< Trilha Zero >
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11/09/2000
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< Idéias sobre o futuro > |
Recentemente cometi a temeridade de aceitar um convite para proferir palestra sobre “O Futuro e a Tecnologia” e tenho navegado sofregamente pela Internet em busca de informações sobre o assunto. Portanto uma visita ao “The Next 20 Years” era inevitável. O TNTY é uma série de eventos que desde 1997 vêm se realizando anualmente em San Francisco, Los Angeles, Nova Iorque e Londres. Cada uma abriga uma sessão e em cada sessão três personalidades dispõem de dez minutos para expor sua visão do futuro – mais especificamente, de como será o mundo dentro de vinte anos. Em seguida começa o debate, durante o qual os expositores respondem a perguntas de um grupo de jornalistas convidados e da platéia. Os expositores são personalidades ligadas às áreas de ciência e tecnologia e vão desde responsáveis pelos laboratórios de pesquisa de indústrias de ponta até jornalistas e intelectuais interessados no assunto. Quem me falou do evento foi Jean-Paul Jacob durante a entrevista que o caderninho publicou há duas semanas (Jean-Paul foi um dos expositores da sessão de Los Angeles do TNTY 2000, realizada no último dia 30 de agosto sobre o tema “tecnologia e entretenimento”). O sítio oficial do TNTY fica em <www.tnty.com/>, porém melhores e mais suculentas informações são obtidas no sítio da Ziff Davis, que organiza e co-patrocina o evento, em <www.zdnet.com/special/filters/tnty/>. Lá pode-se encontrar detalhes das sessões, inclusive vídeos completos dos eventos anteriores. E vocês já podem imaginar em que tenho gasto minhas poucas horas de folga ultimamente (o vídeo da sessão de Los Angeles com a participação de Jean-Paul ainda não está disponível – espero que esteja breve – mas já pode ser visto o da sessão de San Francisco, realizada em 29 de junho passado). Cada vídeo dura cerca de hora e meia e se seu inglês é bom, dá para acompanhar mesmo com uma conexão via modem. Isso porque nenhum expositor (pelos menos nos muitos vídeos que acompanhei) apela para recursos audiovisuais e, quando a conexão torna-se mais lenta, a imagem fica prejudicada mas a qualidade do som se mantém aceitável (se bem que algumas vezes entrecortado). Ou seja: não é nenhuma maravilha, mas dá para entender perfeitamente mesmo se a conexão não for lá grande coisa. O simples fato de assistir, em minha casa, o vídeo completo de um evento realizado a milhares de quilômetros já tem um sabor de futuro. E, é claro, saber as opiniões de cada um dos palestrantes, gente que tem suas atividades diárias ligadas ao que há de mais avançado em ciência e tecnologia, é um bocado estimulante. Evidentemente suas visões do futuro têm muito em comum – como, por exemplo, a enorme importância que a biotecnologia assumirá nos próximos anos. Mas, dos que assisti até agora, o mais inesperado e instigante foi o de John Gage, da Sun, justamente porque abordou o tema ao revés. Enquanto os demais palestrantes se preocupam em mostrar como a tecnologia pode melhorar o mundo nos próximos 20 anos, Gage tocou em um ponto crucial que, se não é esquecido, é cuidadosamente ignorado pelos demais: como ela pode ser usada para piorar as coisas. Diz ele que um dos aspectos mais negativos da tecnologia é seu uso para “tornar visíveis coisas invisíveis”. Lembrou que a comunicação instantânea via satélite foi capaz de mostrar ao povo americano, ao vivo e em cores, os aspectos mais cruéis da guerra do Vietnam e isso culminou com o estabelecimento de uma censura tão severa durante a guerra do Golfo que, segundo Gage, os jornalistas a acompanharam dos bares. Disse ainda que, se você deixa seu celular permanentemente ligado, as autoridades podem localizá-lo todo o tempo. Citou a medida tomada recentemente pela polícia londrina que, em locais públicos de grande movimento, instalou câmaras de vídeo ligadas a computadores dotados de programas de reconhecimento de fisionomia para identificar fugitivos da justiça. Gage lembrou que hoje, nas grandes cidades, o cidadão comum é filmado dezenas de vezes por dia nos elevadores, salas de espera, bancos, cruzamentos, lugares públicos, entradas de hotéis, corredores de prédios, enfim, em toda parte onde, em nome da “segurança”, foram instaladas câmaras de vídeo. A disseminação dessas câmaras aliada ao aperfeiçoamento da tecnologia de reconhecimento de fisionomias fará com que, brevemente, todo governo esteja capacitado a reconstituir os passos de cada cidadão 24 horas por dia. Assustador, nénão? B. Piropo |