< Trilha Zero >
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03/01/2000
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< Arrobas: a origem > |
Em setembro do ano passado, na coluna “Nosso amigo @rroba”, Carlos Aberto Teixeira, emérito fuçador das entranhas da Internet, explicava que o símbolo “@” usado para unir o nome do usuário ao do provedor nos endereços de e-mail foi escolhido por Ray Tomlinson, o desenvolvedor do primeiro programa de correio eletrônico, ainda nos tempos da avó da Internet, a Arpanet. E dizia que a escolha era óbvia porque em inglês o símbolo “@” representa “em”, portanto [email protected] indica que o usuário fulano está “em” tal provedor. E dizia ainda o CAT que em português o mesmo símbolo significa “arroba”. O que está indiscutível e absolutamente correto. Mas o que CAT não disse, e que já há muito vinha me encafifando, foi o porquê. Ou melhor, os porquês. Por que o sinal “@” em inglês significa “em”? Por que em português o mesmo sinal significa “arroba”? Qual a origem do símbolo? E da palavra “arroba”? Onde começou a ser usada esta unidade de peso? Pois se você também tem essa curiosidade, prepare-se para saciá-la. Primeiro, falemos da arroba. O que é uma arroba? Bem, arroba é uma unidade de peso cujo emprego se originou na Espanha e que, em virtude disso, é usada principalmente nos países de língua espanhola e portuguesa. Há exceções, porém: na vizinha França usa-se a “arobase” (ou “arobace”) e na Índia usou-se uma arroba de 28 arratéis (provavelmente por influência de Portugal, embora nas terras lusitanas a arroba valha 32 arratéis). Uma arroba corresponde à quarta parte de um quintal. Como um quintal tem cem libras espanholas ou 128 arratéis, uma arroba vale 25 libras ou 32 arratéis. A conversão de arroba para quilograma varia de região para região: na Espanha uma arroba vale 11,5 kg, na França 12,78 kg, em Portugal e no Brasil 14,79 kg (geralmente arredondados para 15 kg). Seu nome deriva do fato dela valer a quarta parte de um quintal, pois nos idiomas semitas como o árabe e o hebreu, a raiz “arb” significa “quatro” (em árabe, “quatro” é “arroub”). E ela foi criada na época em que a influência da cultura árabe na Península Ibérica era expressiva. E quanto ao símbolo “@”, que nome recebe nos diversos países? Bem, em muitos deles o símbolo ganhou o nome a partir de sua forma – sinal seguro que não teve origem em nenhum deles (faz sentido: o modo mais natural de batizar um símbolo desconhecido é se referir a seu formato, como o nome popular “tralha” usado para o símbolo “#” cujo nome culto é “cerquilha”). Por isso em italiano “@” tem o nome de “chiocciola” (derivado do latim “coclea”) que significa “caracol”. E em alguns países assumiu nome de partes de animais com que se parece: rabo de macaco em holandês (“apestaart”) e alemão (“Klammeraffe”) ou tromba (de elefante) em sueco (“snabel”). Já em outros locais toma o nome de um doce ou confeito de formato circular ou espiralado, como uma rosca ou pão doce: na República Tcheca (“zavinac”), em Israel (“shtrudel”), na França (“rouleau”, além de “arobase”, mas este último derivado de arroba), na Áustria (“strudel”), na Suécia (“kanelbulle”, denominação alternativa a “snabel”) e, em diversos países da Europa, “pretzel”. Mas derivar o nome a partir da forma denota apenas a ignorância da verdadeira origem do símbolo. Um fato significativo, porém, é que na maioria desses países seu nome "oficial" é “em comercial” (da mesma forma que o do símbolo “&” é “e comercial”), denotando o mesmo sentido do “at” em inglês. Mas de onde vem este “at”? A razão remonta à idade média. Uma época em que os livros eram escritos à mão pelos copistas. Que, com o intuito de simplificar o trabalho, adotavam símbolos para reduzir o numero de letras a serem copiadas. Por exemplo: sempre que havia um “m” depois de um “a” ou de um “o”, substituíam-no por um sinal sinuoso acima da letra, mais fácil e mais rápido de ser escrito – o que deu origem ao til. Também para simplificar, quando tinham que copiar a conjunção “et” e a preposição “ad”, ambas latinas e que significavam, respectivamente, “e” e “em”, entrelaçavam as duas letras que as formavam. Assim, “et” virou “&” e “ad” virou “@”. Esta foi a gênese do "@". Mas o que tudo isso tem a ver com a arroba? Bem, para descobrir vocês terão que esperar até a semana que vem. Mas não fiquem aflitos: afinal, se sobrevivemos ao bug deste ano, sobreviveremos mais uma semana.
B. Piropo |