam imagens, (conjuntos de pontos e linhas de diferentes cores). E se fosse uma planilha eletrônica, conteriam valores e fórmulas. Mais tarde as coisas se complicaram. Os editores de texto passaram a incorporar imagens e outros elementos gráficos. E, com o advento da multimídia, surgiram os arquivos de áudio e vídeo. Depois veio a mistura disso tudo, com aplicativos permitindo acrescentar praticamente qualquer tipo de “objetos” a seus documentos, resultando em coisas incríveis como um arquivo de texto que incorpora vídeo e áudio. Porém, em princípio, os arquivos de dados, são reconhecidos e alterados apenas pelo programa que os criou. Isso deu origem ao conceito de “tipo” ou “formato” de arquivo.

Durante anos os programas têm usado sempre o mesmo recurso para identificar os tipos de arquivos por eles gerados. Basicamente idêntico ao que adotamos para designar nossos descendentes: batizá-los com um nome que identifica o indivíduo e um sobrenome que identifica a família. No caso dos arquivos, os “sobrenomes” são as extensões, cada uma correspondente a um tipo de arquivo. Nos tempos do DOS, algumas regras rígidas e uma série de restrições quanto aos caracteres usados para nomear arquivos faziam com que dar nomes significativos aos arquivos fosse uma arte arcana dominada por poucos. Em contrapartida, as regras eram rígidas porém simples: os nomes poderiam ter até oito caracteres que eram separados por um ponto de extensões com no máximo três caracteres (critério até hoje conhecido por “8.3”).

Windows acabou com isso e adotou o critério de “nomes longos”, com até 255 caracteres, inclusive espaços e pontos. O resultado é que um nome longo pode conter tantos pontos quantos se desejar. Na verdade, curiosamente, pode-se até mesmo batizar um arquivo apenas com pontos, desde que o nome tenha uma extensão (ou seja, pode-se criar um arquivo denominado “..txt”, onde o nome seria “.” – ou seja, apenas um ponto, já que o outro seria o separador – e a extensão seria “txt”).

Na verdade, ao que parece, a intenção original da Microsoft era acabar com o conceito de “extensões” como identificador de tipo. Presumivelmente ela  pretendia classificar arquivos usando outros critérios. No entanto, possivelmente por questões de compatibilidade, acabou desistindo da mudança. O resultado é que a coisa ficou em um meio termo, por sinal um meio termo bastante confuso. Os tipos de arquivos ainda são reconhecidos por suas extensões, mas há duas importantes diferenças: o tamanho das extensões não mais está limitado a três caracteres (a mais conhecida das extensões de mais de três caracteres é a “Html”, usada para identificar arquivos que podem ser exibidos pelos programas navegadores como Netscape e Internet Explorer) e o separador passou a ser apenas o último dos muitos possíveis pontos eventualmente existentes, já que os anteriores são encarados como parte do nome.

Semana que vem, entre outras coisas, veremos como esse critério esdrúxulo e pouco lógico, aliado a uma estranha diretriz da Microsoft de ocultar extensões (possivelmente envergonhada com a cangancha que ela mesma criou), é aproveitado pelos desenvolvedores de vírus para enganar os usuários incautos.

B. Piropo