Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
24/04/2000

< Réquiem para o DOS >


DOS é o acrônimo de "Disk Operating System", ou Sistema Operacional de Disco, um "programa que administra programas". Carregado ao se ligar a máquina, ele é responsável pela carga dos demais programas e por sua interação com o hardware. Hoje em dia o sistema operacional usado pela maioria de nós é uma das versões de Windows, mas antigamente quem ocupava este posto era o DOS, um sistema desenvolvido para o primeiro PC lançado pela IBM em 1981. Um micro que usava um processador (ou CPU) totalmente obsoleto para os padrões atuais, o 8088 da Intel. Por ter sido desenvolvido especificamente para o 8088, as deficiências do DOS são congênitas. Por mais que tenha evoluído nesses quase 20 anos (e evoluiu um bocado), ele ainda carrega consigo algumas das limitações intrínsecas do 8088.

As CPUS, por sua vez, também evoluíram. Mas nenhum microprocessador da Intel foi tão revolucionário quanto o 386 lançado em 1984. Mas não foi isso que garantiu seu sucesso: o que realmente fez suas vendas explodirem foi o chamado "modo 8086 virtual" e a capacidade de retornar do chamado "modo protegido" para o "modo real" sem reinicializar a máquina. Poupando-os dos detalhes e indo diretamente ao que importa: ambas as facilidades tinham a ver com o DOS. A primeira permitia que diversos programas DOS rodassem simultaneamente sem interferirem uns com os outros e a segunda admitia rodar o DOS concomitantemente com um sistema operacional multitarefa (ou seja, que permite executar diversos programas ou tarefas ao mesmo tempo). Em resumo: foi a compatibilidade com o DOS que garantiu o sucesso do 386. Naquele tempo, se não rodasse DOS, não vendia.

Depois do DOS veio o Windows. Sua primeira versão a fazer sucesso foi a 3.0. Um sucesso devido fundamentalmente à possibilidade que oferecia de rodar programas DOS. É claro que o fato de ter uma interface gráfica e abandonar a linha de comando ajudou, como ajudou a padronização de programas e menus. Mas antes houve outras tentativas similares, todas malsucedidas porque não rodavam programas DOS.

Quando a MS desenvolveu Windows NT, fê-lo pensando no mercado corporativo. Por isso privilegiou a estabilidade sobre a compatibilidade. O resultado é que Windows NT é o sistema operacional mais estável da MS, mas para rodar programas DOS é uma desgraça. Essa é a principal razão pela qual não somente a MS mantém no mercado a linha Windows 9x como continua a atualizá-la (a nova versão, Millenium, vem aí). Quer dizer: ainda ontem, se não rodasse DOS, não prestava.

Parecia que o DOS jamais morreria.

De fato, eu sempre acreditei nisso piamente. Uma crença renovada pelas aflitas mensagens que volta e meia recebo de leitores indagando como resolver conflitos entre o DOS e suas máquinas. Em geral, a solução depende da inclusão de linhas de comando nos dois arquivos de configuração do DOS, o Config.Sys e o Autoexec.Bat. Windows 9x não precisa destes arquivos, mas manteve a ambos com suas funções originais exclusivamente por questões de compatibilidade com o DOS.

Pois bem: esta semana encontrei em minha caixa postal a mensagem de um leitor reclamando que seu teclado funciona perfeitamente sob Windows mas se comporta de modo estranho e se recusa a acentuar sempre que ele abre uma janela DOS. A razão é simples: Windows reconhece o teclado e age de acordo, mas quando se abre uma janela DOS, carrega-se na memória uma cópia do próprio DOS, que então assume o controle e precisa ser informado das características do teclado através da inclusão dos comandos adequados nos arquivos de configuração. Então vamos lá, pensei eu. Mas, em vez de consultar alfarrábios, melhor abrir meus próprios arquivos de configuração, copiar deles as linhas de comando e colá-las na resposta. Abri, e as linhas não estavam lá.

Mas que diabo estaria ocorrendo? Como essa maldita máquina consegue acentuar em uma janela DOS sem os competentes comandos nos arquivos de configuração? Que mistério é esse? Verifiquemos: abri uma janela DOS e tentei. E como a lógica raramente falha, o resultado não poderia ser outro: não acentuou.

Quer dizer: aqui estou eu com uma máquina na qual o sistema operacional foi instalado há mais de um ano, sem suporte para meu teclado sob DOS. E eu, que a uso diariamente, horas a fio, sequer me havia dado conta disso.

Sei não, mas se isso não é um prenúncio seguro da morte do DOS, então não faço idéia do que seja.

B. Piropo