Os jovens que cresceram em um mundo com Internet, telefones espertos e computadores portáteis acham que as tecnologias "são para sempre". Mas elas surgem e desaparecem mais rapidamente do que se imagina. Telefones de discos já eram, discos de vinil se foram, TVs com tubos de imagens logo desaparecerão e o mesmo acontecerá com os telefones espertos ("smartphones") dentro de alguns anos. Então telefones móveis voltarão simplesmente a "falar", se é que não serão substituídos por algo diferente também para este fim. Mas não mais será com eles que receberemos mensagens de texto e acessaremos a Internet.
Acha improvável? Não consegue divisar o que os substituirão? Ou pensa que serão os já famosos óculos Google que projetarão imagens em suas lentes? (nunca ouviu falar? Pois seu lançamento está programado para o próximo ano e uma pesquisa no próprio Google com a expressão "google glass" revelará muito sobre eles). Pois eu acho que será algo mais sutil.
Há exatamente duas semanas o Centro Interuniversitário de Microeletrônica (IMEC), uma instituição internacional, anunciou que uma equipe de pesquisadores liderada por Jelle De Smet de seu Centro de Tecnologia de Microsistemas (CMST) da Universidade de Ghent (UGent), na Bélgica, usando polímeros condutores moldados em uma finíssima superfície esférica constituída de diferentes camadas ativas, "desenvolveu um inovador 'display' de LCD com curvatura esférica que pode ser encaixado em lentes de contato". E acrescenta que este é o primeiro passo para a produção de lentes de contato totalmente "pixeladas" (que me desculpem os que, como eu, respeitam nosso idioma, mas não consegui outro termo que significasse "constituída de pontos luminosos coloridos de intensidade variável").
As tentativas anteriores de fabricar uma lente de contato para gerar imagens eram baseadas em diodos emissores de luz (LEDs), que limitavam a imagem a uma pequena quantidade de pontos. A tecnologia de tela de cristal líquido (LCD) permite o uso de toda a superfície da lente para expor imagens, o que abre novas possibilidades que vão desde o uso de lentes cobertas por pontos que mudam de cor e intensidade para proteger a visão do excesso de luminosidade e outros fins médicos, até uma lente recoberta por pontos multicoloridos capazes de gerar uma imagem complexa superposta àquela obtida pela visão normal. O protótipo, exibido durante o lançamento e mostrado na figura (obtida no próprio sítio da UGent, em < http://www.ugent.be/en/news/bulletin/augmented-reality-contact-lens >), mostra apenas um cifrão piscante, como aquele que aparece nos olhos dos personagens de animações quando pensam em dinheiro (na mesma página pode ser observado um vídeo que mostra o dispositivo em funcionamento). Mas os pesquisadores declaram que, futuramente, a tecnologia ensejará a fabricação de telas combinadas a lentes de contato eletrônicas, autônomas, capazes de exibir imagens altamente complexas – embora advirtam que será necessário ultrapassar muitos obstáculos até que estes dispositivos sejam efetivamente lançados no mercado.
Quando isto ocorrer as telas dos telefones espertos tornar-se-ão obsoletas. Mensagens de texto aparecerão, literalmente, diante de nossos olhos. Comentários das redes sociais serão visíveis apenas a quem os recebe – e certamente haverá de se desenvolver alguma forma de respondê-las, talvez com um piscar de olhos. E os professores e palestrantes terão que caprichar muito para disputar a atenção da turma ou plateia com a novela das oito.
Porém, maravilha das maravilhas, quando eu olhar para uma pessoa que sei que conheço mas cujo nome não me vem à memória (e vocês não imaginam com que frequência isto ocorre), a imagem de seu rosto será de alguma forma capturada, submetida a um programa de reconhecimento facial e o nome da pessoa e demais características relevantes aparecerão diante dos meus olhos como se jamais eu os tivesse olvidado. Este é meu maior sonho...
Figura 1