Afinal alguma coisa realmente nova aparece no campo dos microprocessadores: a família Fusion da AMD, cujos primeiros membros foram lançados com a devida pompa e circunstância pela empresa na CES, gigantesca feira de eletrônicos realizada este mês em Las Vegas.
Fusion não é uma unidade central de processamento (UCP), embora pareça. Também não é uma Unidade Gráfica de Processamento (UGP), embora incorpore uma. Fusion é a designação genérica de um novo conceito de processadores, na verdade uma nova concepção de arquitetura que incorpora em uma mesma pastilha de silício (“die”) um (ou mais) núcleo(s) capaz(es) de efetuar o chamado “processamento escalar”, típico das UCPs, e um (ou mais) núcleo(s) capaz(es) de executar o chamado “processamento vetorial”, típico das UGPs, além de outros componentes que tradicionalmente ficariam de fora da unidade de processamento, como controlador da memória, decodificador gráfico e controladores de barramento PCI-E.
Segundo a AMD, Fusion configura uma nova classe de processadores que deverá ser conhecida como Unidade de Processamento Acelerado (APU, de “Accelerated Processing Unit” em inglês; como escrevo em português e respeito meu idioma, tomarei a liberdade de me referir a ela pela sigla “UPA”). Conceitualmente não se trata simplesmente de incluir de um núcleo (“core”) especializado em processamento vetorial e dedicado especificamente a gráficos (ou seja, uma UGP) no mesmo encapsulamento dos núcleos de uma unidade de processamento escalar (UCP). Isto já foi feito pela Intel com escasso sucesso. O conceito que está por detrás do Fusion vai além: o núcleo de processamento vetorial não é uma unidade independente: é fundido na mesma pastilha (“die”) que contém os núcleos da UCP, o que faz enorme diferença no que concerne à integração entre núcleos (tanto assim que “Sandy Bridge”, a próxima arquitetura a ser lançada provavelmente ainda este ano pela Intel, obedece ao mesmo conceito).
As duas primeiras unidades da classe Fusion que a AMD entregou ao mercado integram uma plataforma composta por UPAs de baixa potência (“Low Power APUs”), desenvolvidas tendo em mente o mercado de computadores portáteis tipo “tablets”, “netbooks” e “notebooks”. Ambas adotam a arquitetura conhecida por “Brazos”. A diferença é que uma delas, a de nome comercial “C-Series” (nome de código Ontario e com dois exemplares, o C-50 rodando a 1 GHz porém com dois núcleos, e o C-30, de núcleo único mas rodando a 1,2 GHz), se destina a unidades de pequeno porte como “netbooks” e “tablets” devido a seu menor desempenho, porém baixíssimo consumo de energia de míseros 9W, enquanto a outra, de nome comercial “E-Series” (nome de código Zacate, também com dois exemplares, o E-240 de núcleo duplo e 1,6 GHz e o E-250 de um só núcleo e 1,6 GHz) destina-se a equipar máquinas de mesa de pequeno porte, “notebooks” e os novos “all-in-one” sobre os quais falei semana passada na coluna “Pergunte ao Piropo”. Também a “E-Series” se caracteriza por uma baixa dissipação de energia, apenas 18W. Ambas as séries já estão disponíveis e alguns fabricantes, como a Lenovo e HP, já anunciaram para breve o lançamento de modelos equipados com uma destas UPAs.
Desta vez parece que a AMD se antecipou à Intel. O alvo direto da plataforma Brazos é o Atom, da concorrente, e a julgar por artigo de Sean Portnoy publicado na ZDNet, testes comparativos de desempenho mostram que as novas UPAs são claramente superiores aos Atoms de mesma classe. Além disto, proporcionam uma duração de bateria de dez horas, uma façanha.
Agora e esperar pelo lançamento das UPAs mais poderosas, prometidas para meados deste ano pela AMD, e pelos primeiros exemplares da nova “Sandy Bridge”, da Intel, mais ou menos na mesma época. Uma briga de cachorro grande da qual podemos, desde já, antecipar os vencedores. Que seremos nós, os usuários, os maiores beneficiados pela concorrência entre as grandes empresas. Que bom saber que, pelo menos desta vez, vamos levar vantagem...
B.
Piropo