Comecei esta série de colunas sobre o Google Docs há cerca de dois meses. Naquela ocasião o serviço prestado pela empresa Google era um exemplo típico de SaaS ("Software as a Service" ou Software oferecido como um serviço). Quem usava apenas o Google Docs para criar, editar e armazenar seus documentos poderia passar meses sem recorrer a qualquer das funções e facilidades oferecidas pelo sistema operacional da máquina exceto os procedimentos de inicialização, desligamento e carga do programa navegador. Todo o resto era feito usando exclusivamente as funções deste navegador. Inclusive edição de documentos, planilhas e apresentações. Tudo, tanto arquivos quanto as funcionalidades de edição, permaneciam "na nuvem" (nos servidores da Google) e absolutamente nada era instalado no computador local. A máquina – qualquer máquina a que o usuário tivesse acesso e se conectasse à Internet – funcionava apenas como ferramenta de acesso aos arquivos e uso dos aplicativos oferecidos.
Pois bem: há algumas semanas – mais precisamente na derradeira semana de abril passado – a empresa Google introduziu algumas modificações radicais nos serviços do Google Docs. Tão radicais que levaram a empresa a mudar o nome do serviço para "Google Documentos".
Quem usa rotineiramente o serviço certamente notou que agora, no topo da página inicial do Google Docs, aparece um aviso informando que "Em breve, o Google Docs será atualizado para Google Drive. O Google Drive será o novo local para armazenamento de seus arquivos". E verá o atalho ("link") "Saiba mais e dê os primeiros passos" informando como funciona e como fazer para aderir (o que, tanto quanto eu saiba, em breve será obrigatório) ao novo serviço.
Caso o usuário opte por aderir imediatamente, mudará para o "Google Documentos" e certamente notará algumas mudanças. Mas talvez ache que eu exagero ao classifica-las como "radicais". Até se dar conta que elas implicam a instalação de um software, o Google Drive, na máquina do usuário, o que contraria o próprio conceito de SaaS onde "tudo fica na nuvem".
O Google Drive (que oferece uma versão para cada sistema operacional), ao ser transferido e instalado, cria uma pasta no disco rígido local e nela copia (gratuitamente, até o limite de cinco GB) o conteúdo até então armazenado apenas na nuvem: documentos e coleções. Isto feito, a pasta Google Drive será um espelho do espaço de armazenamento do Google Docs na nuvem. Clicar em um de seus ícones faz o objeto correspondente se abrir para edição dentro do navegador – o que exige uma conexão à Internet (pois mesmo considerando que seabriu uma cópia armazenada no disco rígido local, o software de edição continua nos servidores do Google; tanto quanto me foi dado perceber, o Google Drive oferece um meio para que você visualize o conteúdo dos arquivos se não estiver conectado, mas não permite alterá-los).
Todo arquivo arrastado para a pasta Google Drive do computador será sincronizado com oarmazenamento na nuvem e convertido para o formato usado pelo software de edição (os documentos de texto ganharão a extensão ".gdoc" e as planilhas ".gsheet"). É possível então usar o gerenciador de arquivos do sistema operacional para organizarobjetos na pasta Google Drive. Mas, além disto, pouco ou nada se pode fazer nela: toda edição deve ser feita no programa navegador. Ao contrário de serviços similares, como o Dropbox, o Google Drive não insere uma entradano menu de contexto dos objetos contidosem sua pasta. A integração com o sistema operacional é mínima e vai pouco além de permitir mover ou remover arquivos e criar pastas em seu interior (e sincronizar tudo isto com a nuvem, evidentemente).
Pelo que percebi o novo Google Documentos não passa do Google Docs de sempre que, agora, guarda na pasta Google Drive do disco rígido local uma cópia do conteúdo do espaço de armazenamento na nuvem e as sincroniza. E manteve na nuvem o software de edição.
Difícil analisar o serviço agora, pois me parece que ainda é uma obra em andamento em seus estágios iniciais. A mim, a coisa pareceu meio crua. Mas vamos dar o crédito que a empresa merece por tudo o que tem feito e esperar melhorias. Por enquanto eu considero o Google Drive um produto promissor, mas ainda em estágio beta. É esperarpara ver no que dá.